Chance de reeleição ou risco à vista? O que a (im)popularidade de Lula diz sobre 2026

Como se sabe, a popularidade do governo Lula segue em baixa, com as pesquisas mais recentes, divulgadas agora em março, indicando uma desaceleração nessa tendência. Embora o padrão de queda no início do ano seja esperado, a sua intensidade preocupa o governo, que corre para aprovar medidas “populares” na tentativa de reverter a queda antes que ela se consolide.

Com 42% de aprovação e 53% de reprovação, Lula enfrenta ainda um cenário de desgaste econômico e fragilidade na base de apoio político. O déficit de aprovação — a diferença entre aprovação e desaprovação —, que era de -4 pontos em dezembro, passou para -11 em março. O governo tem agora 19 meses para reagir — será tempo suficiente?

A queda de popularidade não vem do acaso. A combinação de medidas econômicas impopulares e ruídos de comunicação desgastou o governo:

  • O foco na arrecadação assustou a classe média;
  • A desconfiança do mercado disparou o câmbio no fim de 2024;
  • Falhas na comunicação sobre a falsa taxação do pix e o aumento do custo de vida ampliaram a crise;
  • O desgaste recente foi mais intenso do que em crises anteriores, como as geradas com a implementação do Programa Remessa Conforme e a tributação dos importados (Taxa das Blusinhas) em 2023 e 2024.

Apesar de indicadores macroeconômicos positivos nos dois primeiros anos de governo, como crescimento do PIB, queda no desemprego e controle da inflação geral, a percepção dos eleitores é guiada por fatores microeconômicos do dia a dia, como o custo de vida, os preços de itens essenciais e o grau de endividamento das famílias. No fim, é a “inflação sentida” que pesa mais na avaliação do governo do que os dados macroeconômicos.

A grande questão é se Lula terá tempo para reverter esse quadro a ponto de entrar na disputa do próximo ano com uma vantagem sobre as candidaturas oposicionistas.

Olhando para 2026

Mesmo com aprovação em baixa, Lula ainda tem tempo para reagir. Olhando o passado, no mesmo período do mandato, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrentava uma desaprovação majoritária de 57%, enquanto apenas 36% aprovava sua gestão. Ou seja, um quadro ainda mais negativo, com um saldo de aprovação pior (-21 pontos).

Até outubro do ano seguinte, às vésperas da eleição de 2022, os números melhoraram, mas ainda permaneceram negativos: 51% de desaprovação, contra 44% de aprovação, no consenso das pesquisas. No segundo turno da eleição, Bolsonaro obteve 43,2% dos votos totais (49,1% dos válidos), um percentual muito próximo da taxa de aprovação aferida pelo agregador do JOTA.

Eleições majoritárias no Brasil, quando há um incumbente na disputa, seguem uma dinâmica previsível: sua votação tende a espelhar diretamente seu nível de popularidade no período pré-eleitoral.

A leitura objetiva desses números mostra que, apesar da queda na aprovação de Lula — com 53% de desaprovação e 42% de aprovação — ainda há espaço para recuperação, assim como ocorreu com Bolsonaro entre 2021 e 2022.

No entanto, os cenários são distintos: enquanto Bolsonaro enfrentava os impactos da pandemia, que levaram à recessão, ao aumento do desemprego e a críticas sobre sua gestão da crise sanitária, Lula lida com um desgaste predominantemente econômico, impulsionado pelo alto custo de vida, o endividamento das famílias e a percepção de que a economia não avança no ritmo esperado pela população.

Em outras palavras, enquanto Bolsonaro lidou com um choque externo (pandemia), Lula enfrenta um desgaste interno, diretamente ligado à condução da economia. Isso significa que sua popularidade — e suas chances em 2026 — dependerão menos dos adversários e mais de como o eleitor sente o impacto da economia em seu bolso. Para melhorar essa percepção, o governo aposta em medidas como a isenção do IR e a ampliação do crédito consignado para trabalhadores CLT, que deve atingir 42 milhões de eleitores. A ampliação de programas sociais pode se tornar uma opção para o governo, dependendo do impacto dessas medidas.

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