Casal que se conheceu em sala de bate-papo virtual e passou por transição de gênero após o casamento completa mais de 20 anos de união: ‘O amor da minha vida’


No Dia dos Namorados, o g1 conta a história do relacionamento de Aine Tadini Ramos e Alexandra Cursino Tadini Ramos, moradoras do interior de São Paulo, que encontraram um amor sem barreiras. O que começou como um relacionamento tido como hétero pela sociedade, é hoje uma casamento lésbico e feliz. Aine e Alexandra têm uma história de amor que superou barreiras e questões de gênero.
Arquivo pessoal
Foi nos primórdios da internet, em uma sala de bate-papo virtual dos anos 2000, que Aine – hoje uma mulher trans – e Alexandra se conheceram. Durante as conversas, nasceu uma amizade, que rapidamente se transformou em amor, virou um casamento duradouro e uma relação de companheirismo que transcende questões de gênero.
O que começou como um relacionamento tido como hétero pela sociedade, é hoje uma casamento lésbico e feliz. A união de 21 anos – quatro de namoro e 17 de casadas – inclusive já rendeu frutos: após enfrentar a fila da adoção por mais de uma década, as duas estão vivenciando juntas a experiência da maternidade.
No Dia dos Namorados, o g1 conta a história do relacionamento de Aine Tadini Ramos e Alexandra Cursino Tadini Ramos, moradoras de São José dos Campos, no interior de São Paulo, que encontraram um amor sem barreiras e incondicional.
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Aine, Alexandra e a pequena Diana.
Arquivo pessoal
Aine conta que conheceu Alexandra quando ainda não havia feito sua transição como mulher trans. Apesar de internamente já saber a própria identidade, Aine tinha medo de externar isso para o mundo. No entanto, ao conversar com Alexandra, não teve medo de se abrir.
“Logo de cara, eu não estava procurando um relacionamento, mas sim uma amiga. Mas acabou acontecendo, porque a energia e o sorriso dela me encantaram e nós tínhamos as mesmas afinidades e os mesmos gostos. Na época, em 2003, eu ainda não tinha feito a transição de gênero, mas ela sempre soube que eu tinha dentro de mim isso”, contou.
“A gente gostava muito de estar juntas, não apenas nos finais de semana, tinha um jeitinho de se encontrar, com um cinema no meio da semana, era sempre uma grudada na outra. Depois de quatro anos de relacionamento, nos casamos no dia 7 de julho de 2007. Não teve um pedido de casamento, sempre foi um sonho conjunto, sempre soubemos que era isso que queríamos. Mas na época do casamento, eu ainda não sabia como iria me assumir, por causa da cultura conservadora”, relata Aine.
Aine e Alexandra têm uma história de amor que superou barreiras e questões de gênero.
Arquivo pessoal
Após o casamento, o relacionamento a dois era uma maravilha, cercado de amor, acolhimento e respeito em casa, mas Aine ainda tinha questões com a própria imagem que a perturbavam e a impediam de viver de forma plena.
Por causa das inseguranças e medo do preconceito, Aine passou quase 40 anos sendo vista pelos familiares e amigos como um homem. Apenas a companheira a conhecia como ela realmente se identificava.
“Nesse começo eu tinha preconceito comigo mesma, tinha medo, ia dormir chorando, porque sentia que vivia uma mentira. Eu negava a minha existência. Até que um dia tive um ponto de virada, quando estava almoçando no shopping. Na mesa do lado tinham alguns velhinhos, eu os vi e comecei a chorar desesperada. Eu disse pra Alexandra: ‘não consigo me ver nessa idade como homem’ e então ela me acolheu e demos o primeiro passo para a transição de gênero”, afirmou.
“A minha esposa aprendeu junto comigo o que é ser uma pessoa trans, passamos juntas por cima dos nossos preconceitos para que eu não vivesse uma vida em vão. Passei pela transição de gênero depois dos 40 anos. Fiz uma mudança muito grande de vida em uma época que as pessoas acham que não se deve fazer”, declarou.
Aine após a transição de gênero.
Arquivo pessoal
A mulher que antes era obesa, com vários problemas de saúde, tinha barba e cavanhaque, passou por alguns procedimentos estéticos, cirurgias plásticas e uso de hormônios, começou a se valorizar e a cuidar de si, até que o espelho refletiu a imagem de quem ela sempre foi por dentro e Aine se assumiu como mulher trans para a família e amigos.
“O primeiro dia que eu saí na rua foi maravilhoso. Eu tremia de medo, mas eu estava usando a roupa que eu queria, a sandália que eu queria. Eu me senti plena, incrível, inteira pela primeira vez”, narrou.
E Alexandra esteve ao lado de Aine o tempo todo, sem duvidar nenhum momento do amor que sentia pela companheira e dando todo suporte para que a esposa se sentisse segura em busca da própria identidade.
“Minha esposa me deu suporte, me defendeu muito, conversou com a minha mãe, lutou por mim. Ela chegou a falar que tinha medo de olhar pra mim e não me ver mais, mas ela descobriu que amava não era a minha pessoa física, mas sim o que eu sou. A minha esposa sempre foi apaixonada por mim, não importava a aparência. Tivemos altos e baixos, medos, mas ela nunca cogitou me deixar”, contou.
Aine e a pequena Diana.
Arquivo pessoal.
O amor entre as duas superou qualquer questão de gênero. E após o fim do processo de transição, ainda sobrou amor para mais uma pessoa. Depois de passar 12 anos na fila de adoção, o casal finalmente conseguiu adotar uma filha e hoje, juntas, elas vivenciam o desafio da maternidade.
“Eu e minha companheira somos mães por adoção. A gente ficou 12 anos na fila. Eu acho que a Diana, nossa filha, veio no melhor momento que ela poderia ter vindo. Pra quem achava que nem seria mulher, ser mulher e mãe é uma experiência divina”, afirmou.
O Dia dos Namorados será celebrado em família este ano. Em casa, juntas, como Alexandra e Aine estiveram uma ao lado da outra, incondicionalmente, ao longo dos últimos 21 anos.
“Gosto muito do que a gente tem, não sei o que eu seria sem a Alexandra. A gente criou uma relação tão boa, que mesmo quando a gente se desentende, nos compreendemos. A gente se completa, se respeita e se ama. Ela é o amor da minha vida”, declarou Aine.
Aine e Alexandra têm uma história de amor que superou barreiras e questões de gênero.
Arquivo pessoal
Aine após a transição de gênero.
Arquivo pessoal
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