Governo aposta em Alcolumbre para evitar que União-Progressistas abrace a oposição a Lula

O governo conta com a força do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para evitar que a federação União-PP abrace a oposição nas eleições presidenciais de 2026. Formalizado nesta terça-feira, o acordo cria a maior bancada do Congresso, com 107 deputados e 14 senadores. O agrupamento terá uma maior fatia do fundo partidário e poderá vender mais caro sua adesão a candidaturas na eleição do ano que vem.

No Palácio do Planalto, há ciência da força que a federação União-PP terá na eleição e sua importância para a governabilidade. Mas também há muita dúvida sobre se ela conseguirá efetivamente se viabilizar. Já fragmentado por interesses contraditórios entre seus integrantes, o União Brasil acrescentará o PP à sua receita de conflitos. A começar pelos políticos mais influentes desses dois partidos, é uma mistura difícil de dar liga.

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De um lado, está o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL) e um dos grandes entusiastas de uma candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao Palácio do Planalto em 2026. Oriundo do estado mais lulista da população, Nogueira terá o mandato de senador encerrado no ano que vem e sua maior chance de permanecer com a atual relevância no cenário nacional é ocupar uma vice de Tarcísio ou do candidato bolsonarista à Presidência.

De outro, está Davi Alcolumbre, que chegou a ser visto com ressalvas pelo governo quando Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ainda presidia o Senado. Hoje, o senador amapaense é considerado um aliado estratégico pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Palácio do Planalto, com peso político suficiente para barrar “pautas hostis” no Senado. Espera-se, assim, que ele ajude a evitar o desembarque dessa parte do centrão do governo e um alinhamento a uma candidatura opositora em 2026.

Alcolumbre vem liderando o diálogo com o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre uma proposta alternativa à anistia aos envolvidos nos atos golpistas do 8 de janeiro. Embora busque não se envolver diretamente na controvérsia, o Planalto quer evitar que Bolsonaro e seus auxiliares mais próximos sejam beneficiados pela nova lei. A proposta gestada por Alcolumbre tende a ir nesse sentido.

O presidente do Senado também foi fundamental para encerrar a crise em torno do Ministério das Comunicações, depois da desistência do deputado Pedro Lucas (União-MA), que, de maneira vexatória para Lula, recusou em público um convite que já havia aceitado. Alcolumbre acabou indicando Frederico de Siqueira Filho, então presidente da Telebras, para o posto.

Não por acaso, Lula vem fazendo afagos ao senador. No mês passado, ele fez parte da comitiva presidencial em uma pomposa visita de Estado ao Japão. No último fim de semana, acompanhou Lula no funeral do papa Francisco.

Mas os gestos de Lula a Alcolumbre não devem ficar apenas no simbólico. Fontes no Planalto do Planalto dão como certo o aval do presidente para a exploração de petróleo na margem equatorial, próxima à foz do Rio Amazonas, e creem que resta apenas escolher o momento certo para o anúncio. Talvez seja necessário esperar a reunião da COP30, conferência climática que ocorrerá em Belém em novembro e que tem colocado a política ambiental brasileira sob os holofotes do mundo.

Alguns interlocutores do presidente chegam a afirmar que a decisão “já está tomada”. Negar essa autorização seria contrariar os interesses daquele que é provavelmente hoje o parlamentar mais poderoso no Congresso, em um contexto em que o governo tem uma base frágil, com o presidente com popularidade baixa e pouca margem para manejar o Orçamento.

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