Plataformas socioambientais do IPAM: desenvolvendo códigos para traduzir o ambiente

Para cada fim existe um meio — e, quando este ainda não existe, por vezes cabe a nós, setor de desenvolvimento do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), criá-lo.

Por meio da programação, a equipe tem como missão desenvolver ferramentas para os diversos projetos e iniciativas do IPAM. Essa missão se concretiza, entre outras formas, através do desenvolvimento de plataformas, APIs (interfaces de programação de aplicativos), aplicativos e bancos de dados.

Informações direto ao ponto sobre o que realmente importa: assine gratuitamente a JOTA Principal, a nova newsletter do JOTA

As soluções desenvolvidas tornam-se instrumento nas ações do IPAM, fornecendo cálculos precisos e visualizações detalhadas sobre as emissões e estoques de carbono, como no caso do CCAL (Calculadora de Carbono), oferecendo base sólida para fiscalização da aplicação da lei, no caso do Termômetro do Código Florestal, e fornecendo subsídios e conhecimentos para aplicação de políticas e destinação de orçamentos no caso do SOMUC (Sistema de Observação e Monitoramento de Unidades de Conservação) e do SOMAI (Sistema de Observação da Amazônia Indígena).

Em termos cronológicos, a primeira etapa desses processos é a conceitualização: nesse momento se define a intenção da plataforma — o que ela busca atingir, quem é seu público-alvo, qual a escala esperada e quais serão suas necessidades em termos de recursos, sejam eles de infraestrutura ou dados a serem levantados.

Uma vez que a ideia está bem consolidada, o próximo passo é o desenvolvimento de seu conceito visual. O design é parte fundamental do processo: é ele que estabelece uma identidade visual específica, define o fluxo de ações e garante a melhor usabilidade para o público-alvo. Além do aspecto estético, essa interface também é responsável por receber dados, organizá-los para visualização e enviar as informações geradas durante o uso.

Em paralelo a esse processo mais visual voltado para o usuário, que recebe o nome de Front-end, existe uma outra frente de trabalho mais silenciosa, o Back-end. Essa frente consiste, em parte, na construção das APIs, do inglês Application Programming Interface. Essas interfaces funcionam como pontes que conectam diferentes partes do sistema e permitem o acesso e o trânsito de dados.

O trabalho de Back-end também é ponto importante, pois é ele que dá sentido ao design, envolvendo a modelagem e gestão de bancos de dados e garantindo que as informações estejam armazenadas de forma estruturada, segura e acessível. Além disso, também está sob sua supervisão uma parte considerável da lógica de negócios, das regras que governam o funcionamento da aplicação e dos mecanismos que assegurem sua escalabilidade e robustez.

Por fim, é impossível falar sobre o acesso às ferramentas desenvolvidas sem destacar o papel dos aplicativos móveis. Eles são fundamentais em um contexto onde o acesso à informação precisa ser rápido, prático e disponível on demand (sob demanda), especialmente considerando a atuação do IPAM em diferentes territórios e realidades.

O desenvolvimento de aplicativos móveis, no entanto, apresenta desafios próprios, por se tratar de um ambiente mais volátil que o usual, marcado por uma enorme diversidade de dispositivos — com variações de tamanho, marca, sistema operacional, capacidades de hardware, dentre outros aspectos. Com a constante evolução desse ecossistema, as aplicações precisam ser igualmente dinâmicas, adaptando-se rapidamente para garantir desempenho, compatibilidade e uma boa experiência de uso em qualquer contexto.

Até agora, foi descrito um panorama geral das tecnicalidades envolvidas no processo de desenvolvimento. No entanto, existem duas camadas adicionais de complexidade que merecem atenção: segurança e qualidade.

A primeira preocupação se manifesta especialmente no contexto da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). É responsabilidade da equipe de desenvolvimento garantir que todas as soluções estejam em conformidade com essa legislação — o que inclui proteger os dados pessoais dos usuários, implementar mecanismos de controle de acesso, assegurar a transparência no tratamento das informações e prevenir vazamentos ou acessos indevidos.

A segunda preocupação está relacionada à qualidade do produto entregue pelo IPAM. Como o processo de desenvolvimento envolve múltiplos colaboradores, é essencial garantir a consistência e a integridade do que é construído ao longo do tempo.

Para isso, a equipe segue uma série de boas práticas que garantem qualidade e segurança, usando tecnologias modernas e estruturas organizadas em diferentes etapas: desenvolvimento, homologação e produção.

Cada um desses ambientes cumpre uma função específica. O ambiente de desenvolvimento permite a criação e testes iniciais das funcionalidades; o de homologação possibilita a validação das implementações em conjunto com a equipe do projeto; e o de produção é o ambiente final, acessado pelo público, onde a aplicação opera oficialmente.

Essa estrutura garante que o processo seja mais seguro, previsível e colaborativo — permitindo o acompanhamento em tempo real das implementações e correções, antes que qualquer alteração impacte os usuários finais.

Esse cuidado tem gerado impacto e sido reconhecido por premiações nacionais. Em 2016, o IPAM foi um dos vencedores do Desafio de Impacto Social Google, com o Alerta Clima Indígena, um aplicativo voltado a levar análises e previsões sobre eventos climáticos extremos à comunidades indígenas da Amazônia. Desenvolvido em parceria com os próprios povos indígenas, o app se integra ao SOMAI e permite tanto o acesso a dados climáticos atualizados quanto a inserção de informações coletadas em campo pelas comunidades.

Já no final de 2020, o aplicativo Alerta Indígena Covid-19, desenvolvido em parceria com a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), foi um dos vencedores do Prêmio Empreendedor Social do Ano, promovido pela Folha de S.Paulo e pela Fundação Schwab.

A ferramenta, construída em resposta à pandemia, mapeia o avanço da Covid-19 em um raio de 100 km ao redor de cada terra indígena, com base em dados oficiais e relatos das próprias comunidades. Além de informar, o aplicativo permite o registro de novos casos, contribuindo para combater a subnotificação e orientar ações de prevenção. A iniciativa alcançou mais de 480 mil pessoas na região amazônica.

Em 2022, o próprio Alerta Clima Indígena foi novamente reconhecido, dessa vez no campo acadêmico. A dissertação “O aplicativo Alerta Clima Indígena: digitalização das Terras Indígenas à luz da Ecologia da Comunicação”, de Clarissa da Silva Rayol (UFPA), foi a vencedora do Prêmio Compós de Teses e Dissertações Eduardo Peñuela, promovido pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação.

A pesquisa analisa o papel do aplicativo na digitalização e na autonomia das comunidades indígenas, destacando suas arquiteturas interativas, o respeito à LGPD e os processos colaborativos vivenciados entre o IPAM e organizações indígenas.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.