Líder do governo na Alesp prevê foco em privatizações e defende reeleição de Tarcísio

Ex-presidente da Assembleia de São Paulo (Alesp), o deputado estadual Gilmaci Santos (Republicanos) assumiu a liderança do governo Tarcísio de Freitas em 2024, depois que Jorge Wilson deixou o posto para se dedicar à campanha, frustrada, à prefeitura de Guarulhos. Para muitos, foi um alívio ter uma figura mais experiente para navegar as disputas entre a Casa Civil e a Secretaria de Governo.

Gilmaci tenta evitar o contraste com o correligionário e traça uma linha de continuidade. Admite que as tensões na base devem crescer com a proximidade da eleição de 2026 e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas aposta que tudo convergirá para a manutenção da aliança de direita e centro no estado.

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Em entrevista ao JOTA sobre as perspectivas para o governo na Alesp, que voltou do recesso esta semana, o deputado do Republicanos defende a PEC que permitiu o remanejamento de recursos da educação para a saúde e vê papel reduzido da Casa na crise da segurança.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Quais são as prioridades do governo Tarcísio para 2025?

Muitos projetos importantes do governo pra esses quatro anos já foram aprovados. É o caso da [privatização da] Sabesp, da PEC 09, da reforma administrativa, entre outros. Mas eu acredito que entre os principais projetos talvez sejam as PPPs, as concessões, essas linhas do metrô que vão entrar, algumas concessões de rodovias completas, como no caso da Nova Raposo e outras rodovias. PPPs de escolas.

A concessão das escolas, especificamente, tem gerado críticas da oposição, do sindicato, dos professores, e até de alguns alunos e pessoas preocupadas com as consequências que isso possa ter. Como justificar privatizar a administração das escolas em um momento em que o governo conseguiu aprovar na Alesp a PEC que reduziu potencialmente o recurso para a educação?

Mas se nós pegarmos o recurso para a educação no orçamento de 2024 pra 2025 não houve nenhuma redução. Pelo contrário. Tem mais dinheiro. E também, acho que é um equívoco, talvez as pessoas estejam sendo mal informadas. E a crítica não é total, não. Eu conversava com uma mãe, uns dias atrás, e ela, sem eu tocar no assunto, disse: “olha, parabéns pelo que o governo está fazendo. Minha filha estuda na escola particular e a partir do ano que vem, com essa PPP, ela vai voltar para a escola pública”. Porque a diferença será mínima. O conteúdo escolar será dado pelos professores, pela Secretaria de Educação. O que o estado vai privatizar? Segurança, manutenção, merenda, tudo que envolve não o conteúdo escolar. E eu acho que vai ficar muito bom. O professor, o diretor, não tem que se preocupar em ficar arrumando banheiro, telha quebrada, iluminação. O professor vai se preocupar em preparar a aula para os alunos. Tem um equívoco aí de informação, de coisas que as pessoas não entenderam.

O senhor tem razão, houve um aumento da educação, comparando 24 com 25. No caso da saúde, houve aumento de 20%, na educação, aumento de 3%, abaixo da inflação. É justificado esse reforço à saúde em detrimento da educação?

Não em detrimento da educação. Não estamos tirando dinheiro da educação. Mas é necessário esse reforço imediato na saúde. A saúde é um caos — municipal, estadual e federal —, um caos. E todo o dinheiro que você coloca ali não é o suficiente. E a educação não. Tem municípios que chegam no final do ano, o prefeito tem que ficar fazendo malabarismo para poder gastar o dinheiro, se não tem que devolver para o Tesouro, o Estado, a União. Faz até besteira, compra coisas que não deveria, investe em coisas que não deveria. Então, eu acredito que seja um equívoco também essa história de que vai faltar para a educação. Não vai faltar. E quanto mais a gente puder trazer dinheiro para a saúde, mais importante é.

O governo acabou de aprovar a PEC da Saúde e Educação com uma votação muito alta, bem acima do que era necessário, especialmente no segundo turno. A que o senhor atribui esse aumento da margem do governo na base, aqui na Assembleia, nos últimos meses?

