Abimo: guerra tarifária pode levar a aumento de preços de dispositivos médicos

A guerra de tarifas iniciada pelo governo de Donald Trump deve ter reflexos importantes no mercado nacional de dispositivos médicos. Coordenador de Acesso a Mercado da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo), José Fernando Dantas, não descartou o risco de as mudanças provocarem uma inflação no setor. “Há uma possibilidade. Porque isso vai mexer com tudo. Não só a exportação, mas a importação. Se houver aumento do preço do insumo, haverá reflexos no produto final. Isso vai causar alguma consequência”, disse ao JOTA.

Dantas afirmou que o momento entre os empresários é de cautela. Muitos estão adiando investimentos. Ele dá exemplo de associadas que estão revendo planos de abrir escritórios nos Estados Unidos. O coordenador observa, ao mesmo tempo, que a Abimo tem afirmado aos associados para ficarem atentos às oportunidades.

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Mais exportações

A mudança na política de tarifas ocorre num momento de expansão das exportações de dispositivos médicos para os Estados Unidos. No ano passado, as vendas para aquele país aumentaram em 27%. “Entre os principais concorrentes do Brasil no mercado norte-americano estão países europeus e a China, que comparativamente receberam tarifas muito maiores do que a do Brasil.” Essa mudança, avalia, pode abrir espaço para que produtos brasileiros ganhem maior competitividade.

“As primeiras exportações brasileiras para os Estados Unidos com essa tarifa devem acontecer nesses próximos dias. Isso ainda está entrando em vigor, então isso vai ser percebido no ato”, disse. “Mas o que estamos dizendo é que as empresas devem ficar atentas.”

Os dispositivos médicos mais exportados para os Estados Unidos são curativos, agulhas e válvulas cardíacas, alguns produtos ortopédicos e material odontológico. Os preços brasileiros eram comparativamente maiores que os da China.

Uma das possibilidades é de que empresas americanas, diante da perspectiva de aumento de tarifa, se antecipem e ampliem as compras de países que deverão ser super taxados antes que tarifas passem a valer. “São vários os cenários. A gente não consegue prever. O que a gente tem reforçado enquanto associação é que as empresas aproveitem a oportunidade e tentem expandir suas exportações”.

Dantas afirma que um eventual aumento de demanda de produtos brasileiros poderia ser atendida. O Brasil já importa uma parte importante de insumos. Produtos chineses e europeus que antes abasteciam o mercado americano podem, numa rota alternativa, tentar encontrar mercado no Brasil uma opção.

A expectativa de Dantas é que a mudança possa levar a um aumento de preços de produtos brasileiros no mercado internacional. Ele acha mais difícil, no entanto, que isso ocorra no mercado interno. “O mercado nacional é limitado, sobretudo no setor público. Está tudo mais engessado, não há tanta margem. Eu acredito que o mercado internacional é bem mais propenso a aumentar o preço do que o nacional.” Mas ele não descarta essa possibilidade. “Sobretudo se houver um aumento no valor dos insumos.”

As importações no Brasil aumentaram ano passado. A balança comercial do setor de dispositivos médicos fechou 2024 com um déficit de pouco mais de US$ 8 milhões. O país que mais vende para o Brasil é os Estados Unidos, seguido pela Alemanha, China, Irlanda e Suíça. Entre os itens importados estão produtos imunológicos para uso laboratorial, instrumentos e aparelhos para medicina e cirurgia, reagentes de diagnóstico laboratorial e sondas e cateteres.

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