Mulher que morreu após ser espancada em chácara era meiga e gostava de ajudar o próximo: ‘Coração enorme’, diz amiga


Delvânia Campelo da Silva sofreu diversos ferimentos na cabeça e não resistiu após mais de 20 dias internada. O namorado dela, Gilman Rodrigues da Silva, foi indiciado pelo feminicídio e está preso. Corpo de diarista vítima de feminicídio é enterrado em Palmas
Delvânia Campelo da Silva, que morreu após ser espancada em uma chácara, era uma pessoa meiga e que gostava de fazer o bem ao próximo. É assim que a ex-cunhada e amiga, Kelly Campelo, se lembra dela. Ela recorda que a vítima participava de ações sociais e iniciativas que ajudavam crianças e pessoas carentes do bairro onde morava, em Palmas: “Tinha um coração enorme”.
Delvânia ficou mais de 20 dias internada após o espancamento, mas acabou morrendo no Hospital Geral de Palmas (HGP). O namorado dela, Gilman Rodrigues da Silva, de 47 anos, foi indiciado pelo crime de feminicídio. Ele está preso desde o dia 3 de abril e à polícia, alegou que agiu em legítima defesa.
A defesa dele informou que a família manifesta ‘profundo pesar pelo falecimento’ de Delvânia e afirma que aguarda a conclusão das investigações para que todos os fatos sejam ‘devidamente aclarados’ (veja a íntegra da nota ao final da reportagem).
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Conforme o relato de Kelly, Delvânia trabalhava como diarista, gostava de ajudar as pessoas e estava diretamente engajada com ações sociais no Jardim Vitória, bairro da região sul de Palmas, onde morava antes de se envolver e ir morar com Gilman. A cunhada ainda comentou que a vítima de feminicídio teve uma vida difícil, mas mesmo assim não deixava de se dedicar ao próximo.
“Apesar das pessoas acharem que ela era uma pessoa estourada, bruta, ela era uma pessoa muito meiga. Porque a gente cria uma capa e ela, por toda história de vida que ela tinha, uma vida sofrida, difícil, ela tinha essa capa. Mas ela tinha um coração enorme, era uma pessoa que gostava de ajudar as pessoas. Lá no Jardim Vitória, ela fazia um trabalho com as crianças, com uma associação que ela participava. Ela sempre se envolveu nessa assistência social voltada para a comunidade”, comentou Kelly.
Para a cunhada, essa atenção com a comunidade, era um dom de Delvânia: “Ela não tinha formação de assistente social, mas ela desenvolvia de fato uma assistência para as pessoas necessitadas. Era arrecadação de cesta básica, distribuição, doação de roupas. Ela sempre estava sendo requisitada por ter esse dom”.
Além do trabalho social, Delvânia também tinha uma forte ligação com os irmãos, mas quando começou a se relacionar com Gilman, esse contato mudou. Passou a ficar mais tempo em Caseara, se dedicando à vida na roça com o namorado, por quem estava muito apaixonada, segundo a cunhada.
“Ela morreu apaixonada, vamos dizer assim, porque eu acho que em momento algum ela nunca pensou que ele pudesse fazer o que ele fez com ela, né? E inclusive, depois da internação, a irmã dela foi lá na casa dela e ela disse que tem lá uns papeizinhos pregados com o nome dele e escrito: cuidadoso, carinhoso, companheiro. Os adjetivos, as qualidades que ela achava que ele tinha”, explicou Kelly.
Delvânia Campelo tinha 50 anos
Arquivo Pessoal
Sinais de violência
Sobre possíveis sinais de violência doméstica que Delvânia teria sofrido, Kelly afirmou que nunca soube de nada. Somente em uma ocasião Delvânia teria comentado com uma irmã que Gilman a agrediu durante uma viagem ao Maranhão. Entretanto, a vítima de feminicídio não falava disso com outros parentes.
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Fim de semana das agressões
Delvânia e Gilman namoravam desde o segundo semestre de 2024
Reprodução/ Redes sociais
A família só descobriu o que tinha acontecido, segundo Kelly, depois que uma moradora do Jardim Vitória e conhecida de Delvânia soube do espancamento por meio de notícias em sites da região. Como foi informado que Delvânia estava no HGP, Kelly foi até a unidade.
“Eu falei, ‘estou indo pra lá agora’ e já desci pro hospital. Quando eu cheguei lá constatei que realmente era ela a pessoa e que ela estava em um quadro crítico”, lamentou.
Delvânia foi socorrida em Caseara e pela gravidade do caso, foi levada para Paraíso do Tocantins. Nesse momento, ela ainda estava conscicente. Mas, conforme a cunhada, quando foi transferida para o HGP, já apresentou rebaixamento do nível de consciência e precisou ser intubada.
“Nenhum ser humano merece passar por tudo que a Delvânia passou. Ela lutou muitos dias ainda pela vida dela. Ela já chegou grave. Então por muitos dias ela foi uma paciente que foi mantendo. Isso nos dava um fio de esperança porque se estava mantendo. Não melhorou, mas também não estava piorando. Em algum momento parecia que ela ia apresentar uma melhora […] Só que, de repente em um momento, esse grave acabou rebaixando”, lamentou a cunhada.
Doação dos órgãos
Três dias antes da morte de Delvânia, confirmada na sexta-feira (11), a família foi informada sobre o novo agravo do estado de saúde. Houve um momento de desespero entre os irmãos, que tinham esperança dela se recuperar. Não foi uma decisão fácil, mas os parentes levaram em consideração o dom em ajudar as pessoas para decidir pela doação de órgãos.
“O primeiro momento quando eu falei sobre, [a doação] os irmãos concordaram, tipo assim, ‘ah eu acho que ela, pela pessoa que ela é, que ela sempre gostou de ser prestativa de ajudar o próximo né?’ De ver o outro bem e eu acho que ela ficaria bem”, completou Kelly.
Conforme informou a Secretaria de Estado da Saúde (SES), foram doados rins e fígado da vítima, que serão destinados a três pessoas na lista de espera do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). No HGP, a família e amigos prestaram homenagens a ela com aplausos e balões no momento que seguia para o centro cirúrgico.
Parentes e amigos fazem homenagem para Delvânia a caminho da doação de órgãos
A família agora que que a justiça siga sendo feita para que o indiciado pelo crime seja condenado.
“Como a justiça já começou a ser feita porque o agressor foi preso, a gente quer que essa justiça seja concluída. Ele foi preso, vá a julgamento e cumpra a pena sem ter nenhum tipo de benefício”, afirmou Kelly.
Íntegra da defesa de Gilman
A família e a defesa tecnica de gilman rodrigues da silva manifestam profundo pesar pelo falecimento da sra. Delvânia Campelo da Silva.
A defesa aguardará a conclusão das investigações policiais, onde espera que todos os fatos relacionados, inclusive de dias anteriores ao dia 22 de março e detalhadamente a sequência de eventos daquela data, sejam colacionados ao inquérito.
A defesa afirma ainda que os fatos todos serão devidamente aclarados e ainda, todos, independentemente da acusacao, tem direito de defesa e que essa garantia deve ser preservada.
Marcos Candal Advogado
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