Que fim levou a CCE, a clássica marca nacional de aparelhos de som e TVs?

O mercado de eletrônicos no Brasil ficou especialmente movimentado a partir da década de 1970. Foram várias marcas nacionais virando referência em segmentos de computadores e consoles até eletrodomésticos, competindo em um espaço ainda limitado para companhias estrangeiras.

Um dos nomes de maior destaque a partir desse período foi a CCE, referência em áreas como televisores e sistemas de som. Porém, os produtos da companhia eram tão criticados quanto comprados pelo público e, depois de reviravoltas corporativas, se tornou um nome cada vez menos lembrado.

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A origem da CCE

A CCE foi fundada em 1964 já com esse nome, sigla para Comércio de Componente Eletrônicos. O empresário Isaac Sverner foi o fundador e primeiro presidente, cargo que ocupou por anos durante as boas e más fases da companhia.

Como o próprio nome entrega, o início das atividades envolveu a importação e venda de peças para outras marcas de eletrônicos. Com o fortalecimento da indústria nacional a partir de políticas como a reserva de mercado da informática, porém, a situação começou a mudar.

Em 1971, a CCE inicia a fabricação de produtos próprios pela Zona Franca de Manaus. Sistemas de som “3 em 1” (que eram rádio, toca-fitas e toca-discos ao mesmo tempo) e televisores foram desde o início os destaques da marca.

Porém, ao longo dos anos ela também arriscou em outras áreas. Ela foi a responsável pela dupla Top Game e Turbo Game, clones brasileiros do Nintendo Entertainment System, o popular Nintendinho. Além disso, ela também lançou um microcomputador, o MC1000, também baseado em um modelo estrangeiro.

Dois consoles da CCE, o Turbo Game e o Top Game.
Os dois consoles da CCE no Brasil. (Imagem: Divulgação/CCE)

Porém, a preferência era clara: no começo da década de 1990, o segmento de televisores era responsável por 40% do faturamento da companhia, enquanto outros 40% era de responsabilidade da divisão de aparelhos de som.

Em 1994, ela contrata Nelson Wortsman, ex-vice-presidente da Sharp do Brasil, para comandar a empresa. Ele liderou a fase de expansão da linha, passando dos eletrônicos mais tradicionais até lavadoras de roupa, geladeiras e micro-ondas.

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A CCE passa a fabricar até mesmo as embalagens dos seus produtos, o que é visto de duas formas. Por um lado, ela garante maior controle de qualidade e segurança nos processos, mas aumenta custos e quantidade de etapas que exigem maior supervisão.

E, além dos lançamentos próprios, ela também se popularizou por importar marcas de áudio, como Kenwood, Sanyo e Orion.

Um anúncio de revista com aparelhos de som da CCE.
Um antigo anúncio de revista da CCE. (Imagem: Reprodução/Vintage7080)

Já em 2006, a fabricante fecha uma parceria com marcas como Intel, Microsoft e Qualcomm para entrar no segmento de desktops e notebooks. Essa é a subdivisão que ficou conhecida como CCE Info.

Mais tarde, ela foi seguida pela CCE Mobi, uma unidade focada no lançamento de smartphones.

A CCE tinha má fama entre o público?

A fabricante brasileira CCE ficou conhecida principalmente por apresentar alternativas de menor custo ao consumidor, com preços mais acessíveis até mesmo em comparação com outras empresas nacionais.

  • Quem sonhava com uma TV de tubo ou um aparelho de som em casa e não tinha um grande orçamento tinha como primeiro aparelho algo da CCE. 
  • Isso foi aliado a um marketing poderoso e comerciais de sucesso na América Latina — a ponto de, na década de 1980, a CCE chegar ao primeiro lugar em vendas em aparelhos de áudio.
  • Só que problemas frequentes até demais com esses modelos também geraram uma má fama entre a companhia, que passou a ser vista como uma empresa de qualidade técnica duvidosa.
  • Até mesmo o seu nome passou a ser alvo de piadas, com CCE virando em brincadeiras “Começou Comprando Errado” ou “Conserta, Conserta e Estraga“.

Venda, revenda e fim

Já com bem menos espaço, a CCE conseguiu em setembro 2012 um negócio que parecia garantir a sobrevivência da companhia. A empresa brasileira foi adquirida pela gigante chinesa Lenovo, interessada em fortalecer a presença no segmento de notebooks no país

Naquele momento, ela estava em terceiro lugar no mercado, chegando a 7% somando as duas companhias.

Na época sob administração do grupo Digibrás, que é o nome do guarda-chuva de companhias da família Sverner, a CCE foi vendida por R$ 300 milhões na época. Segundo a própria Lenovo, os principais valores dela incluíam a experiência no varejo nacional, o conhecimento do consumidor brasileiro e fábricas na Zona Franca de Manaus.

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A Lenovo se interessou pela CCE inclusive para ter novos notebooks. (Imagem: Divulgação/CCE)

Só que esse casamento durou bem menos do que o esperado. Em outubro de 2015, a Lenovo encerra o pagamento de parcelas da aquisição e devolve o controle acionário da CCE para a família Sverner, o que inclui as fábricas e os direitos da marca.

Na época, a chinesa alegou que buscava “aprimorar sua eficiência operacional e a rentabilidade do negócio de PCs globalmente e no Brasil“. Ela manteve uma fábrica na em Itu e passou a usar a cidade paulista como local de produção de aparelhos próprios e da Motorola, que também passou para o seu controle anos antes.

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No mesmo ano de 2015, ela deixou de lançar televisores com a marca CCE, encerrando a linha mais popular de produtos da marca. Mesmo com a empresa de volta às origens, a marca não seguiu em atividade.

O próprio site dela deixou de existir e não se encontra qualquer traço online da CCE — exceto quem ainda eventualmente tenha produtos antigos ou comprados do estoque restante. Do grupo como um todo, apenas a empresa de montagem de placas de circuito impresso Digiboard segue ativa e mais discreta em Manaus.

site do grupo digiboard aberto na página inicial
O site oficial da empresa hoje. (Imagem: Reprodução/Digiboard)

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