O julgamento político de Bolsonaro e seus reflexos no Brasil de 2026

No dia 25 de março de 2025, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou por unanimidade a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete de seus aliados mais próximos, tornando-os, assim, réus por crimes graves como tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. De acordo com a denúncia, os oito acusados integram o “Núcleo 1”, ou “Núcleo Crucial”, de uma organização criminosa que buscava impedir o regular funcionamento dos Poderes da República e depor o governo legitimamente eleito.

O aceite da denúncia significa que os ministros – no caso, os que compõem a 1ª Turma – em juízo de cognição inicial, julgaram presente a justa causa para instauração de uma ação penal, ou seja, o recebimento da denúncia em si não juízo de mérito, mas oficializa que foram reunidos indícios de crime e materialidade suficientes para que haja o início de um processo judicial. 

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Agora, o processo entra na fase chamada de instrução penal, que envolve a coleta de provas, a realização de diligências, como perícias, e o depoimento das partes e testemunhas – que podem chegar a 320 no total. A decisão, baseada em investigações sobre os eventos que culminaram nos atos de 8 de janeiro de 2023, marca um momento importante na história política brasileira contemporânea e promete reverberar na conjuntura nacional, especialmente nas eleições gerais de 2026. 

O julgamento intensifica a já acentuada polarização política no Brasil. Para os bolsonaristas, a decisão do STF é vista como uma perseguição orquestrada e serve como combustível para intensificar a narrativa de perseguição política. De outro lado, os críticos do ex-presidente comemoram a decisão e a associam à vitória da democracia contra ameaças autoritárias, narrativa que ecoa no exato tom do discurso do presidente Lula e seus correligionários. Essa dicotomia deve aumentar os ânimos da participação eleitoral em 2026, com ambos os lados buscando capitalizar o desfecho do caso por meio do voto.

Desde 2018, Bolsonaro se colocou como figura central do movimento conservador no país, e sua inelegibilidade e possível prisão podem materializar um vácuo político que colocará em xeque suas alianças e desencadeará uma complexa tentativa de emplacar novas lideranças no campo da direita. Esse cenário é ainda agravado por movimentos como as disputas internas nos bastidores dos partidos políticos.

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Enquanto isso, a esquerda e o próprio governo enfrentam seus desafios de “mostrar serviço” e fortalecer a popularidade de Lula. Em diferentes e recentes pesquisas de popularidade do atual governo, o resultado é o mesmo: a aprovação ao governo do petista cai enquanto a desaprovação aumenta. A inflação, em especial sobre o aumento no preço dos alimentos, é um dos elementos centrais desse descontentamento crescente. O governo tenta contornar a narrativa mas segue com dificuldades de obter um reconhecimento mínimo pelas políticas positivas.

Nos bastidores, há uma corrida política por recursos partidários e o controle das máquinas eleitorais. O avanço nas negociações para a formação de uma federação entre grandes partidos do centro representa um movimento significativo na reorganização política do Brasil rumo às eleições de 2026. As alianças partidárias visam maximizar recursos do Fundo Partidário e tempo de TV, além de unificar candidaturas para as eleições de 2026. 

Os partidos Progressista (PP) e União Brasil (UNIÃO), dois pilares do chamado Centrão, iniciaram discussões sobre uma federação partidária ainda em 2023, com a possibilidade de incluir o Republicanos em uma “super federação” que reuniria mais de 150 deputados e 17 senadores. A ideia era criar o maior bloco parlamentar do Congresso, superando o Partido Liberal (PL), atual partido de Jair Bolsonaro, e consolidar o poder de agenda e barganha do Centrão perante o governo Lula e a oposição. 

No entanto, divergências regionais e estratégicas levaram o Republicanos, partido do governador de São Paulo – Tarcísio de Freitas, a se afastar do acordo, abrindo caminho para uma federação bipartite entre PP e União Brasil. Essa aliança certamente redefinirá o equilíbrio de forças no Congresso Nacional e deverá movimentar a dinâmica partidária nacional e estadual nas eleições de 2026. Os dois partidos compartilham um perfil conservador de centro-direita, com histórico de apoio pragmático a diferentes governos, como o do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Na configuração da eventual ausência de Bolsonaro como candidato, a direita brasileira deve ver surgir uma competição para ocupar seu espaço no palanque conservador. Diversos nomes despontam como possíveis sucessores, cada um trazendo características distintas que podem atrair ou dividir o eleitorado, seja ele conservador, moderado ou indeciso. 

É pertinente supor que uma possível disputa por uma nova liderança em substituição a Bolsonaro possa desencadear uma divisão ou um confronto dentro da própria ala conservadora. Não seria algo inédito, nem tampouco o último episódio desse tipo. 

O campo conservador pode, ainda, ver o surgimento de novas lideranças, que talvez busquem se distanciar do ex-presidente para atrair eleitores em busca de renovação. Políticos de perfil mais moderado dentro da direita podem se destacar ao adotar uma postura mais conciliadora, buscando ampliar o apelo junto a um eleitorado que rejeita a polarização.

O cenário atual de Bolsonaro como réu irá tanto dificultar sua aceitação pelos simpatizantes quanto inflamar a reação de seus apoiadores irrestritos. Lula, por sua vez, tem uma situação mais confortável por estar no poder, mas ainda precisará apresentar resultados concretos para reconquistar o eleitorado. Assim, para 2026, a habilidade dos candidatos em conquistar e mobilizar seus apoiadores por meio de narrativas claras e eficazes será fundamental para enfrentar o ambiente polarizado e influenciar as decisões dos eleitores, especialmente dos 31 milhões de brasileiros que não compareceram às urnas em 2022[1].

A tendência de aumento da polarização, especialmente diante de eventos históricos, como o julgamento de Bolsonaro, pode ser um fator importante para a abstenção em 2026. Embora parte desse eleitorado esteja distante da política, um fortalecimento de narrativas em torno da democracia e da luta contra a corrupção pode mobilizar segmentos da população que historicamente se sentem desconectados do processo eleitoral. Sem falar no contexto econômico do país que pode mobilizar pessoas a buscar mudanças no cenário político. 

Além das repercussões internas, o julgamento de Bolsonaro também pode afetar a posição do Brasil no cenário internacional. Países que apoiaram o ex-presidente, como os EUA sob Trump, podem observar o desfecho com atenção, especialmente em relação às perspectivas de políticas exteriores futuras, enquanto governos de orientação mais progressista poderão usar o caso como exemplo de defesa dos pilares democráticos.


[1] https://www12.senado.leg.br/tv/programas/noticias-1/2022/10/eleicoes-2022-abstencoes-superam-31-milhoes-e-correspondem-a-20-dos-eleitores (acesso em 01/04/2025)

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