A nave espacial chamada COP

COP significa Conferência das Partes, instância de negociação entre países. As mais conhecidas são as COPs de Clima, que terá neste ano, em Belém, a edição de número 30.

Quando comecei como Champion da COP 25, chamou minha atenção que os negociadores falassem do “real world” (mundo real) para tratar o que ocorre na economia e na sociedade. Como se o lugar deles fosse parte de outro planeta.

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A verdade é que a COP ocorre no território ONU (Organização das Nações Unidas), numa área que o país anfitrião cede durante duas semanas.

COP é uma espécie de nave espacial que se posiciona sobre a Terra, um local exclusivo para representantes negociadores, com organizações autorizadas a observar o processo – normalmente de ONGs globais.

Cada nave espacial é dirigida por um secretário(a)-executivo(a), quem garante que a nave cumpra seu objetivo e que os procedimentos sigam as regras.

No caso da nave climática, um país assume a presidência a cada ano, alternando entre cinco macrorregiões geográficas (África, Ásia, Europa Oriental, América Latina + Caribe e Europa Ocidental + outras).

O país anfitrião designa também um presidente da COP que irá liderar as negociações. Essa pessoa facilita, dialoga e consulta todas as partes, além de liderar as negociações sobre as questões prioritárias a serem abordadas. Atualmente, as COPs ambientais reúnem de 20 mil a 100 mil pessoas em um período que varia de 10 a 21 dias.

As regras são rigorosas e a linguagem é extremamente técnica, repleta de nuances legais, para que todos fiquem confortáveis ​​com o resultado. A regra para a tomada de decisões é baseada no consenso.

Historicamente, o resultado fica no texto oficial, onde as nações e as COPs, supostamente, enviam mensagens para a sociedade evoluir. A geopolítica complicou as coisas, e espera-se que a implementação de ações ocorra mais rapidamente do que o multilateralismo atual parece oferecer.

Em certos casos, a nave conseguiu estruturar uma forma específica de conexão com o mundo real, via uma espécie de elevador onde as experiências específicas da sociedade podem subir ou descer da nave.

Esse elevador é chamado de Agenda de Ação. E no caso do clima, essa agenda foi criada na COP 21 como parte do Acordo de Paris. O papel de Champion foi liderar e coordenar este elevador, que na COP 22 foi chamado Parceria de Marrakech.

Diversas inovações, compromissos, programas e campanhas nasceram da Agenda de Ação, servindo como referência para implementações nos setores empresarial, financeiro, municipal, acadêmico e cultural.

Em outras reuniões menos históricas (Biodiversidade, Desertificação, Poluição Plástica), houve progresso, a ponto de a COP 16 sobre Desertificação ter conseguido, em 2024, o desenho da Agenda de Ação de Riad como um elevador que conecta o navio com a capacidade e a necessidade de a economia real de avançar para deter a degradação do solo, combater a seca e dar sustentabilidade à produção de alimentos.

Para Belém, a Agenda de Ação é algo que ganhará muita relevância e atenção. É sabido que não temos mais tempo para discussões. O que precisamos fazer é implementar todas as soluções que conhecemos, de forma acelerada.

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