Bolsonaro tenta cavar voto mais favorável de Fux mirando recursos futuros

Antes de iniciar os interrogatórios, o ministro Alexandre de Moraes convidou os demais ministros da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para acompanhar os interrogatórios do núcleo crucial da denúncia sobre a trama golpista. O único presente no auditório foi o ministro Luiz Fux, os demais enviaram juízes auxiliares. O que seria apenas um comparecimento de um magistrado virou um acontecimento nas redes bolsonaristas.

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A presença de Fux reacendeu a esperança do ministro como uma tábua de salvação na ação sobre o golpe. Alguns réus elogiaram as perguntas do ministro. Um deles chegou a confidenciar ao JOTA que o ministro é mais imparcial por sua trajetória como juiz e por não estar envolvido diretamente com os fatos, em crítica a Alexandre de Moraes, que manteve a relatoria da ação mesmo sendo uma das possíveis vítimas de um suposto plano de assassinato por militares. 

O questionamento de Fux sobre as idas e vindas de depoimentos na colaboração premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid foi um dos pontos máximos de elogios às intervenções do ministro nas redes. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro aproveitou seu interrogatório para acenar ao ministro a concordância com a postura de Fux. “Até vi o ministro Fux questionando o coronel Cid aqui se foi assinado ou não.”

Outro ponto trazido nas redes foi o questionamento a Cid se Bolsonaro teria assinado a minuta de golpe e o militar respondeu que não. 

Fux começou a entrar no gosto bolsonarista desde que questionou o tamanho das penas impostas por Moraes aos réus do 8 de janeiro. A simpatia escalonou quando o magistrado propôs a redução da pena de Débora Rodrigues dos Santos pela pichação com batom na estátua da Justiça, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, com os dizeres “Perdeu, mané”, durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Os bolsonaristas querem passar a impressão nas redes sociais que o ministro seria oposição a Moraes. 

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A estratégia de Bolsonaro de tentar cavar um voto favorável de Fux não ocorre em vão. Na verdade, a ideia é enxergar lá na frente. Se Fux diverge, abre-se a possibilidade de mais recursos dentro da Corte. Em um julgamento em que a única instância é o STF, qualquer recurso adicional é uma vitória.

Mesmo que Fux seja uma voz isolada em um possível voto mais ameno a Bolsonaro, a sua divergência é importante porque abre a possibilidade dos “embargos infringentes”. Se todos apenas “seguirem o relator”, essa opção de recurso desaparece. Ou seja, a unanimidade é ruim para as defesas e, nesse momento, para Bolsonaro que sabe que as chances de condenação são reais, qualquer mínima vitória vale a pena.

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