Políticas públicas para lidar com riscos climáticos e ambientais

Eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos, como inundações históricas no Rio Grande do Sul e as secas severas na Amazônia, acentuam os riscos à saúde e ao estilo de vida dos brasileiros.

Além das perdas materiais, esses eventos causam impactos profundos na saúde das pessoas afetadas. Doenças transmitidas pela água, como leptospirose e hepatite A, tornam-se mais prevalentes em áreas alagadas, enquanto a escassez de água potável e alimentos durante as secas, bem como a maior incidência de queimadas, aumenta o risco de desnutrição, problemas respiratórios e outras enfermidades.

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Esses eventos e sobretudo seus efeitos não são distribuídos uniformemente. Grupos mais vulneráveis social e economicamente, como povos ribeirinhos, indígenas, quilombolas, residentes em áreas mais suscetíveis a desmoronamentos e alagamentos, ou moradores de rua, possuem menos recursos para se adaptar e se recuperar.

Essa desigualdade social agrava o problema, tornando imprescindível e urgente o desenho de políticas públicas voltadas a mitigar os riscos ambientais à saúde e à qualidade de vida das pessoas.

A promoção do letramento em saúde ambiental é crucial para mitigar os impactos climáticos e ambientais à saúde. Isso abrange a promoção não apenas de conhecimento sobre os riscos ambientais à saúde, mas o estímulo a comportamentos e atitudes voltados ao autocuidado.

Melhores escolhas e comportamentos de saúde com menor exposição a riscos implica a redução da demanda por serviços de saúde mais complexos, mitigação de vulnerabilidades e indução de práticas ambientalmente sustentáveis. Ou seja, a conscientização de comunidades vulneráveis a certos tipos de doenças causadas pelo ambiente pode reduzir a incidência de tais doenças.

Nesse sentido, pesquisas voltadas ao letramento em saúde ambiental são fundamentais para se desenharem políticas informadas por evidências para o enfoque em grupos específicos. Alguns dos raros estudos realizados no Brasil oferecem insights importantes para políticas públicas nesta área.

Um trabalho recente com povos indígenas da Amazônia, publicado na prestigiosa revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health[1] (link) destaca a necessidade de se adaptar estratégias de comunicação às realidades culturais e aos contextos de cada comunidade. A pesquisa indica que o conhecimento tradicional e as práticas da comunidade podem ser aliados na promoção da saúde ambiental, bem como o acesso a serviços públicos, como serviços de saúde e a distribuição de água tratada.

Outro trabalho relevante publicado na prestigiosa revista Scientific Reports[2] (link), da Nature, revela fatores capazes de predizer maiores níveis de conhecimento sobre os riscos ambientais à saúde e o autocuidado. Os resultados da pesquisa indicam que políticas públicas sobre o tema seriam bem-sucedidas caso focassem em grupos vulneráveis, como aqueles de baixa escolaridade, baixa renda, jovens adultos.

Além disso, o estudo sugere que as políticas públicas se concentrem em iniciativas comunitárias para melhorar o acesso a informações confiáveis sobre saúde.


[1] Buta, B.O.; Manchineri, W.S.C.S.; Froner, M.B.; Ecija, M.B.; Cardoso, D.H.R.; Tabak, B.M. Environmental Health Literacy of Brazilian Indigenous People. Int. J. Environ. Res. Public Health, 22, 625 (2025). https://doi.org/10.3390/ijerph22040625. Trabalho realizado com o apoio do Fundo de Pesquisa e Inovação da Fundação Getulio Vargas.

[2] Buta, B.O., Froner, M.B. & Tabak, B.M. Scale validation and prediction of environmental health literacy in Brazil. Sci Rep 15, 14703 (2025). https://doi.org/10.1038/s41598-025-98435-9. Trabalho realizado com o apoio do Fundo de Pesquisa e Inovação da Fundação Getulio Vargas.

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