Ao se dizer ‘candidatíssimo’, Lula busca aglutinar a base e desencorajar desgarrados

O presidente Lula tem um propósito claro ao dizer a líderes da Câmara dos Deputados que é “candidatíssimo” à reeleição em 2026: aglutinar o quanto for possível sua frágil base na Casa e desencorajar aqueles que estão pensando em se desgarrar do governo, diante da baixa recente de sua popularidade.

Embora ninguém no Palácio do Planalto trabalhe com a hipótese de que ele não concorra, é muito pouco usual ouvir esse tipo de declaração a um ano e meio do pleito por alguém que já está sentado na cadeira presidencial.

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Ao verbalizar isso em reunião na Residência Oficial do presidente da Câmara, Lula move peças no xadrez político. As impressões colhidas pelo JOTA entre participantes da reunião reforçam essa leitura. Um dos líderes presentes afirmou que a fala do presidente foi em tom de chamado para apoio à sua candidatura. Outro detectou na declaração do petista um tom de desafio para quem desacredita em suas chances de vitória.

Essa postura se baseia na crença do próprio presidente e seu entorno de que dificilmente Lula sairia derrotado em uma eleição estando no cargo. Conseguir tal “proeza”, no presidencialismo brasileiro, é algo raríssimo, mesmo com a progressiva perda de poder do Executivo nos últimos anos.

No caso de Jair Bolsonaro, único a perder a reeleição após redemocratização do país, foi necessário combinar vários ingredientes, como a condução desastrada na pandemia, o desempenho da economia, além dos episódios belicosos protagonizados por, na época seus aliados, Carla Zambelli e Roberto Jefferson, na véspera do segundo turno. Tudo isso com um rival que já havia sido presidente, competitivo numericamente e com grande popularidade entre os mais pobres. Mesmo assim, sua derrota para o petista foi por margem estreitíssima de votos.

Com base nisso, inclusive, Lula e seus aliados acreditam que a disputa em 2026 será dura, seja qual for o oponente, mas com grandes chances de vitória. Em um país polarizado, eles sabem que o presidente jamais alcançará a mesma aprovação de cerca de 80% com que deixou o seu segundo mandato, em 2010. Mais realista é recuperar os índices do ano passado, de cerca de 35%, antes do tombo nas pesquisas, talvez um pouco mais do que isso. O arrefecimento da alta do preço dos alimentos e projeto que isenta quem recebe até R$ 5 mil de pagar Imposto de Renda são as principais apostas do governo para atingir esse objetivo.

O quadro, no entanto, seria diferente caso o candidato do PT fosse um de seus ministros: Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), ou Camilo Santana (Educação). Daí a importância da fala de Lula na noite de ontem, quando se disse “candidatíssimo” aos líderes partidários na Câmara. Do ponto de vista de uma candidatura presidencial, Lula é maior do que o PT. E nenhum outro nome teria tanto apelo quanto o dele para atrair alianças ou desencorajar defecções.

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