Da proibição dos celulares à educação integral para a cidadania digital

Nas últimas semanas, a série Adolescência tem sido tema de inúmeras discussões na grande mídia, nas redes sociais, em conversas familiares, entre amigos e, claro, entre educadores.  

A recente proibição do uso de celulares nas escolas brasileiras também impulsionou esse debate, fazendo com que questões relacionadas ao uso da tecnologia na educação se tornassem um dos assuntos mais comentados dos últimos meses. É evidente que estamos vivendo um momento de grande hype nas reflexões sobre a relação entre tecnologia e ensino.

Diante de um cenário carregado de posicionamentos altamente polarizados, em que tudo rapidamente se transforma num Fla-Flu apaixonado, corremos o risco de perder a capacidade de enxergar questões mais profundas. O perigo é cairmos em polêmicas superficiais, que geram poucos avanços concretos e dificilmente contribuem, de fato, para a vida de pessoas reais — especialmente daquelas que mais precisam.

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Apesar de reconhecermos que a proibição dos celulares nas escolas — medida respaldada por diversas evidências internacionais — pode trazer benefícios importantes para a aprendizagem dos estudantes brasileiros, essa é apenas uma parte do esforço necessário para promover uma formação integral de cidadãos digitais.  

Considerando que o Brasil é um dos países em que as pessoas passam mais tempo online e nas redes sociais, restringir o uso de celulares nas escolas deve ser visto como o começo da conversa, e não como seu ponto final. A questão não é “demonizar” a tecnologia, mas sim buscar formas mais humanas e virtuosas de interagir com ela.

Preparar as novas gerações para o futuro não significa ensiná-las a viver completamente sem tecnologia. Afinal, se a escola se tornar um espaço de alienação em relação ao mundo real, ela deixará de cumprir seu papel de apoiar os estudantes na superação dos desafios da vida cotidiana — desafios esses que são, cada vez mais, mediados por dispositivos digitais.

Estamos, portanto, diante de um dilema complexo: após a proibição dos celulares nas escolas, o que faremos para preparar nossas crianças e adolescentes para viverem com desenvoltura em um mundo permeado pela tecnologia? Não há respostas únicas para essa pergunta. Mas há uma certeza: será fundamental olharmos com atenção para a figura do professor.

Se o uso dos celulares de maneira indiscriminada não será mais permitido em sala de aula, então os educadores precisarão estar aptos a desenvolver estratégias alternativas — e eficazes — para garantir a formação digital de seus estudantes.

Sabemos que, para fins pedagógicos, os celulares podem, sim, ser ferramentas valiosas. Mas, se não apoiarmos os professores no desenvolvimento de competências digitais, os problemas aparecerão em breve: e, infelizmente, estudantes e professores com menor acesso à tecnologia serão justamente os que terão maior defasagem. Ou seja, os que mais precisam serão os que menos receberão uma formação adequada para o mundo digital.  

Nesse contexto, formar melhor nossos professores para o uso virtuoso das tecnologias é um imperativo profundamente democrático. Apenas ao se apropriarem criticamente dos recursos digitais, eles poderão criar estratégias significativas para engajar os alunos e promover o uso consciente das tecnologias na educação.

Por isso, é necessário celebrar a recente Resolução nº 2/2025 do Conselho Nacional de Educação (CNE), que institui as Diretrizes Operacionais Nacionais sobre o uso de dispositivos digitais em espaços escolares. O documento promove o uso intencional e estratégico da tecnologia, visando potencializar o ensino e a aprendizagem, e oferece recomendações claras para a formação docente nesse tema tão urgente.

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Mais do que uma medida normativa, tal resolução representa um convite a pensarmos a educação de forma integrada, conectando os desafios do presente às competências do futuro. Ela nos provoca a buscar equilíbrio entre proteção e protagonismo, entre limite e liberdade, entre lei e a formação de cidadãos virtuosos.

Se quisermos uma escola que forme pessoas capazes de viver e transformar positivamente o século XXI, não basta desligar os celulares — é preciso formar bem as consciências. E, para isso, professores bem formados, apoiados e valorizados são profissionais-chave em todo esse processo.

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