O presidente Lula resolveu abraçar publicamente a pauta do fim da jornada de trabalho 6 por 1 ao citar pela primeira vez o assunto em seu pronunciamento no Dia do Trabalhador semana passada. A menção surpreendeu alguns observadores, dada a frieza com que o Palácio do Planalto vinha tratando o tema desde que a deputada federal Erika Hilton (PSol-SP) o trouxe novamente à tona, no fim de 2024.
Pesquisas internas e externas vinham apontando há meses a grande aprovação do fim da jornada 6 por 1 por parte dos brasileiros. Alguns institutos, como o Datafolha, chegaram a mostrar um aval popular de 64%. Lula, que emergiu para a política no berço do movimento sindical, entendia que esse é um tema para as convenções coletivas, negociadas entre patrões e sindicatos. A mesma posição histórica tem o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, outro egresso do sindicalismo, que agora também defende a mudança.
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Fontes do Palácio afirmam que a nova postura é uma vitória do Secretário Especial de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira — marqueteiro de Lula na campanha de 2022 e, provavelmente, em 2026. Interlocutores afirmam que foi um longo trabalho de convencimento do presidente até que ele resolvesse colocar o peso do governo para trabalhar pela mudança constitucional.
Há, porém, dúvidas dentro do Planalto sobre as reais chances de a proposta prosperar no Congresso. Mesmo assim, o governo está decidido a chamar todos os atores econômicos para debater o assunto: sindicatos, grandes indústrias, pequenos comércios, setores como o hoteleiro, entre outros. A partir daí, deverá sair a proposta para um novo modelo de trabalho: se será uma jornada de 4 por 3 ou de 5 por 2, esta segunda tida como mais realista no momento. Alguns interlocutores falam ainda em um tempo de transição da jornada 6 por 1 para qualquer outra que venha a ser aprovada.
Porém, mais do que obter o aval no Congresso, o que o governo pretende é mostrar à população que está liderando um processo de diálogo acerca do tema. Ou seja, além de abraçar uma causa popular, também existe a estratégia de tirar o governo da defensiva. Depois de ser empurrado para as cordas nos casos do Pix e do escândalo dos descontos indevidos do INSS, o Palácio do Planalto busca agora pautar o debate público.
Agenda se junta às demais pautas do governo que miram 2026
Ao lado do fim da cobrança de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e da PEC da Segurança Pública, o fim da jornada 6 por 1 se tornou prioridade do governo no Congresso, como já dito publicamente pela ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais).
Esses movimentos têm em vista a eleição de 2026. Lula precisa chegar forte na virada do ano, ou no máximo em abril do ano que vem, a fim de montar suas alianças e desestimular adesões de partidos de sua frágil base parlamentar para uma candidatura forte de oposição. A ver se conseguirá.