61% dos apostadores fizeram ao menos alguma aposta ilegal em 2025, aponta pesquisa

Apenas em 2025, 61% dos apostadores de sites de apostas online – as chamadas bets – fizeram ao menos alguma aposta ilegal. O indicador consta em levantamento feito pelo Instituto Locomotiva e apresentado nesta quinta-feira (12/6) pelo Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), em São Paulo (SP), sobre o mercado ilegal de apostas no Brasil. Para chegar aos resultados, a pesquisa ouviu 2 mil apostadores entre abril e maio deste ano.

Conheça o JOTA PRO Poder, plataforma de monitoramento que oferece transparência e previsibilidade para empresas

O percentual de 61% foi obtido a partir da combinação das informações sobre uso de plataformas consideradas irregulares e práticas informais (que não exigiram reconhecimento facial, realização dos depósitos por meio de cartão de crédito ou criptoativos), questionadas aos entrevistados. Desse montante, a incidência de apostas em plataformas ilegais é maior entre apostadores mais jovens e o público considerado baixa-renda.

Os números chamam atenção de autoridades do setor. Presente no evento, o presidente da Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel), Carlos Manuel Baigorri, afirmou que, desde o final do ano passado, mais de 12 mil sites ilegais de apostas foram bloqueados pela agência reguladora. No entanto, entende que esse é “um trabalho de enxugar gelo”, pois avalia que o estado brasileiro não possui condições, em termos de competências, de dar efetividade a esse bloqueio. 

Nós temos colocado, junto ao Congresso Nacional, junto ao Ministério dos Esportes, uma pauta de que, hoje, atuando tão somente na esfera, no âmbito das telecomunicações, não é possível garantir o bloqueio dos sites ilegais”, disse Baigorri. 

De acordo com o presidente da agência, existem outras infraestruturas digitais que são adotadas por esses sites ilegais para continuarem operando em rede digital. E essas estruturas, segundo ele, não estão dentro do escopo de atuação da Anatel. “Os sites ilegais conseguem oferecer condições robóticas, justamente porque não seguem uma regulamentação robusta”, destacou. 

Além disso, pontuou que se há agentes que não estão cumprindo as regras, “não é fazendo mais regras que você vai fazê-los cumprir”. “Na verdade, quanto mais regras você coloca, se você não foca em fazer com que o agente irregular, ilegal, venha para a legalidade ou tire ele do mercado, você está empurrando os agentes ilegais para a ilegalidade”, afirma Baigorri.

A busca por levar os ilegais para a legalidade é endossada pelo secretário nacional de Apostas Esportivas do Ministério dos Esportes, Giovanni Rocco. Ao lado de Baigorri, ele afirmou que o princípio de uma regulação é que “ninguém faz nada sozinho” e que não se combate manipulação de resultados sem a canalização do mercado ilegal para o mercado legalizado. Por isso, destacou que o papel das entidades, das instituições e da sociedade civil em construir essas pontes com o governo para ter os resultados esperados é muito importante. 

Informações direto ao ponto sobre o que realmente importa: assine gratuitamente a JOTA Principal, a nova newsletter do JOTA

Também para o diretor da LCA Consultoria Econômica, Eric Brasil, a regulação deve garantir direcionamento de apostadores e operadores ao mercado regulado. Segundo ele, o combate ao mercado ilegal de apostas não é “uma jaboticaba brasileira”, mas um desafio no mundo todo. No entanto, considera que no Brasil ainda seja ainda mais expressivo e represente entre 41% a 51% total do mercado, com sua participação correspondendo entre R$ 26 bilhões a R$ 40 bilhões em receitas anualizadas.

Considerando carga tributária estimada de cerca de 27% sobre o tamanho do mercado ilegal (R$ 26 a 40 bilhões em termos anuais), Eric Brasil estima que a arrecadação não recolhida em termos anuais poderia estar entre R$ 7,2 e R$ 10,8 bilhões, por exemplo.

Detalhamento da pesquisa

A pesquisa mostrou também que no perfil mais jovem – compreendido na faixa etária entre 18 a 29 anos –, 69% afirmaram ter apostado em ao menos uma plataforma irregular em 2025. Entre o público cuja renda familiar chega até 2 salários-mínimos, o percentual foi de 63%, seguido de 59% (para quem possui renda de 2 a 6 salários-mínimos) e também 59%, com renda familiar acima de 6 salários-mínimos.

Em relação às regiões geográficas do país, 71% dos apostadores – envolvidos no percentual dos 61% obtidos – estão na região Centro-Oeste, 66% no Norte do país, 61% no Nordeste, 60% no Sudeste e 54% no Sul do Brasil.

Das 2 mil pessoas ouvidas pelo estudo, 78% destacaram a dificuldade para o usuário comum saber ao certo quais plataformas são regulamentadas no país e quais não são. Desse mesmo número, 72% dos entrevistados disseram que nem sempre conseguem checar todos os detalhes das plataformas de apostas que utiliza para saber se elas estão regulares ou não.

Ao traçar o perfil desses apostadores, a pesquisa identificou que 77% são mulheres e 70% homens. Baseando-se na faixa etária, o relatório aponta novamente a incidência do mercado de apostas ilegais no perfil mais jovem, com 83% correspondendo à faixa entre 18 a 29 anos; 68% no grupo entre 30 a 49 anos e 68% dos apostados entre 50 anos ou mais.

Entre os 2 mil apostadores ouvidos, 87% consideraram que o Poder Público deveria combater as plataformas de apostas irregulares. No grupo dos apostadores que fizeram ao menos alguma aposta ilegal (os 61%), o percentual obtido foi de 86%.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.