Soja brasileira: alta do dólar aquece demanda internacional e safra tem colheita acima da média em 5 anos, aponta USP


Valorização do dólar frente ao Real deixa commodities do Brasil mais atrativas; colheita fica 66,2% acima da média de cinco anos, aponta Cepea, da Esalq, em Piracicaba (SP). Colheita de soja segue a todo vapor e estimativa de safra recorde se fortalece, segundo Cepea da Esalq em Piracicaba
Claudia Assencio/g1
A demanda externa pela soja brasileira elevou o ritmo de negócios no spot nacional, mercado financeiro que os ativos são comprados e vendidos à vista, com entrega imediata, na última semana de março, segundo estudos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), do campus da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba (SP).
“Cenário foi influenciado pela valorização do dólar frente ao Real, que que deixa as commodities do Brasil mais atrativas aos consumidores estrangeiros”, aponta o Cepea. A colheita do grão segue em alta.
Somado a esse cenário, os sojicultores demonstram mais interesse em comercializar parte da safra 2024/25 no mercado spot, especialmente para “fazer caixa” para o custeio de financiamentos para a próxima temporada.
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De acordo com dados da Secex, analisados pelo Cepea, o Brasil embarcou 10,25 milhões de toneladas de soja até o dia 21 de março. A marca é 59,5% maior que o volume escoado em todo o mês de fevereiro.
Colheita
Segundo o Cepea, a colheita da soja brasileira segue em ritmo intenso e o clima vem contribuindo para “produtividade excepcional em grande parte do Brasil”.
“Até o último dia 23 de março, 76,4% da área total havia sido colhida, superando os 66,3% registrados no mesmo período de 2024 e 66,2% acima da média de cinco anos, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)”, aponta o Cepea.
Expectativa de safra recorde
Com produtividade em alta e mercado aquecido, a safra de soja deve ter balanço recorde, segundo estimativas do setor analisadas pelo Cepea no início de março de 2025.
Ainda segundo o Centro de Pesquisas da Esalq/USP, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a produção nacional de soja em 167,37 milhões de toneladas.
“A marca representa 0,8% a mais que a apontada em fevereiro e 13,3% superior à da safra 2023/24. Desse total, 56,3% foram colhidos até nove de março”, aponta o órgão.
“A colheita de soja segue ‘a todo vapor’ nas principais regiões do Brasil. A maior produtividade vem se confirmando em muitas praças, o que reforça a estimativa de produção recorde no país. Com a oferta do grão aumentando e compradores mais ativos, os negócios para entrega imediatas se aqueceram”, segundo análise do Centro de Pesquisas.
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Produto Interno Bruto
A cadeia da soja e do biodiesel desbancou a estimativa de queda, recuperou os preços com a demanda aquecida nos mercados doméstico e externo e poderá atingir R$ 598,4 bilhões no terceiro trimestre de 2024. desempenho equivale a 23,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Agronegócio do Brasil.
Colheita da soja, o carro-chefe das culturas de verão nos Campos Gerais
Jaelson Lucas/Arquivo AEN
Segundo levantamento do Cepea da Esalq/USP, em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o setor apresentou de melhora na renda e superou o nível pré-pandemia. A marca também equivale 5,1% do PIB nacional em 2024.
“Apesar da estimativa de queda de 11,48% na renda real, a retração foi amenizada graças à recuperação nos preços ao longo do período. A recuperação de preços foi impulsionada por uma demanda aquecida, tanto no mercado interno quanto no externo”, aponta o Cepea.
Resiliência
O comportamento da cadeia é de resilência, segundo o Cepea, porque queda no PIB da cadeia da soja e do biodiesel, projetada em 6,00% em 2024, permanece, impactado pela quebra de safra, mas a indústria conseguiu amortecer esses reflexos negativos com desempenhos positivos.
“Esse resultado é reflexo da quebra da safra da soja, que levou a um recuo de 13,53% no PIB do segmento primário em comparação a 2023. Por outro lado, o desempenho robusto da indústria de insumos, com aumento de 3,98%, e do segmento pós-porteira (+1,07%), com destaque para o biodiesel [com alta de 23,23%, contribuiu para mitigar os impactos negativos. Segundo pesquisadores do Cepea e da Abiove, embora com PIB em queda, a cadeia da soja e do biodiesel ainda irá agregar o segundo maior volume de sua história”, observou os pesquisadores do setor.
Mercado de trabalho
A estimativa para o terceiro trimestre aponta uma redução de 2,64% no número de trabalhadores da cadeia, totalizando 2,23 milhões de ocupados.
“Apesar disso, a cadeia manteve sua relevância no mercado de trabalho, empregando 9,41% dos trabalhadores do agronegócio e 2,17% da força de trabalho da economia brasileira. O segmento de agrosserviços apresentou uma queda de 5,24% na ocupação, enquanto os segmentos de insumos (+3,48%), primário (+1,67%) e a agroindústria (18,13%) mostraram crescimento”, apontou.
Exportações
O valor das exportações da cadeia da soja e do biodiesel no terceiro trimestre de 2024 foi de US$ 13,91 bilhões, uma queda de 12,57% em relação ao mesmo período de 2023.
“O volume exportado cresceu 1,36%, enquanto os preços médios de exportação recuaram 13,74%, pressionados pela maior oferta global de soja e condições climáticas favoráveis em grandes produtores como EUA e Rússia”, aponta o relatório do Cepea.
China
A China se manteve como o principal destino, absorvendo 75,21% das exportações de soja, 22,97% das exportações de óleo e 46,24% do total exportado de biodiesel, glicerol e proteína de soja. A União Europeia e o Sudeste Asiático também se destacaram.
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Reprodução/TV TEM
Afinal, o que é o PIB do Agronegócio?
A professora da Esalq e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Nicole Rennó Castro, explica, em publicação no site do Cepea, que para calcular o PIB do Agro, são usadas informações secundárias e oficiais do IBGE.
“O PIB do Agro é um conceito mais amplo e abrangente que o de agropecuária, que engloba também atividades econômicas de outros setores de atividade, indústria e serviços. Especificamente, o agronegócio é definido como um setor econômico com ligações com a agropecuária”, explica.
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O setor envolve a produção de insumos para a agropecuária, a própria agropecuária, as agroindústrias de processamento dessas matérias-primas e a distribuição e demais serviços necessários para que os produtos agropecuários e agroindustriais cheguem ao consumidor final.
“O setor “agronegócio” não é definido nas classificações de atividades econômicas oficiais adotadas pelos órgãos responsáveis pelas contas nacionais dos países (como o IBGE no Brasil), e, por isso, não há estatísticas oficiais sobre o PIB (ou outros agregados, como o emprego) desse setor”, acrescenta a pesquisadora em artigo publicado no site do Cepea.
“É importante enfatizar que o Cepea apenas aplica aos dados nacionais um conceito que foi definido e é entendido, naturalmente com certas diferenças, internacionalmente”, conclui.
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