Bolsonaro modera, mas é Moraes quem imprime o ritmo do futuro do ex-presidente

O ex-presidente Jair Bolsonaro realmente não “lacrou” conforme tinha prometido. Foi moderado nas respostas, abaixou o tom costumeiro e não dobrou a aposta contra o ministro Alexandre de Moraes. O ex-presidente estava confortável na posição de que seria interrogado pelo ministro, mas ele não poderia rebater suas falas de forma direta devido à natureza do interrogatório, que é o momento dos réus trazerem suas versões sobre os fatos ao processo.

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Bolsonaro aproveitou para fazer elogios à sua gestão, à sua escolha ministerial e ao seu projeto de país. Quase como um discurso de campanha dentro do STF, falou que levou água para o Nordeste, dobrou o valor do Bolsa Família, criou o Pix e defendeu a pauta armamentista.

Mesmo em um tom mais moderado, o ex-presidente voltou a dizer que sofreu perseguição do STF durante o seu governo, o que atrapalhou a gestão do país. “Uma ação por semana no STF”, afirmou. Ainda disse: “não me viram desrespeitar ações judiciais”. Sobre as intervenções do STF, citou a impossibilidade de abaixar o preço dos combustíveis e a derrubada de conteúdos em redes sociais. Também disse que sempre foi defensor do voto impresso e que pode tecer críticas ao sistema eletrônico de votação. Ainda, disse que a ditadura militar de 1964 foi aclamada por setores sociais.

No Supremo, Bolsonaro usou o discurso do perseguido por combater a corrupção e por sua pauta de costumes. Disse que enfrentou as críticas da imprensa porque cortou verbas dos veículos de comunicação e precisava cumprir o teto de gastos imposto ainda no governo de Michel Temer. E, claro, o ex-presidente também repetiu o seu mantra “sempre joguei nas 4 linhas da Constituição”.

O interrogatório foi um espaço importante para Bolsonaro se impor no jogo político e reforçar sua relevância no xadrez eleitoral de 2026. Contudo, do ponto de vista jurídico, quem continua com as cartas é o ministro Alexandre de Moraes. O magistrado acionou o modo turbo nos interrogatórios e terminou as falas de todos os réus no segundo dia, embora já tivesse reservado a semana toda para as escutas.

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No fim, Moraes autorizou que os réus voltem a se comunicar e já abriu prazos para as partes pedirem eventuais esclarecimentos e/ou diligências nos próximos 5 dias. O próximo passo são as alegações finais e ao encerrar essa fase, já será possível marcar o julgamento que pode condenar ou absolver os réus. Pelos prazos, deve ser possível agendar o julgamento a partir do final de agosto e início de setembro. Assim, tudo caminha como a previsão do relator de terminar esse julgamento ainda em 2025, diminuindo impactos e ruídos nas eleições de 2026.

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