‘Ou ele bota a viola no saco ou entra no saco’; deputada usou poder na milícia para ameaçar desafeto político, diz MP


Defesa de Lucinha fala que “denúncia é perseguição política”. Na quinta (20), Comissão de Ética da Alerj votou pelo arquivamento da investigação contra Lucinha por envolvimento com milícia. Deputada Lucinha (PSD)
Divulgação
Na denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que aponta a deputada estadual Lucia Helena Pinto de Barros (PSD), a Lucinha, e sua ex-assessora parlamentar, Ariane Afonso Lima como integrantes do braço político do “Bonde do Zinho”, maior milícia do Rio de Janeiro, uma troca de mensagens mostra a deputada pedindo informações e até endereço de um morador que reclamou de sua atuação.
Segundo a denúncia do MPRJ, assinada pelo Procurador-Geral de Justiça, Luciano Mattos, em dezembro de 2023, o servidor da Prefeitura do Rio de Janeiro, Vancler Pascoal de Oliveira, encaminhou à deputada Lucinha um vídeo em que um homem tece comentários e críticas à Lucinha, ao seu filho, vereador da cidade do Rio de Janeiro, Junior da Lucinha, e ao prefeito Eduardo Paes, em razão de problemas envolvendo serviços prestados pela concessionária Rio Águas.
No vídeo, o morador pedia que o prefeito Eduardo Paes fosse a Santa Cruz fazer uma vistoria nos valões e nos rios para constatar o que a empresa estava fazendo e diz que “a nobre Deputada Lucinha e o filho dela Júnior vieram aí e fizeram essa roçada aí, guardaram o lixo todo dentro do valão(…) Pessoal tá pedindo socorro, vocês deram o serviço como pronto lá no rio e tá tudo assoreado. Eu tenho mais vídeos, vou postar!”.
A deputada não gostou da reclamação e cobrou de Vancler a identificação, o endereço e o “grupo político a que pertencia” o morador indignado.
Lucinha mandou a seguinte mensagem:
Lucinha: “Vancler me passa a planta de cara. Onde ele mora. A que grupo político ele tá ligado. Do cara. Quem ele pensa que é? Falando assim de mim, do Júnior e do prefeito???? Responde aí.”
Na mensagem seguinte, segundo denúncia do MPRJ, o servidor Vancler de Oliveira responde a Lucinha, se referindo a deputada como “MADRINHA”, que conversariam pessoalmente, mas já adianta que ameaçou de morte o morador que aparecia no vídeo, lhe dizendo: “ou ele coloca a viola no saco ou ele entra no saco”, em atenção ao pedido de providências feito pela parlamentar.
Vancler: “Eu entendi a senhora e deu uma trava gigante nele. Eu falei que ou ele bota a viola no saco ou ele entra no saco melhor falar aqui pessoalmente.”
Lucinha: “Ok”
Em depoimento, Vancler afirmou ser servidor da Comlurb e que conhecia a deputada há cerca de cinco anos por já “ter exercido funções nos bairros da Zona Oeste”, e disse que, “em razão do exercício do cargo, recebia demandas da Parlamentar, via ofícios ou por telefone”. Ele confirmou ter ido conversar com morador a pedido da Parlamentar, mas negou que as expressões utilizadas constituíssem ameaças.
Para o MPRJ, essa é uma das evidências de que a deputada se valeu servidores da região para atender a seus interesses, tanto vinculados ao mandado quanto aos interesses da milícia e que, da mesma forma que a organização usava prestígio do cargo da parlamentar, “a recíproca era absolutamente verdadeira”.
“A despeito da organização criminosa se valer do prestígio do cargo da Parlamentar para consecução de seus interesses em nível político, a recíproca era absolutamente verdadeira.”
A deputada foi afastada do cargo no final de 2023. Nesta quinta-feira (20), a Comissão de Ética da Alerj votou pelo arquivamento da investigação contra Lucinha por envolvimento com milícia.
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Com a decisão, a parlamentar segue com suas funções na Alerj enquanto aguarda julgamento na Justiça. A Mesa Diretora da Alerj ainda pode pedir votação do plenário da Casa para confirmar o arquivamento.
A defesa de Lucinha diz que “a denúncia é uma perseguição política”.
“A acusação é completamente improcedente e sua inocência será devidamente comprovada nos autos. Da mesma maneira que demostrou no conselho de ética sua inocência, demonstrará também na justiça que as denúncias são absurdas e improcedentes.”
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