Como no Brasil, os pequenos negócios predominam no Japão

No silêncio das plantações de cacau em Tomé-Açu (PA), no coração da Amazônia, o produtor agroflorestal Michinori Konagano conta sua história como imigrante japonês. Com passos firmes, ele carrega no sangue a resiliência, a determinação e o espírito empreendedor característicos de sua gente. Veio ainda menino, chegando ao Brasil com apenas dois anos de idade, trazido pela colônia japonesa que se estabeleceu na região há pelo menos 90 anos, utilizando a agricultura como sua primeira fonte de renda.

Considerada a terceira maior comunidade japonesa do Brasil, Tomé-Açu tem ganhado destaque mundial. Durante as Olimpíadas de Tóquio, as amêndoas de cacau cultivadas no Pará, com selo de indicação geográfica, já atingiam a impressionante marca de 450 mil toneladas exportadas por ano, tendo o Japão como principal destino.

Ao celebrar os 130 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Japão, o presidente Lula destacou a importância dessa parceria, afirmando que “nossas trajetórias se entrelaçam e se fortalecem mutuamente”.

O Brasil foi o principal destino dos japoneses que buscavam novos horizontes. Esse fluxo migratório teve início em 1908, com a vinda de famílias inteiras – adultos, crianças e idosos – dispostas a trabalhar e recomeçar suas vidas. O primeiro destino foram as fazendas de café. Segundo a historiadora Célia Sakurai, “cada família recebia cerca de dois mil pés de café para cuidar”. Para os imigrantes, a adaptação envolveu desafios como a diferença nos hábitos alimentares – no Japão, o feijão é consumido doce, enquanto no Brasil é salgado –, além da língua e do clima tropical. No entanto, em um aspecto houve semelhanças: o espírito empreendedor.

No Japão, as pequenas e médias empresas (PMEs) representam 99,7% de todos os negócios e empregam cerca de 70% da força de trabalho. Esse perfil empresarial também se reflete no Brasil, onde 96% das empresas são de pequeno porte, enquanto apenas 4% são médias ou grandes. Em 2024, os pequenos negócios foram responsáveis por 72% dos empregos criados e representaram 26,5% do PIB nacional. Além disso, as empresas familiares corresponderam a 54% dos pequenos negócios, totalizando 24 milhões de empreendimentos no país (dados de 24/03/2024).

Sem dúvida, é quase impossível mensurar a influência da cultura japonesa na economia, na agricultura, na industrialização e nos costumes brasileiros. Somos todos, de certa forma, um pouco nipônicos.

Na gastronomia, aprendemos a apreciar a culinária japonesa; na indústria automobilística, as montadoras japonesas estão entre as favoritas dos brasileiros. Nos biomas do país, os imigrantes também contribuíram significativamente, seja no Cerrado, com a produção de café, ou na Amazônia, com o cultivo de cacau em Tomé-Açu. Além disso, os japoneses se destacam como referência em tecnologia (com marcas como Sanyo e Toshiba) e até na tradicional produção dos melhores pastéis de feira.

Atualmente, cerca de 2,7 milhões de descendentes de japoneses vivem no Brasil, enquanto aproximadamente 210 mil brasileiros residem no Japão. A comunidade japonesa no Brasil é a maior do mundo fora do Japão. No comércio exterior, o Japão ocupa a 9ª posição entre os principais destinos das exportações brasileiras e é o 12º maior investidor no país.

Sob a ótica comercial, em 2024, o Japão foi o terceiro maior parceiro do Brasil na Ásia e o terceiro maior destino das exportações brasileiras para a região, com um intercâmbio comercial de US$ 11 bilhões e um superávit de US$ 148 milhões. Esse volume, no entanto, já foi maior, atingindo US$ 17 bilhões em 2011.

Até mesmo no haicai nos familiarizamos. Esses pequenos versos de origem japonesa trazem clareza e concisão à poesia. Como escreveu Paulo Leminski, um dos principais representantes desse estilo no Brasil:

A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não!
Este eu mesmo carrego!

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