Novo relatório da Polícia Federal feito a partir da análise de mensagens celular do policial federal Wladimir Matos Soares corrobora a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a existência de uma trama golpista para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder em 2022. Soares é um policial federal que participou da segurança do então candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva e fornecia informações para a execução do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que descreveu a possibilidade de assassinar o presidente eleito.
Os áudios demonstram a disposição do grupo em executar o golpe, inclusive com o uso de armas e com “poder de fogo elevado” para “empurrar quem viesse à frente”. Soares diz: “A gente ia empurrar meio mundo de gente, pô. Matar meio mundo de gente. Estava nem aí já, cara”.
Também traz informações sobre a possibilidade de prender e executar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e seus familiares, em especial, o ministro Alexandre de Moraes. “A gente tava preparado pra isso, inclusive. Pra ir prender o Alexandre Moraes. Eu ia estar na equipe. Ia botar pra foder nesse filho da puta”.
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As conversas mostram que sempre existiu um plano de fuga para Jair Bolsonaro, caso o golpe não desse certo, e que o grupo se sentiu “traído” pelos comandantes das Forças Armadas que não aderiram à ideia de golpe. “Exatamente, Garnier [refere-se ao almirante Almir Garnier Santos, comandante da Marinha no governo Bolsonaro] foi o único, cara, o único. A Marinha desde o começo, foi a única que apoiou ele 100%. O resto tirou o corpo”
Uma troca de mensagens da esposa de Soares, Vanessa Isac Monteiro de Oliveira, mostra que o grupo estava preparado para uma guerra. “Gata, prepare-se para dias muito difíceis. Estoque comida e água e remédios de uso diário. Se acontecer algo, estaremos preparados (…)”.
Para a PF, chama a atenção o fato de a companheira de Soares alertar para “dias muito difíceis” exatamente no dia 14 de dezembro de 2022, véspera da ação dos integrantes de Forças Especiais do Exército, que estavam em Brasília com o objetivo de prender/executar o ministro Alexandre de Moraes.
As novas provas trazidas pela PF deixam mais claro o intuito golpista de Bolsonaro e aliados e devem dificultar a absolvição dos réus. Embora a delação de Mauro Cid seja uma das provas mais importantes, ela não é a única base da denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Confira alguns trechos dos áudios apresentados pela PF:
Grupo armado
“Nós fazíamos parte, fazíamos, né, de uma equipe de operações especiais que estava pronta para defender o presidente armado, sabe, e com poder de fogo elevado pra empurrar quem viesse à frente, entendeu velho? A gente tava pronto para. Só que aí o presidente, esperávamos só o ok do presidente, uma canetada pra gente agir”.
Ainda: “A gente ia empurrar meio mundo de gente, pô. Matar meio mundo de gente. Estava nem aí já, cara”.
Plano para prender e matar Alexandre de Moraes:
“O Alexandre Moraes realmente tinha que ter tido a cabeça cortada quando ele impediu de o presidente colocar um diretor da Polícia Federal, né? O Ramagem. Tinha que ter cortado a cabeça dele, era ali. Você tá entendendo? Mas não fez. Foi frouxo”
“A gente tava preparado pra isso, inclusive. Pra ir prender o Alexandre Moraes. Eu ia estar na equipe. Ia botar pra foder nesse filho da puta (…)”.
“Bolsonaro não pode agir, porque se ele agir antes do diário oficial, aí ele age na ilegalidade, entendeu? Aí Alexandre de Moraes sai por cima. Que tá fodido, que se, meu irmão, se der merda, se houver, que vai haver, essa tomada irmão, Alexandre de Moraes, esses ministros todos estão fodidos, mas fodidos com todas as letras. Esses caras, esses advogados, a mulher dele, está tudo, irmão, é todo mundo preso, barão. Então, assim, é questão de tempo, eles estão jogando com a vida deles, porque eles sabem que se der errado, se Bolsonaro não escorregar, se fizer tudo certinho, eles estão fodidos. E agora a gente só precisa aguardar, cara, não tem para onde correr”
Em um vídeo com o Moraes e os dizeres afixados: “UM DITADOR SEM LIMITES ARROGÂNCIA É SEU FORTE UM DIA SUA CASA VAI CAIR”, Soares diz: “E eu vou prendê-lo”.
Desistência e fuga de Bolsonaro
“Só que o presidente deu pra trás, porque na véspera que a gente ia agir, o presidente foi traído dentro do exército. Os generais foram lá e deram a última forma e disseram que não iam mais apoiar ele. Ou seja, na realidade o PT pagou para eles, comprou esses generais”
“Pois é, Lu, [refere-se ao advogado Luciano Diniz] ele já tinha mandado contra Bolsonaro pronto. Era só virar o ano. Se o Bolsonaro continuar a sair, ia ser preso mesmo. A Michele saiu na terça-feira, escoltada por dois caças. Michele, a filha, saíram escoltados aqui por dois caças, né? E aí ele saiu na sexta-feira. Então ele ia se ferrar, cara. Ele com medo foi embora, entendeu? Pra tentar esfriar as coisas, né”
O delegado Leo Garrido pergunta “Presidente vai dar pra trás em q?” e Soares responde: “Vai fugir”.
Revolta pelos comandantes do Exército e da Aeronáutica não aceitarem o plano golpista
“Exatamente, Garnier foi o único, cara, o único. A Marinha desde o começo, foi a única que apoiou ele 100%. O resto tirou o corpo”
Tentativa frustrada de golpe
Após Flávio Quirino encaminhar uma mensagem relatando uma operação da Polícia Federal, ocorrida no dia 29/12/2022, contra pessoas envolvidas nos atos de vandalismo e tentativa de invasão à sede da Polícia Federal no dia 12 de dezembro de 2022, Soares encaminha uma mensagem avisando que o golpe de Estado não se consumaria. Diz: “Não vai mais rolar..!!”. O interlocutor Flávio Quirino indaga o motivo e o policial, fazendo referência ao então presidente Bolsonaro, diz: “o técnico não conseguiu os jogadores certos”
Estoque de comida
A esposa de Soares manda mensagem a uma amiga: “Gata, prepare-se para dias muito difíceis. Estoque comida e água e remédios de uso diário. Se acontecer algo, estaremos preparados (…)”.