Os riscos para Haddad com Gleisi assumindo a articulação política

A deputada Gleisi Hoffman (PT-PR) toma posse na tarde desta segunda-feira (10/3) como ministra das relações institucionais e uma das grandes questões é sobre se a vinda dela ao Planalto é um sinal de isolamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Se na política nem sempre a vista é o melhor termômetro do fato, no caso da incorporação de Gleisi ao núcleo palaciano, as nuances são ainda maiores do que as habituais.

Interlocutores do governo e do petismo ouvidos pelo JOTA estão com visões diferentes sobre esse movimento. Uma ala do governo e do petismo entende que o movimento do presidente Lula ao trazer a ex-presidente do PT para o Planalto visa diminuir o fogo do partido contra Haddad, ao mesmo tempo em que ela promove as articulações políticas mirando o pleito de 2026. A ideia de Edinho Silva sucedendo Gleisi no comando do PT – defendida por Lula a despeito da polêmica interna no partido e com mandato tampão do senador Humberto Costa (PT-PE), que tem se mostrado mais próximo de Haddad, reforçam essa tese.

Fontes também ressaltam que se a Gleisi que assume o posto palaciano nesta tarde for a mesma da campanha de 2022, com uma postura mais aberta a dialogar com outras forças políticas e dando sinalizações mais ao centro, a vida de Haddad ficará mais fácil. Na área econômica também há quem compartilhe essa leitura, embora em um misto de análise com torcida.

Outro grupo de interlocutores entende que a aguerrida ex-presidente do PT pode até chegar na SRI falando manso e parar de atacar publicamente a política econômica conduzida por Haddad, diferente do que vinha reiteradamente fazendo no comando do partido, mas não vai mudar como pensa. Ou seja, ainda que interna e reservadamente, ela não deixará de polarizar a política econômica com o ministro da Fazenda.

O problema é que agora ela estará a poucos passos do gabinete presidencial e, por mais que ela sempre tenha se mantido com interlocução forte junto a Lula, a proximidade física na linguagem da política em Brasília importa muito. E isso reforçaria os sinais de isolamento de Haddad em um Planalto que tem o ministro da Casa Civil, Rui Costa, já permanentemente em atrito com a Fazenda.

Fontes reforçam que a deputada tem capacidade camaleônica e que, se Lula determinar, ela será contida no debate econômico. Mas isso dependerá muito de qual será efetivamente o comando presidencial e o quanto ele quer ouvir as teses mais à esquerda da ministra. Especialmente com a eleição de 2026 cada vez mais clara no horizonte e a tese de boa parte da classe política, do petismo ao bolsonarismo, passando pelo centrão, de que o ajuste fiscal não ganha eleição.

O momento é de esperar. No curto prazo parece que a tese do alívio a Haddad tende a prevalecer, mas no médio prazo, especialmente se a economia realmente esfriar muito no segundo semestre, os riscos para a trajetória fiscal preconizada pelo chefe da economia crescem.

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