Qual T a elite vai fazer em 2026: Tarcísio, Trump ou traíra?

Em meados de março, uma revista semanal publicou uma capa com o título O Plano T, uma referência à potencial candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), à presidência da República como principal representante da direita no lugar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), que já está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e acaba de se tornar réu por chefiar a trama golpista que culminou no 8 de janeiro de 2023.

O fato de a elite econômica e até mesmo segmentos significativos da elite intelectual estarem ansiosos para fazer o T de Tarcísio contra o L de Lula em 2026 não é segredo para ninguém. A questão na conjuntura atual reside nos vários significados de adotar o plano T. Ele também pode significar T de Donald Trump, o atual presidente dos EUA, e, portanto, de traidor—não do bolsonarismo, mas do Brasil. 

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O silêncio ensurdecedor de Tarcísio em relação à política tarifária de Trump, que matou o multilateralismo comercial de vez e deu início a uma muito provável recessão global, e sua notória incapacidade ou falta de vontade de expressar qualquer pensamento acerca das relações exteriores brasileiras leva-me a perguntar se fazer o T em 2026 é fazer o jogo dos interesses de Washington numa era em que as grandes potências retornaram ao imperialismo de conquistas territoriais e divisão do mundo em esferas de influência.

Em era de competição geopolítica e geoeconômica, na qual se anuncia uma busca sangrenta pelo controle de recursos naturais e formação de governos-fantoches para as grandes potências consolidarem aquelas esferas, todo cuidado é pouco para que não surjam quintas colunas—ou seja, traidores da pátria. Quem quiser se apresentar para disputar a liderança de um país como o Brasil, uma das 10 maiores economias do mundo, não pode se eximir desse debate.

Fazer o T ou qualquer letra em substituição a Bolsonaro no campo da direita em 2026 pode, no fim das contas, significar traição. O silêncio sobre questões de política externa não apenas é ensurdecedor em Tarcísio, mas também em outros presidenciáveis da direita, como os governadores Ratinho Júnior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO).

Caiado pelo menos não passou a vergonha de usar um boné vermelho com a mensagem central do trumpismo Make America Great Again, como Tarcísio fez. No entanto, tal como seus colegas de direita, viu a vitória de Trump como positiva para a direita ao redor do mundo.

Estadistas não pensam em termos partidários, mas vislumbram o que é necessário para o fortalecimento das nações que querem liderar ou que ambicionam controlar. Com o nacionalismo de volta à baila, usar o boné MAGA é o suficiente para ganhar a alcunha de traíra. Ou deveria ser, caso o debate político à direita não tivesse sido sequestrado pelo bolsonarismo.

A manifestação de direita pró-anistia no último domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, recebeu um público razoável, com cerca de 45 mil participantes. No contexto de pesquisas que ainda indicam Lula como favorito para 2026, a força do bolsonarismo e seus satélites menos brutos revelam que estamos rumo em mais um ciclo eleitoral acirrado.

Fosse a direita menos radical, haveria espaço para fazer outro T, de Simone Tebet (MDB-MS), atualmente ministra do Planejamento de Lula. Como já dito outras vezes, ela encarna a verdadeira centro-direita no contexto brasileiro.

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Solapada pelo T de tarifas de Trump, que desencadeou perdas em ativos ao redor do mundo, a elite econômica poderia ter juízo e relembrar o que fez o Brasil figurar entre os 10 maiores PIBs do mundo: o T de trabalhismo. O pacto entre capital e trabalhadores que prevaleceu no nacional-desenvolvimentismo entre 1930 e 1980, o qual teve até mesmo a adesão da direita autoritária na forma de ditadura militar. Apoiada pelos EUA, não ficou, no entanto, de joelhos para Washington. 

Lealdade à pátria, porém, não é o forte da elite brasileira. Basta lembrar na versão original de Vale Tudo, o personagem Marco Aurélio—um empresário corrupto—foge do país dando uma banana para os que ficaram. Ainda estamos aqui e ainda ficaremos enquanto o Brasil existir, não obstante as evidências nítidas de trairagem que vem da direita que se diz patriótica e usa camisa da seleção, mas não hesita em bater bumbo para Trump et caterva.

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