Commercial Courts e a eficiência econômica da Justiça

A globalização e o aumento dos litígios comerciais internacionais vêm pressionando os sistemas judiciários a oferecer maior previsibilidade e eficiência. A morosidade da justiça tradicional gera custos expressivos para empresas e investidores, impactando diretamente a competitividade dos países no cenário global.

Nesse contexto, a Alemanha propôs uma modernização judicial que pode servir de inspiração para o Brasil: a criação dos Commercial Courts e a possibilidade do uso do inglês como idioma processual. Mas o que isso representa em termos econômicos e como essa medida pode influenciar o ambiente de negócios brasileiro?

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O custo do Judiciário para o desenvolvimento econômico

No Brasil, a lentidão dos processos judiciais tem um impacto econômico significativo. O Doing Business Report, do Banco Mundial, frequentemente aponta a ineficiência do Judiciário como um dos principais entraves para a atração de investimentos estrangeiros e o crescimento sustentável do país. O tempo médio para a resolução de uma disputa comercial no Brasil ultrapassa três anos, enquanto em países com tribunais especializados esse prazo é muito menor.

A proposta alemã busca resolver essa questão com tribunais especializados em disputas empresariais de grande porte – os Commercial Courts. Esses tribunais operariam em instâncias superiores, julgando casos de grande impacto econômico e utilizando procedimentos modernos para garantir previsibilidade e agilidade. Essa iniciativa não apenas desafogaria o sistema judiciário tradicional, mas também tornaria o país mais atrativo para empresas que buscam segurança jurídica em suas operações.

O papel dos Commercial Courts na competitividade global

Países como Singapura, França e Reino Unido já implementaram tribunais especializados para litígios comerciais internacionais, reconhecendo que um sistema judicial eficiente é um diferencial competitivo. A Alemanha, por sua vez, caminha na mesma direção com a proposta do Justizstandort-Stärkungsgesetz (RegE Justizstandort-Stärkungsgesetz, 2023), que introduz os Commercial Courts e permite o uso do inglês em processos de alta complexidade.

O Brasil, por outro lado, mantém um sistema judicial sobrecarregado, em que disputas empresariais frequentemente migram para a arbitragem privada devido à morosidade do sistema estatal. Embora a arbitragem tenha seu papel, seus custos elevados limitam o acesso de muitas empresas, principalmente as de médio porte. A criação de tribunais especializados poderia representar um meio-termo entre a justiça comum e a arbitragem, garantindo mais eficiência sem excluir empresas que não podem arcar com os altos custos da mediação privada.

O inglês no Judiciário: um caminho para a internacionalização

Outro aspecto inovador da proposta alemã é a permissão para que certos tribunais conduzam processos em inglês, reconhecendo que esse é o idioma predominante nos negócios internacionais. O Brasil, no entanto, ainda não contempla essa possibilidade em seu ordenamento jurídico. Essa ausência pode ser um entrave significativo para atrair grandes disputas comerciais, que acabam migrando para jurisdições mais flexíveis e eficientes.

A resistência à adoção do inglês no Judiciário brasileiro pode ser justificada por questões culturais e normativas, mas a realidade do mercado global indica que essa mudança será inevitável para a modernização do sistema. A possibilidade de litigar em inglês poderia fortalecer o Brasil como centro de resolução de disputas internacionais, ampliando sua relevância econômica e consolidando sua posição no cenário global.

Brasil: hora de agir?

A implementação dos Commercial Courts na Alemanha evidencia uma abordagem pragmática para modernizar a justiça e impulsionar o ambiente de negócios. No Brasil, a falta de previsibilidade jurídica e a demora na resolução de disputas geram custos de transação invisíveis, afastam investimentos e reduzem a competitividade do país. Criar tribunais especializados e flexibilizar o idioma processual pode ser um caminho estratégico para atrair capital estrangeiro e fomentar um ambiente econômico mais dinâmico.

Se o Brasil deseja se posicionar como um destino atrativo para negócios internacionais, é fundamental discutir soluções que alinhem a justiça às demandas do mercado. A modernização do Judiciário não é apenas uma necessidade jurídica, mas um fator determinante para o desenvolvimento econômico sustentável.

Se não agirmos, corremos o risco de perder protagonismo nas grandes disputas globais em matéria empresarial, permitindo que outras nações, mais bem preparadas, assumam a dianteira na criação de precedentes que inevitavelmente servirão como referência no mundo dos negócios. Dessa forma, o Brasil deixaria de ser um polo estratégico para litígios empresariais, até mesmo de negócios celebrados dentro de seu próprio território, comprometendo sua influência no cenário jurídico e econômico.

Um passo importante já foi dado com a implementação das Câmaras Reservadas de Direito Empresarial no TJSP, em 2011, o que demonstra um movimento na direção correta. No entanto, para que o Brasil se posicione como protagonista central na resolução de disputas empresariais envolvendo players com atuação nacional e internacional, devemos refletir seriamente sobre a adoção de tribunais especializados como os implementados pela Alemanha. É hora de repensar o Direito Comercial e buscar soluções que alinhem nossa estrutura jurídica às exigências do mercado global.

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