Se você é daquelas pessoas que se preocupam em saber que há, neste exato momento, 7.669 objetos circulando a cerca de 27.000 km/h na órbita baixa da Terra, ou seja, entre 340 km e 550 km acima da sua cabeça, então um estudo recente, liderado por cientistas do Goddard Space Flight Center da NASA, vai tirar o seu sono de vez.
Publicado na revista Frontiers in Astronomy and Space Science, o artigo demonstra que o aumento da atividade do ciclo solar atual está derrubando os satélites da rede Starlink, de Elon Musk, por intensificar o arrasto atmosférico nas camadas superiores da atmosfera. Ou seja, aumentar a resistência do ar, fazendo esses objetos perderem altitude e despencarem.
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Trata-se de uma combinação crítica na pesquisa de arrasto orbital de satélites. Como “o número de satélites em órbita baixa da Terra e a atividade solar são os mais altos já observados na história da humanidade”, diz o artigo, “mostramos claramente que a intensa atividade solar do ciclo solar atual já teve impactos significativos nas reentradas do Starlink”.
Aumento da atividade solar e análise dos satélites Starlink

A equipe de cientistas, liderada pelo físico espacial brasileiro Denny Oliveira, do Goddard Space Flight Center da NASA, analisou 523 satélites Starlink que retornaram à Terra nos primeiros anos da fase ascendente do ciclo solar 25 e encontrou uma correlação evidente entre reentradas antecipadas na atmosfera e a intensificação da atividade solar.
O ciclo solar normal é um período de aproximadamente 11 anos marcado pela reversão magnética dos polos do Sol, e manifestado por manchas, erupções e ejeções de massa coronal. O ciclo atual, o 25º, está tendo um pico muito mais ativo do que o previsto, com incremento de fenômenos como auroras e aquecimento incomum da atmosfera superior.
O aumento da atividade solar eleva o arrasto atmosférico (resistência) obriga as espaçonaves a aprimorarem suas manobras de correção orbital para manter altitude e estabilidade. Todos os satélites em órbita baixa da Terra são vulneráveis a essa influência solar. Objeto do estudo atual, a SpaceX lançou 8.873 unidades da constelação Starlink, das quais 7.669 permanecem operacionais.
Principais conclusões e implicações do estudo

Para avaliar os impactos de tempestades solares de intensidades variadas, os pesquisadores usaram dados orbitais da Starlink para realizar uma análise temporal sobreposta de altitudes e velocidades orbitais. “As reentradas do Starlink coincidem com a fase ascendente do ciclo solar 25, um período com aumento da atividade solar”, diz o estudo.
Desde o início dos lançamentos da Starlink em 2019, as reentradas atmosféricas começaram em 2020, com apenas dois registros registrados. Em 2021, 78 unidades reentraram; 99 em 2022; e 88 em 2023. Porém, em 2024, foi observado um salto expressivo e irregular, com 316 satélites Starlink caindo de volta na Terra. Esse aumento abrupto sugere influência da dinâmica solar.
Para testar suas hipóteses, os autores classificaram cada queda de satélite com o nível de atividade magnética da Terra naquele momento, descobrindo que cerca de 72% ocorreram durante períodos de baixa atividade, e não em tempestades intensas. Para os pesquisadores, isso ocorreu porque as órbitas desses veículos se degradaram sutilmente com o tempo.
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Reconhecendo os “dados de alta cadência da Starlink”, ou seja, informações coletadas em intervalos curtos e frequentes, Oliveira e colegas puderam refinar modelos de arrasto orbital, especialmente durante eventos extremos. A abordagem permitiria antecipar reentradas, planejar manobras corretivas e reduzir o risco de colisões, conclui o estudo.
Para levar adiante essa discussão, acompanhe as atualizações da NASA e da SpaceX, pois controlar esses processos de reentrada não só nos protege de eventuais detritos, como também contribui para um ambiente espacial mais seguro e sustentável. Pense no que aconteceria se um pedaço de lixo espacial caísse na sua casa.