Empreendedorismo dá oportunidade de emprego e renda para pessoas trans

A possibilidade de ter o próprio negócio, conquistar autonomia financeira e superar barreiras de exclusão tem aproximado pessoas trans do universo do empreendedorismo. Com a dificuldade de inserção no mercado de trabalho tradicional, devido ao preconceito e à discriminação, empreendedores trans conseguem encontrar poder de expressão, condições de ter sustento e uma vida digna, longe de situações de vulnerabilidade e marginalização.

Pesquisa do Datafolha aponta que, em 2022, 15,5 milhões de brasileiros se identificaram como parte da comunidade LGBTQIA+, ou seja, 9,3% da população. O próximo dia 29 de janeiro (quarta-feira) é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. A data criada em 2004 reforça a importância de combater o preconceito, promover o respeito e a inclusão das pessoas trans e travestis.

A gerente de Empreendedorismo Feminino, Diversidade e Inclusão do Sebrae Nacional, Georgia Nunes, destaca que por meio da criação e gestão de seus negócios, pessoas trans podem alcançar mais do que autonomia financeira, mas também construir espaços inclusivos, seguros e acolhedores que muitas vezes refletem os valores e as necessidades da comunidade LGBTQIA+.

Esses empreendimentos não são apenas fontes de renda; tornam-se também um símbolo de resiliência, permitindo que essas pessoas assumam o protagonismo de suas histórias e desafiem as narrativas de exclusão que lhes foram impostas.
Georgia Nunes, gerente de Empreendedorismo Feminino, Diversidade e Inclusão do Sebrae Nacional.

Além disso, Georgia considera que negócios liderados por pessoas trans frequentemente se tornam pontos de referência e inspiração dentro de suas comunidades. “Eles oferecem não só produtos e serviços, mas também exemplos concretos de resistência, criatividade e superação”, frisa.

Economia mais justa, criativa e representativa

Como uma equipe dedicada a compreender os desafios enfrentados por empreendedores de populações historicamente minorizadas, o Sebrae tem analisado de maneira aprofundada as especificidades do público LGBTQIA+.

“Queremos propor soluções mais assertivas e personalizadas que, de fato, atendam às necessidades desses empreendedores, permitindo que eles superem barreiras e conquistem seu espaço no mercado de maneira sustentável”, explica a gerente.

Entre os segmentos de mercado com maior potencial para empreendedores trans, ela cita áreas criativas, como design gráfico, edição de imagens e vídeos, moda e beleza. São áreas marcadas pela inovação e autenticidade, que segundo Georgia Nunes, também oferecem oportunidades crescentes em mercados dinâmicos e em expansão.

Você sabia?

As pessoas trans e travestis podem usar o nome social para se formalizarem como Microempreendedor Individual. Esse é um direito garantido por lei, assegurado pelo Decreto 8727/2016 e o Sebrae estabeleceu uma série de reuniões junto ao Ministério da Economia para que o direito também se estendesse também ao processo de formalização do MEI. O nome social é aquele pelo qual as pessoas, independente do gênero, preferem ser chamadas cotidianamente, em contraste do nome registrado.

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Potência empreendedora

Andy do Futuro na Feira da Gente – edição especial, realizada na sede do Sebrae Nacional, em Brasília. Foto: Larissa Carvalho.

Para a artista Andy do Futuro, a vontade de empreender surgiu da necessidade de ter uma renda. Ela tem formação em artes cênicas e atua como atriz, diretora de teatro e como ilustradora. No ano passado, ela criou o projeto Queer Colorir, no qual cria cadernos para colorir para pessoas de todas as idades. Além disso, produz adesivos e imãs de geladeira temáticos e possuiu um brechó itinerante que percorre feiras e eventos no Distrito Federal.

“Mesmo com qualificação é muito difícil conseguir emprego. As barreiras socioculturais são muitas e geralmente eu apresento meu trabalho em locais onde as pessoas vão ser mais receptivas. Se não fosse o apoio da comunidade LGBTQIA+ e apreciadores da estética queer, talvez não fosse possível empreender”, considera.

Aos 35 anos, Andy do Futuro também trabalha como professora temporária da secretaria de Educação do Distrito Federal. “O serviço público é um dos poucos espaços do mercado de trabalho tradicional onde sou menos questionada, mas ainda sim preciso lidar com pessoas que sempre procuram defeitos no que faço”, comenta.

Empreendedorismo de impacto

Peça de coleção da Boom Alternativa. Foto: divulgação.

Há 10 anos com a marca de moda urbana Boom Alternativa, a empreendedora Martiz Latina encontrou no empreendedorismo mais do que uma alternativa de geração de renda. “Empreender surgiu da necessidade quando eu e minha irmã estávamos procurando emprego, mas hoje vejo que me deu a possibilidade de alcançar lugares onde não seria possível se eu estivesse em uma grande empresa do ramo da moda”, reflete.

Ao longo de sua trajetória, ela foi superando diversos desafios e sentiu que houve uma mudança quando a marca se tornou um negócio de duas mulheres. “Depois que eu fiz a transição de gênero, a comunicação com alguns clientes e tratativas do negócio ficaram mais truncadas”, analisa.

Mas nada disso impediu o crescimento da Boom Alternativa que hoje já conta com quase 20 colaboradores diretos e indiretos. A produção da marca é feita na periferia do Distrito Federal e Entorno. “Temos uma proposta de marca muito bem estabelecida. Temos a perspectiva de impacto real de renda na vida dessas pessoas”, enfatiza.

A empreendedora Martiz Latina também participou na Feira da Gente, na sede do Sebrae Nacional, em Brasília, para divulgar a marca Boom Alternativa. Foto: Larissa Carvalho.

Martiz Latina conta que atualmente a empresa tem um ateliê intimista com coleções organizadas com a contribuição da sócia e designer de moda Nanda Fer Pimenta, mulher cis negra. “A criação das coleções é onde gastamos a maior parte do tempo. Com minha formação em técnica de vestuário, sou braço direito da Nanda e organizo a produção das peças cápsulas que são confeccionadas com colaboradores parceiros”, explica.

Como uma marca de slow fashion, a Boom Alternativa considera o upcycling e o reúso com mínimo desperdício possível em suas criações e ainda dá preferência em comprar tecidos e malhas que seriam descartados por grandes indústrias têxteis.

Fique ligado

O poder de compra da população LGBTQIA+ no Brasil é estimado em aproximadamente R$ 420 bilhões por ano. Esse valor é conhecido como pink money ou “dinheiro rosa”.

Como capital financeiro da população LGBTQIA+, o crescimento do pink money tem sido significativo, o que tem feito com que as empresas invistam mais em produtos e serviços para esse público.

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