O que futebol tem a ver com governança nas empresas?

O Brasil ama o futebol. O esporte está profundamente enraizado na nossa cultura, identidade e história. Nas últimas semanas, um dos assuntos mais comentados entre nós foi o retorno do jogador Neymar ao time do Santos.

Mais do que uma simples paixão, o futebol requer estratégia, trabalho em equipe e, acima de tudo, organização. Para que um time tenha sucesso dentro e fora de campo, ele precisa de uma estrutura sólida, com cada parte do sistema desempenhando seu papel de forma clara e eficiente.

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Em paralelo, uma empresa precisa de um modelo de governança empresarial bem estabelecido para garantir que seus objetivos sejam alcançados de forma sustentável e transparente.

Se imaginarmos uma empresa como um time de futebol, podemos traçar um paralelo entre as estruturas de governança e a organização do clube. Para que uma equipe vença campeonatos, não basta ter grandes jogadores. São necessários um técnico competente, uma diretoria bem estruturada, um comitê técnico qualificado e o apoio de uma torcida engajada.

No mundo dos negócios, esse mesmo princípio se aplica: a empresa precisa de líderes estratégicos, um conselho de administração eficiente e atuante, acionistas informados e engajados e processos bem definidos.

No futebol, os donos ou investidores de um clube são os responsáveis por garantir os recursos financeiros necessários para contratar jogadores, manter a estrutura do time e investir no desenvolvimento do grupo.

Nas empresas, essa função é desempenhada pelos acionistas, que investem dinheiro no negócio e esperam retorno financeiro. Eles não participam da gestão do dia a dia, mas confiam no conselho de administração e na equipe executiva para que suas expectativas sejam atendidas. Assim como um clube precisa manter um bom relacionamento com seus investidores para garantir apoio contínuo, uma empresa precisa de transparência e boa comunicação com seus acionistas para manter suas fontes de financiamento para crescimento.

O técnico principal é o líder visível do time, mas ele não trabalha sozinho. Existem muitos profissionais nos bastidores, como preparadores físicos, treinadores, analistas de desempenho, médicos esportivos etc. Se os acionistas são os donos do clube, o conselho de administração é como o técnico do time e os vários profissionais do corpo técnico. Eles não entram em campo para jogar, mas tem um papel fundamental na definição da estratégia, escolha dos jogadores e planejamento de longo prazo. Esse grupo precisa avaliar o desempenho de cada um do time, corrigir falhas táticas e garantir que o time esteja preparado para os adversários.

No mundo corporativo, o conselho de administração desempenha um papel semelhante. Ele estabelece as diretrizes estratégicas da empresa, acompanha o desempenho dos executivos e toma decisões importantes sobre investimentos e o futuro da organização. Assim como um técnico deve ter experiência e visão de jogo para liderar a equipe, os conselheiros precisam ter conhecimento e vivência em gestão, visão de futuro e capacidade de escuta ativa e diálogo para encontrarem o melhor caminho para a empresa.

Se o conselho de administração define a estratégia, são os jogadores que executam o plano tático dentro de campo. No mundo corporativo, essa função é desempenhada pela diretoria executiva, liderada pelo CEO (o capitão do time). Eles são responsáveis por transformar as diretrizes estratégicas em ações concretas, garantindo que a empresa atinja seus objetivos e entregue resultados para os acionistas.

Assim como em um time de futebol cada jogador tem uma posição específica e precisa desempenhar bem sua função para que a equipe tenha sucesso. O atacante precisa marcar gols, o zagueiro deve proteger a defesa e o goleiro precisa estar atento para evitar falhas. Se um jogador não cumpre seu papel, o desempenho do time é comprometido.

Nas empresas, se os executivos não trabalham de maneira alinhada, a empresa pode enfrentar dificuldades financeiras, problemas na execução, no mapeamento dos riscos, no desenvolvimento da inovação, no nível de serviço aos clientes etc.

No futebol, não basta ter um bom time se não houver regras claras. O jogo precisa de um regulamento bem definido, que garanta que todas as equipes tenham condições justas de competir. O impedimento, as faltas e os cartões vermelhos existem para evitar que jogadores tirem vantagem de maneira desleal.

