Brasil pode liderar transição energética – se souber financiar seu sol

A transição energética do Brasil já começou — e ela não depende apenas de megaprojetos centralizados ou subsídios públicos. Ela está acontecendo, sobretudo, nos telhados de casas, comércios e propriedades rurais, onde cresce a adoção da energia solar distribuída.

Em 2024, o setor movimentou R$ 54,9 bilhões em investimentos, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). O país já figura entre os maiores produtores mundiais de energia solar, impulsionado por uma combinação rara de vantagens: alta incidência solar, avanços tecnológicos e maior consciência ambiental.

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Mesmo as regiões consideradas menos ensolaradas do Brasil recebem mais radiação solar do que o ponto mais irradiado da Alemanha — país pioneiro na adoção da energia fotovoltaica. Com esse potencial, o país tem a chance real de liderar uma nova matriz energética global. Mas para isso, precisa enfrentar um desafio central: o financiamento.

Apesar do cenário favorável para a energia solar no Brasil, o custo do capital permanece elevado — cenário agravado por juros ainda altos. O resultado é que milhares de famílias e pequenos empreendedores com interesse em gerar sua própria energia esbarram em barreiras de acesso.

É nesse ponto que o mercado de capitais pode cumprir um papel estratégico. Estruturas como debêntures, certificados de recebíveis e FIDCs — os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios — têm viabilizado o financiamento em escala de projetos solares para consumidores finais. Trata-se de uma engenharia financeira que conecta investidores a iniciativas de impacto ambiental direto.

A Solfácil, por exemplo, estruturou desde 2020 seis FIDCs classificados como verdes, que já captaram mais de R$ 4 bilhões para financiar sistemas solares em residências, comércios e indústrias. O fundo mais recente, lançado em fevereiro, arrecadou R$ 1 bilhão, com a meta de financiar cerca de 50 mil novos sistemas no país.

A relevância desses fundos vai além da captação. De acordo com a Resolução CVM 175/2022, os FIDCs que se apresentam como “verdes” precisam seguir critérios rigorosos de transparência, rastreabilidade e certificação por entidades independentes. Isso oferece segurança jurídica e assegura que os recursos sejam, de fato, direcionados a projetos com impacto socioambiental positivo.

A arquitetura dessas operações é colaborativa: envolve investidores, originadores, parceiros e consumidores em uma engrenagem que entrega escala, eficiência e inclusão. Ao financiar um sistema solar, o fundo não apenas remunera o capital investido, mas também estimula geração de empregos, redução de emissões e alívio no orçamento das famílias.

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A experiência brasileira mostra que é possível conciliar retorno financeiro com responsabilidade ambiental. Mas também deixa claro que o avanço da energia solar depende da maturação de um ecossistema financeiro alinhado a essa nova realidade. O crédito verde, quando bem estruturado, pode ser a alavanca que faltava para ampliar o alcance da energia solar no país.

Temos o sol, temos o conhecimento técnico e agora também começamos a construir os instrumentos certos. O Brasil tem tudo para liderar a transição energética — mas para que ela chegue ao telhado de milhões de brasileiros, será preciso reforçar o compromisso com inovação, inclusão e sustentabilidade.

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