O governo, na verdade, já tem essa margem. Se você pegar a votação da Sabesp, se eu não me engano, foram também 62, 63 votos. Então, você vê que bateu essa margem também com a PEC: 63, 64 [votos]. Isso porque nós tínhamos aí quatro deputados da base que estavam de licença, viajando, poderia ter chegado a uns 67, 68.

Mas o governo está tendo consistentemente mais vitórias, com margens maiores nos últimos meses.

Mas talvez seja a maneira de o governo explicar, trazer as pessoas, os deputados tirando as suas dúvidas, se aproximando, talvez seja isso. Seja mais essa proximidade. Mais o diálogo constante.

Diminuiu também a reclamação de deputados sobre o ritmo de liberação de emendas.

Mas as emendas são apenas um compromisso que o governo tinha. Só cumpriu o compromisso que tinha firmado lá atrás, que nem foi comigo.

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Existe alguma PEC prevista para 2025?

Não tem previsão. Mas vamos sentar, voltar às atividades para ver qual é a realidade do governo.

Nos últimos meses, um dos assuntos que mais dominaram a repercussão na imprensa sobre o governo foram os episódios de violência policial. Existia uma expectativa de que talvez o governo mandasse o projeto para facilitar a aposentadoria de coronéis, fazer uma renovação maior do oficialato da PM. O senhor vê perspectiva de que isso aconteça agora?

Olha, o governo propriamente nunca tinha dado nenhum sinal de que enviaria esse projeto. A gente ouve zunzunzum de que tem o projeto sendo preparado, que já está pronto, mas o governo mesmo nunca falou comigo, ou com alguém que estava mandando o projeto. Eu ouvi através de policiais, eles falando, delegados que querem se aposentar, que estão doidos para se aposentar, mas o governo nunca falou comigo. Mas eu acredito que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Se o governo tem intenção de fazer isso, vai acontecer a qualquer momento.

O senhor, como líder do governo, como enxerga as iniciativas da oposição de pedir o impeachment do secretário de segurança Derrite, fazer pedido de CPI? E existe alguma coisa que a Assembleia possa fazer para responder a essa crise?

É uma crise do Executivo. Eu acho que a Assembleia, dentro da prerrogativa dela, nesse momento eu não vejo o que fazer. Fazer eu sei que é uma questão…

Nem CPI?

Não, a CPI é um jogo político da oposição também. Eu, particularmente, não acredito em CPI. Isso é uma questão pessoal. Seja de um lado ou do outro. Eu até brinco sempre: qual foi a CPI que deu o mesmo resultado que você conhece? Não existe. Não é a CPI que deu o resultado concreto. A CPI mais famosa, a CPI da Covid. Um circo armado, né? Cadê a CPI? O que aconteceu? Nada, nada, nada, nada. Tem um relatório que você manda depois para o Ministério Público.

Não foi positiva a investigação e a discussão pública do que aconteceu na pandemia?

A discussão pública ali pra holofote. Qual foi o resultado? Não teve resultado concreto. Só o político. Se estiver na frente, ok. Então, a oposição está na dela, fazer o barulho de pedir CPI, pedir impeachment. Na minha opinião, acho que eles exageraram. Mas, é a minha opinião, mas é o direito deles também pedir impeachment. Claro, juridicamente não tem nenhuma condição de prosperar. Mas, estão certos, eles são oposição. Estão fazendo a parte que lhes cabe.

O governo Tarcísio tem uma coalizão muito grande de direita e de centro. A impressão que temos é que ele é o único que consegue segurar os interesses diversos e manter esse grupo em 2026, numa reeleição. O senhor considera que o governador está se encaminhando para a reeleição ou tem planos presidenciais?

Ele confirmou no Canal Livre que é candidato à reeleição. Lógico que na política tudo pode acontecer. Mas acho que é a intenção dele [concorrer à reeleição] e acho que é o correto também. Se eu for chamado para falar, eu gostaria que ele fosse para a reeleição. E vai chegar o momento certo. Eleição é sempre difícil. Mas talvez não tenha tanta dificuldade quanto ao Tarcísio. Até conseguir achar outro nome, fazer essa coalizão como você falou. Então, acho que o Tarcísio está no caminho certo, e o correto hoje é ir para a reeleição.

E essa coalizão se mantém unida mesmo com as discussões já em andamento sobre Senado e vice? Dá para contemplar todo mundo?