Na governança empresarial, as regras do jogo são representadas pelos princípios de transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Esses princípios garantem que a empresa seja administrada de forma ética, protegendo os interesses dos acionistas, funcionários, clientes e da sociedade em geral. A transparência é essencial para que os investidores saibam como a empresa está sendo gerida. A prestação de contas garante que os executivos respondam por suas decisões. A equidade assegura que todos os acionistas tenham direitos iguais. E a responsabilidade corporativa reforça a importância de uma gestão sustentável e ética.

Quando essas regras não são seguidas, o resultado pode ser tão desastroso quanto um pênalti mal cobrado em uma final de campeonato. Escândalos financeiros, corrupção e má gestão podem levar empresas à grandes prejuízos, assim como a falta de disciplina pode fazer um time perder um título.

Em qualquer jogo, o árbitro tem o papel de garantir que as regras sejam cumpridas. Ele fiscaliza o comportamento dos jogadores, marca faltas, distribui cartões e valida os gols. No futebol moderno, o VAR entrou em cena para aumentar a precisão das decisões.

No mundo empresarial, essa função é desempenhada pelos auditores e órgãos reguladores. Eles analisam as demonstrações financeiras, verificam se as empresas estão cumprindo as leis e asseguram que a governança está sendo aplicada corretamente.

Se um jogador faz um gol em posição irregular e o árbitro não percebe, o time adversário pode ser prejudicado. Da mesma forma, se uma empresa manipula seus balanços e ninguém fiscaliza, os investidores podem sofrer grandes perdas. Casos como o da Americanas ou do ex-diretor financeiro do Itaú são exemplos de como a falta de controles pode levar empresas a severos danos. Já vimos grandes partidas serem comprometidas por erros de árbitros.

Por último, mas não menos importante: a torcida. Nenhum time de futebol sobrevive sem ela. Os torcedores são apaixonados, acompanham cada jogo, compram ingressos, produtos oficiais e lotam estágios. Mas nos momentos tensos, também sabem pressionar a diretoria por melhores resultados.

No mundo dos negócios, os stakeholders desempenham um papel semelhante. Eles incluem funcionários, clientes, fornecedores, órgãos reguladores e toda a comunidade onde a empresa está inserida. Se a empresa não trata bem seus stakeholders, pode perder credibilidade e como resultado a boa condição de competir. Uma torcida insatisfeita pode protestar, deixar de apoiar o time e até boicotar jogos. Da mesma forma, consumidores insatisfeitos podem boicotar produtos, investidores podem vender suas ações e funcionários podem decidir deixar a empresa.

No futebol, os torcedores só enxergam os 90 minutos de jogo, mas a verdadeira preparação começa muito antes: nos treinos, nas reuniões técnicas e nos planejamentos estratégicos. Na governança nas empresas, as grandes decisões não acontecem apenas nas reuniões do conselho, mas principalmente nos comitês, onde os temas são discutidos de forma aprofundada antes de chegarem à mesa principal.

Os conselhos mais eficazes são aqueles que entendem que os comitês são como os departamentos técnicos de um time de futebol: eles preparam o caminho para bom resultado, garantem que todos os membros contribuam e tomam decisões estratégicas antes que o jogo comece. Uma empresa bem governada é como um time bem treinado cada jogador tem seu papel e sabe o que fazer na hora certa. Sem estrelismo. Bola na rede.

Assim como no futebol, uma empresa só pode ganhar partidas e campeonatos se todos os elementos da governança estiverem funcionando de maneira harmoniosa. Acionistas, conselheiros, executivos e reguladores desempenham papéis fundamentais para garantir que a organização atue de forma sustentável e responsável.

Nos negócios ou no esporte, o que define o resultado não é apenas o talento individual, mas sim a estratégia, o planejamento, o trabalho duro em equipe, a ética e o respeito às regras. No jogo da governança, vencer de forma limpa e bem estruturada é o verdadeiro gol de placa.

Se Neymar trará resultado ao Santos, isso só o tempo irá dizer, mas a expectativa de patrocínios e aumento de receita para o clube é enorme. A pergunta é se Neymar conseguirá desempenhar em alto nível no campo. O Santos agora tem o desafio de garantir que o retorno desse investimento traga valor sustentável para o clube. Governança e futebol têm mesmo tudo a ver!

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