Ciência e justiça social precisam caminhar lado a lado

Imagine uma criança que, desde os primeiros anos de vida, enfrenta a picada da agulha todos os dias. Não apenas uma vez. Duas, três, quatro vezes por dia. Todos os dias. Para sobreviver. Essa é a realidade de quem vive com Diabetes Tipo 1 (DM1), uma doença autoimune cruel, que destrói as células do pâncreas responsáveis por produzir insulina. E sem insulina, a vida não é possível.

Por isso, a recente aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da primeira insulina semanal do mundo para quem tem Diabetes Tipos 1 e 2 trouxe um sopro de esperança. Um alívio no peito de milhares de brasileiros que sonham, um dia, poder dizer: “Hoje, não preciso me furar”.

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Sonham com o dia em que a rotina não será mais comandada pelo medo constante de uma hipoglicemia, pelos cálculos intermináveis de carboidratos, e pelas marcas que as agulhas deixam – não apenas na pele, mas na alma.

Mas, enquanto a ciência avança, o Congresso Nacional tem diante de si um compromisso inadiável com a justiça e a dignidade. Um compromisso do qual nenhum parlamentar pode se ausentar.

Em janeiro deste ano, o presidente da República vetou o PL 2687/2022, que reconhecia o Diabetes Tipo 1 como deficiência. Um reconhecimento que mudaria a vida de 588 mil brasileiros que convivem com essa doença. Que garantiria direitos concretos, como prioridade no atendimento público, acesso facilitado a medicamentos e tratamentos gratuitos, inclusão no mercado de trabalho, no sistema educacional, e em tantos outros espaços, onde hoje essas pessoas ainda enfrentam portas fechadas.

Como explicar para uma mãe, que se levanta de madrugada todos os dias para medir a glicemia do filho, com medo de que ele não acorde, que o Estado brasileiro não o considera merecedor desses direitos? 

Como dizer a um pai, que luta para equilibrar as contas diante dos custos com insulina, sensores, fitas e agulhas, que o governo não reconhece seu filho como uma pessoa com deficiência, embora ele precise de suporte para viver com dignidade?

É preciso repetir: Diabetes Tipo 1 não é escolha, não tem cura e não tira férias. A doença não dá trégua. Por isso, negar que é uma deficiência é fechar os olhos para uma realidade dura, vivida todos os dias, todos os minutos, por milhares de famílias brasileiras.

Não se trata de piedade, mas de justiça. De dignidade. E quem pode devolver essa dignidade agora é o Congresso Nacional. Senhoras e senhores parlamentares, derrubar esse veto é um ato de humanidade. É devolver a essas pessoas o reconhecimento que merecem, os direitos que precisam para viver com mais qualidade, menos medo, e mais esperança.

Sim, estamos felizes com a aprovação da insulina semanal, que, em breve, poderá aliviar o sofrimento de muitos. Mas não podemos esperar para garantir o básico: o direito à vida com dignidade. Ciência e justiça social precisam caminhar lado a lado.

Que o Brasil se coloque ao lado das crianças e adultos com Diabetes Tipo 1. Que nossos parlamentares ouçam o grito silencioso de quem enfrenta uma batalha diária, invisível aos olhos de muitos. Porque quem vive com Diabetes Tipo 1 não precisa de mais barreiras. Precisa de apoio, compreensão e direitos assegurados em lei.

Por isso, derrubar o veto presidencial ao PL 2687/2022 é um dever de todos que acreditam na dignidade humana e no direito à vida plena. Pelo direito à esperança. Pelo direito de sonhar com dias menos dolorosos. Vamos dizer não ao veto presidencial.

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