A bioeconomia é uma atividade econômica que utiliza recursos biológicos e renováveis de forma sustentável. No Brasil, em 2019, o PIB da bioeconomia representou 19,6% do PIB total do país, segundo a Fundação Getulio Vargas. Nesse contexto, a bioeconomia vem se consolidando como uma das áreas de grande potencial para o desenvolvimento sustentável no Brasil, especialmente em estados como Mato Grosso, que tem rica biodiversidade e vastas áreas agrícolas.
O setor agropecuário, que domina a economia local (50% do PIB de Mato Grosso, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), enfrenta o desafio de adotar soluções inovadoras que integrem a conservação ambiental à produção agrícola. Diante disso, surgem diversas oportunidades de empreendedorismo na bioeconomia, que vão desde o uso sustentável dos recursos naturais até a criação de novos modelos de negócios que respondam às crescentes demandas globais por práticas mais responsáveis.
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Em uma primeira análise, percebe-se que o estado de Mato Grosso — o maior produtor de soja, milho e carne bovina do Brasil —, também é um dos principais guardiões da biodiversidade nacional, abrigando parte da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal. Nesse cenário, o estado se apresenta como um polo de oportunidades para empreendedores dispostos a desenvolver modelos econômicos que utilizem recursos biológicos de maneira sustentável.
A produção de alimentos sustentáveis, a bioenergia, a indústria de cosméticos e medicamentos, e a recuperação de áreas degradadas são apenas algumas das vertentes capazes de gerar empregos, renda e valorização dos recursos naturais.
Se imergimos dentro da bioeconomia, uma oportunidade de inovação é nas questões de restauração florestal produtiva. De acordo com o Termômetro do Código Florestal, Mato Grosso tem mais de 4 milhões de hectares de passivo de Reserva Legal – áreas em propriedades rurais privadas que, por lei, deveriam manter a cobertura de vegetação nativa, mas estão desmatadas. E ainda 314 mil hectares de passivos de Áreas de Preservação Permanente (APP) como margens de rios e nascentes, que também precisam ser recuperadas.
A regularização ambiental não é apenas uma questão de conformidade legal, mas também uma estratégia para aumentar a competitividade e fortalecer modelos de negócios sustentáveis. A restauração florestal produtiva vai além do cumprimento de exigências legais. Ela propicia recuperação de passivos ambientais, buscando gerar valor econômico por meio da implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) que combinam o cultivo de frutas nativas, como pequi, baru e babaçu, com a produção madeireira sustentável. Esses sistemas proporcionam renda contínua para comunidades locais, restauram ecossistemas e atendem à demanda por produtos florestais sustentáveis.
Outro fator que torna a bioeconomia um campo promissor para empreendedores locais são os incentivos públicos e programas de fomento. Iniciativas como o Inova Amazônia, Inova Cerrado, Inova Pantanal e o Sinapse da Bioeconomia estão disponíveis para apoiar empreendedores que desenvolvem soluções inovadoras voltadas à sustentabilidade e ao uso responsável dos recursos naturais. Esses programas oferecem subvenções, mentorias e acesso a redes de investidores, viabilizando o desenvolvimento de novos modelos de negócios alinhados às demandas ambientais e sociais da região.
As universidades e instituições de pesquisa também desempenham um papel fundamental nesse processo, sendo agentes-chave de ideias inovadoras. Elas não apenas produzem conhecimento científico e desenvolvem tecnologias, como também têm a capacidade de formar e preparar empreendedores para submeter projetos de impacto a esses programas, transformando pesquisas acadêmicas em soluções práticas e viáveis.
Em parceria com o setor privado e o governo, essas instituições podem impulsionar o desenvolvimento de soluções locais, que vão desde a restauração de ecossistemas até a criação de novos produtos e serviços sustentáveis.
Outro segmento de grande potencial na bioeconomia é o mercado verde, que abrange uma variedade de produtos e serviços sustentáveis. Desde cosméticos naturais, feitos a partir de óleos essenciais de plantas nativas, até bioenergia proveniente de resíduos agropecuários e florestais. Com o avanço das mudanças climáticas aumenta a demanda por soluções que combinem inovação, responsabilidade ambiental e viabilidade econômica.
Em um estado com características únicas como Mato Grosso, onde a atividade agropecuária é fortemente presente, a bioeconomia surge como uma oportunidade estratégica para o desenvolvimento local, a geração de empregos e o fortalecimento dos ecossistemas.
Startups e empreendedores desempenham um papel essencial, criando soluções que vão além do atendimento às necessidades econômicas: são iniciativas fundamentais para a conservação ambiental, a restauração de áreas degradadas e a mitigação das mudanças climáticas.
O futuro do desenvolvimento sustentável em Mato Grosso depende diretamente da capacidade de aliar conhecimento científico, inovação e responsabilidade social, transformando os desafios ambientais em oportunidades concretas de crescimento econômico e protagonismo regional.