Bolsonaro réu e candidato: como agiu o ex-presidente no 1º dia de interrogatórios

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitou da sua condição de réu para lembrar que continua no jogo político. Nesta segunda-feira (9/6), usou os holofotes dos jornalistas em um curto intervalo durante o interrogatório do ex-ajudante de ordens Mauro Cid para reiterar: “Por enquanto o candidato sou eu”. Quando questionado se apoiaria ou não a sua esposa Michelle Bolsonaro à presidência da República, destacou os atributos da mulher “evangélica”, que “fala bem” e “em 4 anos comigo nunca se excedeu em nada”. Mas negou que estivesse agindo como cabo eleitoral.

Bolsonaro sabe que são baixíssimas as chances de ser o candidato em 2026, mas ao se posicionar como tal, pretende demonstrar o controle da situação. E mais: busca deixar claro que ainda dá as cartas no jogo e que qualquer futuro candidato da direita à Presidência da República terá que passar por sua bênção.

Conheça o JOTA PRO Poder, plataforma de monitoramento que oferece transparência e previsibilidade para empresas

Mesmo após as comprometedoras declarações de Cid, como o acesso à minuta golpista, inclusive com a sugestão de manter a prisão apenas para o ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro disse: “Não tem porque me condenar. Eu tô com a consciência tranquila”. No início da sessão, chegou a cumprimentar de forma cordial o seu delator. Em seguida, disse que não tem problema com Cid e que o considera um filho porque ele e seu pai eram da mesma turma de formação militar.

O uso político do julgamento por Bolsonaro ainda teve o momento em que ele explicou broches na lapela do terno para jornalistas. Disse que recebeu a Medalha Pacificador com Palma por ter salvado o seu sogro Paulo Negão de um afogamento.

No decorrer do interrogatório, Bolsonaro tomou os cafés e água oferecidos pelo garçom do Supremo em copos descartáveis – essa foi a orientação da segurança do STF, que trocou os copos de vidro por descartáveis. Em momentos específicos, o ex-presidente colocou os óculos e fez anotações. Um deles foi quando Moraes perguntou a Cid sobre o grupo mais radical que tentou convencer a fazer um golpe após a derrota nas eleições de 2022.

De forma geral, enquanto Cid falava, Bolsonaro se mexia na cadeira de plástico preto que estava sentado. Em alguns momentos fechou-se em mãos cruzadas no corpo e passava a língua para umidificar a boca.

No depoimento do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), Bolsonaro bocejou e também fez comentários com seu advogado Celso Vilardi no momento em que o ex-chefe da Abin afirmou que os documentos encontrados em sua casa com anotações sobre as urnas eletrônicas não foram entregues ao ex-presidente.

Na saída, o advogado de Bolsonaro Celso Vilardi tentou descredibilizar o interrogatório de Mauro Cid e o uso da memória seletiva do colaborador. O advogado também deu entrevistas com a sua interpretação sobre as declarações de Cid: que ele não cravou o conhecimento de Bolsonaro sobre os planos Copa 2022 e Punhal Verde e Amarelo, e destacou que o ex-presidente dizia que ia agir “dentro das quatro linhas da Constituição”.

Desde o início da ação sobre a trama golpista, os prognósticos de condenação de Bolsonaro são reais. Mas o ex-presidente está ciente que pode usar o rito judicial e transformar as dependências do STF em palanque político para se manter figura essencial na direita brasileira nas eleições de 2026.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.