Cenário de incertezas impõe desafios e oportunidades ao agro

O agronegócio brasileiro desempenha um papel fundamental na economia nacional, refletido em sua significativa participação no PIB, estimado em R$ 2,72 trilhões, equivalente a 22% da geração de riquezas do país. As projeções apontam para um crescimento tímido do PIB do setor em 2024, mas a tendência para 2025 é de alta entre 5% e 6%.

Entretanto, apesar da perspectiva de alta, o contexto macroeconômico pode trazer reflexos importantes. Escassez de crédito, juros elevados, inflação acima da meta e concorrência no mercado internacional são alguns dos desafios que exigirão atenção redobrada dos executivos que lideram as agendas do setor.

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Por outro lado, há também um mar de oportunidades que podem ser aproveitadas pelos produtores brasileiros no mercado internacional. Eventuais aumentos de taxação por parte do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conforme ameaça do líder norte-americano, podem beneficiar o agronegócio brasileiro e ampliar mercados com países como a China, por exemplo.

Um dos obstáculos a superar é que existe um passivo do ano passado, já que o resultado de 2024 ficou aquém do esperado, principalmente pela queda no preço das commodities, causado pelo excesso de oferta e alto volume de estoques.

Estados Unidos e Argentina, dois dos principais concorrentes do Brasil no agronegócio, especialmente em áreas como a produção de soja, milho, carne bovina e frango, tiveram safras acima da média em algumas culturas e elevaram a oferta. Motivado pelo crescimento da colheita, as exportações de grãos e derivados da Argentina chegaram a US$ 25 bilhões em 2024, segundo o Conselho Agroindustrial Argentino (CAA), o que representa um aumento de 27% em relação a 2023.

Já nos Estados Unidos, o volume total exportado de commodities a granel totalizou US$ 191 bilhões, aponta o Serviço Agrícola Estrangeiro (FAS) do Departamento de Agricultura do país (USDA). O valor é 22% superior ao ano anterior e o maior crescimento anual em uma década.

Ao mesmo tempo em que viram a margem cair, os produtores brasileiros precisaram lidar com a alavancagem. O ciclo positivo do setor nos últimos anos fez o produtor investir em maquinário, colheitadeira, área de plantio e mão de obra. Por isso, essa virada do preço das commodities, somada a fatores macroeconômicos e o nível de alavancagem maior, que reflete no crescimento de recuperações judiciais, traz um cenário de incertezas e preocupações para o agronegócio em 2025.

As conjunturas macroeconômicas impõem desafios para todas as indústrias brasileiras, mas o agronegócio fica ainda mais exposto diante da sua grande relevância na economia nacional e da natureza da atividade, que demanda muito crédito. O custo desse crédito está cada vez mais elevado por causa alta da Selic – e deve ficar ainda pior.

Especialistas apontam que a taxa de juros pode chegar a 15% no segundo semestre, tornando elevada a obtenção de crédito. Vale lembrar que o fazendeiro precisa investir capital para operar, e o retorno desse investimento ocorre somente após alguns meses, geralmente entre 6 e 8 meses, dependendo da cultura e do ciclo produtivo. Ou seja, o agronegócio é um setor intensivo em capital.

Até mesmo os subsídios do governo para o campo estão sob ameaça. O Plano Safra chegou a ter novas contratações de financiamento suspensas pelo Tesouro Nacional por falta de recursos orçamentários. Entretanto, a pressão de produtores e entidades do setor fez o governo recuar e publicar Medida Provisória para liberar R$ 4,18 bilhões em crédito extraordinário para o Plano Safra e, assim, evitar sua descontinuidade. Ao menos por enquanto, mas sem garantias de novos cortes.

Diante desse contexto, o principal desafio para o produtor rural brasileiro na maximização da margem de lucro será aprimorar a eficiência operacional. Já é possível observar, em algumas regiões nesta safra, um aumento na produtividade, refletindo um melhor ajuste nos custos de produção. É justamente aí que os executivos que lideram empresas do setor terão papel crucial. A busca por vantagem competitiva, a otimização de processos e a redução de gaps operacionais serão determinantes para manter a competitividade.

O cenário econômico atual coloca a agenda de eficiência no topo das prioridades para executivos de todos os setores. Ajustes nas cadeias de valor e nos modelos de negócio são essenciais, assim como a reavaliação de portfólios de produtos, a otimização de equipes e a revisão dos planos de alocação de capital. Diante de um custo de capital elevado, a redução dos níveis de endividamento torna-se fundamental para a preservação da liquidez.

Além disso, bancos e investidores estão adotando critérios mais rigorosos na concessão de crédito, exigindo menor alavancagem e maior previsibilidade financeira por parte das empresas. Em um ambiente de restrição e seletividade no financiamento, a disciplina na gestão de capital será um diferencial competitivo para garantir a sustentabilidade dos negócios.

E não é só isso. O executivo precisa estar atento à gestão de risco, incluindo possíveis aumentos tarifários, conforme propagado por Trump, a volatidade do câmbio, eventos climáticos extremos que podem impactar a agricultura brasileira e até mesmo mudanças proporcionadas pela reforma tributária.

Portanto, os executivos responsáveis por essas agendas devem estar preparados para conduzir as empresas com firmeza e visão estratégica. O cenário atual é de alta volatilidade, com riscos e oportunidades em constante mudança. Aqueles que conseguirem antecipar tendências, tomar decisões ágeis e navegar com assertividade nesse ambiente incerto estarão mais bem posicionados para transformar desafios em vantagem competitiva.

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