Essa discussão de Senado e vice, lógico, vai ter que passar por ele também. Mas aí você vai ver que todos os partidos que fazem parte desse grupo aí têm seus interesses. Não é crise, mas é um momento difícil, de todos sentarem à mesa, todos têm os seus interesses. Alguém vai ter que ceder em algum momento. Então, é uma coisa que lá no futuro vai pegar um pouquinho, com certeza. Mas acho que vai se manter, pela liderança do Tarcísio, um governo bem avaliado. Não vai ter tanta dificuldade. Vai acabar se acertando.

O senhor é correligionário do governador. Ele continua no Republicanos, na sua visão?

Sim. Em nenhum momento acho que nós ouvimos o Tarcísio falando que tinha intenção de sair do Republicanos. Isso saiu mais de outros partidos que têm interesse de desestabilizar o Republicanos. Mas o Tarcísio sempre se manteve fiel internamente no partido. Ele sempre deixou claro que não tinha a menor intenção sair.

E o senhor tem intenção de sair da Assembleia e ir para o Tribunal de Contas?

Eu tenho intenção de terminar esse mandato. O demais é o que vier. Eu não faço planos não. Deixa as coisas acontecerem.

E as suas prioridades para 2025?

Politicamente, manter aqui fazendo um bom trabalho na Assembleia. Procurar nesse restante de mandato fazer o que a gente sempre faz. Procurar apresentar o mandato, estar mais próximo. A gente sempre teve que estar mais próximo ainda da sociedade, visitar os municípios, ajudar esses prefeitos novos que estão chegando, a maioria com dificuldade. E os que foram reeleitos também com dificuldade. Isso politicamente. Então as prioridades são essas: continuar fazendo um bom trabalho aqui na Assembleia à frente da liderança do governo.

O senhor é político desde antes do crescimento da direita bolsonarista, um fenômeno que se manifesta aqui na Alesp também. Com a perspectiva de julgamento do ex-presidente pelo STF este ano, o senhor espera alguma tensão na Assembleia? E o posicionamento do governador Tarcísio sobre o tema pode causar tensões com o governo federal?

Não.

Nem pela defesa que Tarcísio faz de Bolsonaro? E se o ex-presidente for condenado por tentativa de golpe de Estado?

Você vê que o Tarcísio sempre foi uma pessoa bem ponderada em relação a isso. Ele faz a defesa, mas ele não é um radical. Ele faz uma defesa, e eu acho que uma defesa de maneira até veemente, muitas vezes…

Mas não é radical defender alguém acusado de golpe de Estado?

Mas ele não defende assim… Bolsonaro é acusado. Acusado é condenado? Acusado não é condenado! Acusado pode estar acusado, mas daqui a pouco se prova inocente. Então tem que ter muita calma. E eu acho que o Tarcísio, dentro da posição dele, acho que ele está perfeito, correto em fazer essa defesa, defendendo a democracia, defendendo o Bolsonaro. Mas você nunca viu ele defender o Bolsonaro veementemente em relação a isso. Eu nunca vi. Nem na imprensa. Nem em lugar nenhum o Tarcísio fazer essa defesa. Ele fala o que tem de falar com o Bolsonaro, que é um bom presidente, etc, etc. E que o Bolsonaro é o candidato a presidente e que ele é o candidato a governador. Eu acho que as tensões vão aumentar um pouquinho em 2025, e principalmente no ano da eleição. Mas você vê que nós não temos aqui um radicalismo grande, nós temos pessoas, algumas pessoas, de um lado ou do outro.

Na Alesp havia algumas reclamações de deputados sobre o que eles viam como porta dupla, duplo comando da coordenação política do governo, Casa Civil e Secretaria de Governo. O senhor acha que isso evoluiu?

Eu só ouvi falar, eu nunca entrei em detalhes dentro do Palácio para saber a realidade. Eu, praticamente, converso com todos. Eu converso com a Casa Civil, eu converso com a Secretaria de Governo. E o meu relacionamento com os dois é sempre bom. Todas as minhas demandas são atendidas.

Mas o senhor acha que as atribuições para o deputado são claras de quem está negociando, quem está fazendo o compromisso e quem entrega?

Sim, o governador.

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