Questionado sobre nota do PT sobre eleições da Venezuela, Celso Amorim disse que ‘não pensa daquela maneira’

Assessor especial para assuntos internacionais disse que presidente Lula leva em conta outros fatores além da opinião do partido para governar o Brasil. “Nós não vivemos em um regime de partido único, felizmente. Vivemos em um regime plural”, disse. Celso Amorim comenta nota do PT sobre Venezuela
O assessor especial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assuntos internacionais, Celso Amorim, questionado sobre a nota do partido do presidente, que reconheceu a reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela, disse nesta quarta-feira (7) que “não pensa daquela maneira”.
“Eu pessoalmente não penso daquela maneira, exatamente. Talvez o ângulo pelo qual você vê, quando você representa ou quando você está num Estado é diferente do ângulo que você vê quando você está em um partido político.”
Em entrevista ao Estúdio i, Amorim também disse que “não está preocupado” com a nota divulgada pelo PT. “É [uma nota] do partido do presidente, mas ele governa o país. Então, ele tem que levar em conta outros fatores além da opinião do partido. Nós não vivemos em um regime de partido único, felizmente. Vivemos em um regime plural. É normal saber que tem pessoas que pensem assim e é uma corrente política importante no Brasil.”
Temor por conflito
Amorim também disse temer “um conflito muito grave” na Venezuela.
“Eu temo muito que possa haver um conflito muito grave. Não quero usar a expressão guerra civil, mas temo muito. E eu acho que a gente tem que trabalhar para que haja um entendimento. Isso exige conciliação. E conciliação exige flexibilidade de todos os lados”, disse Amorim em entrevista para o Estúdio i.
Sobre o processo eleitoral, ele disse ser “lamentável que as atas não tenham aparecido” após o término das eleições venezuelanas. Ele disse que falou sobre isso, inclusive, com o Nicolás Maduro.
“Eu disse isso para o presidente Maduro. Eu tive com ele no dia seguinte da eleição e perguntei sobre as atas. Ele me disse que seriam publicadas. Depois encontraram esse caminho pela Justiça. Eu tenho que confessar a minha ignorância, não compreendo bem ainda o que a Justiça vai fazer.”
O assessor especial também criticou a prisão de uma chefe regional de campanha do bloco de oposição venezuelana, que ocorreu na noite desta terça-feira (6), de acordo com a oposicionista María Corina Machado.
Brasil lamenta que atas não tenham aparecido, diz Amorim
O chanceler afirmou ainda que os presidentes de Brasil, México e Colômbia podem falar com o candidato de oposição, Edmundo González, que concorreu com o presidente atual, Nicolás Maduro.
“Eu acho que é mais importante os três presidentes conversarem entre si e saber bem como encaminhar uma conversa que pode ser com o Maduro, mas pode também ser com o candidato da oposição em algum momento”, afirmou Amorim.
Atuação como observador
O assessor especial de Lula viajou à Venezuela para acompanhar o processo eleitoral no país no dia 28 de julho. Logo após o pleito, ele reforçou o pedido do governo brasileiro para a Venezuela publicar integralmente as atas da eleição presidencial, uma espécie de boletim das urnas.
O Brasil se posicionou ao lado de México e Colômbia, que divulgaram uma nota conjunta na quinta-feira (1º), pedindo a divulgação de atas eleitorais na Venezuela. A nota pede também a solução do impasse eleitoral no país pelas “vias institucionais” e que a soberania popular seja respeitada com “apuração imparcial”.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, Maduro foi reeleito com 51,95% dos votos, enquanto seu opositor, Edmundo González, recebeu 43,18%. A oposição e a comunidade internacional contestam o resultado divulgado pelo órgão eleitoral e pedem a divulgação das atas eleitorais. Segundo contagem paralela da oposição, González venceu Maduro com 67% dos votos, contra 30% de Maduro.
Com base nessas contagens, Estados Unidos, Panamá, Costa Rica, Peru, Argentina e Uruguai declararam que o candidato da oposição venceu Maduro.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) também não reconheceu o resultado das eleições presidenciais. Em relatório feito por observadores que acompanharam o pleito, a OEA diz haver indícios de que o governo Maduro distorceu o resultado.
Na terça-feira (6), González afirmou ter ganhado as eleições no país e, nesta quarta, disse que não comparecerá a uma audiência judicial no Tribunal Supremo de Justiça para a qual ele havia sido convocado.
Ele acusou ainda o Tribunal Supremo — composto por juízes em maioria alinhados ao regime de Maduro — de usar o Judiciário para “‘certificar’ resultados que ainda não foram produzidos de acordo com a Constituição e a lei, com acesso dos partícipes às atas originais.
O regime de Maduro disse que o oposicionista pode receber uma ordem de prisão caso não compareça. Mais de 1,2 mil pessoas foram presas após os protestos que tomaram o país depois das eleições. Maduro disse que González e a líder da oposição, María Corina Machado, deveriam “estar atrás das grades”.
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Chefe de campanha presa
Chefe de campanha da oposição da Venezuela faz transmissão ao vivo de prisão
Uma chefe regional de campanha do bloco de oposição venezuelana foi presa na noite desta terça-feira (6), de acordo com a oposicionista María Corina Machado. O partido Vente Venezuela, de Corina Machado, confirmou a prisão da coordenadora regional, identificada como María Oropeza.
Oropeza fez uma transmissão ao vivo mostrando, segundo ela, o momento de sua detenção. “Eu não fiz nada de errado”, disse a coordenadora na transmissão (veja abaixo).
No vídeo, feito de dentro de um imóvel, a chefe de campanha mostra um grupo de homens arrombando a porta do local. Após conseguirem abri-la, os homens, alguns encapuzados, sobem uma escada em direção a María Oropeza sem nem falar nada nem mostrar ordem de prisão.
O partido Vente Venezuela afirmou que não foi apresentada nenhuma ordem judicial e que Oropeza foi “sequestrada” por forças do regime de Maduro.
Oropeza é chefe da campanha de Edmundo González no estado de Portuguesa, no noroeste da Venezuela. Ela coordenava a campanha de María Corina Machado antes de a oposicionista ser impedida de concorrer à presidência do país, em janeiro, pelo Tribunal Supremo da Venezuela, alinhado ao regime de Maduro.
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