A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) divulgou nesta terça-feira (25/3) que aumentou o percentual de bloqueios, pelas operadoras de saúde, nos pagamentos devidos a hospitais por serviços prestados a beneficiários. Segundo pesquisa da Anahp, os hospitais privados deixaram de receber R$ 5,8 bilhões no ano passado por serviços prestados e posteriormente com pagamentos retidos pelas operadoras – o equivalente a 15,89% de todo o faturamento obtido de planos, um aumento significativo em relação aos 11,8% registrados em 2023. O estudo, com uma amostra do setor, mostra que apenas 1,96% das contas retidas foram consideradas realmente justificadas.
O diretor-executivo da Anahp, Antônio Britto, destaca que esse aumento nas retenções ocorreu mesmo depois da alta de 271% no lucro líquido do setor, que chegou a R$ 11,1 bilhões no ano passado, de acordo com balanço recente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O executivo avalia que esse percentual de atrasos sufoca o segmento hospitalar e não é sustentável para o sistema de saúde. Britto expõe algumas hipóteses para o crescimento das retenções.
Com notícias da Anvisa e da ANS, o JOTA PRO Saúde entrega previsibilidade e transparência para empresas do setor
“Nós achamos que as operadoras podem estar cautelosas ainda sobre o cenário ou podem estar confortáveis com o sapato novo que estão usando, de uma glosa (bloqueio) de 15%. E o que estamos aqui calmamente lembrando é que seja pela cautela, seja por estarem com sapato novo confortável, essa glosa não é sustentável, porque está apertando fortemente o fluxo de caixa dos hospitais”, afirmou Britto em entrevista ao JOTA.
O executivo sugere que a ANS monitore o percentual inicial de retenções nos pagamentos, tão logo sejam efetivadas, pois isso atualmente não entra nos demonstrativos financeiros acompanhados pela agência. Só o percentual fechado de pagamentos retidos, ao fim do período contábil, acaba registrado nesses demonstrativos, de acordo com o diretor-executivo da Anahp. Por isso, o monitoramento, desde o início, ajudaria a evitar o estrangulamento das finanças dos hospitais.
O estudo da Anahp aponta como consequência desses atrasos nos pagamentos a redução no investimento em infraestrutura, leitos e tecnologia hospitalar. Cerca de 41,7% dos hospitais consultados na pesquisa afirmaram que investiram menos do que o planejado em 2024, o que compromete o atendimento e prejudica também as próprias operadoras.
Além disso, o volume de provisões para devedores duvidosos também cresceu: saltou de R$ 1,4 bilhão em 2023 para R$ 1,8 bilhão em 2024.
Durante evento organizado pela Anahp sobre o setor nesta terça-feira (25/3), Luiz Feitosa, da consultoria Arquitetos da Saúde, destacou ainda que a velocidade dos pagamentos aos hospitais caiu consideravelmente.
Os consultores e a associação mencionam ainda como riscos a observar as deliberações sobre mudanças nas regras de preços para operadoras e o possível lançamento de uma nova categoria de plano (sem direito a internação hospitalar).
“Vemos parte do setor de saúde achando que vão conseguir salvar a própria pele sem que a gente pense na situação de todos os elos da cadeia. O sistema precisa dialogar de verdade sem esquecer dos hospitais e demais prestadores de serviços”, afirma Britto.