Bolsonaro enfrenta dissidências na direita e age para controlar escolha de candidato em 2026

No momento em que comemora a mudança de ventos externos e a crise de popularidade do governo Lula, a oposição enfrenta a tensão entre o desejo de centralização dos Bolsonaros e os planos de protagonismo de outros políticos. Para 2026 e para decisões que precisam ser tomadas já.

Impedido de viajar aos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro passou o dia da posse de Donald Trump envolvido na disputa interna com aliados, criticando publicamente o plano do senador Marcos Pontes (PL-SP) de se lançar à Presidência do Senado, furando o acordo do PL com David Alcolumbre (União-AP).

“Está pensando lamentavelmente em você, Marcos Pontes. Sabemos dos problemas, mas está pensando em você. Mais nada do que em você. É lamentável isso aí. Quando você não tem uma vaga na Mesa você está dando para o outro partido de oposição a nós. Por uma missão pessoal. É lamentável isso aí. É uma coisa rara de eu falar: Eu elegi você. Eu elegi você, em São Paulo.”

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Para Bolsonaro, o episódio é mais um round na luta contra os “intergaláticos”, apelido dos que, segundo ele, tentam se apresentar como estrategistas e “puros”. “Pega mal para todos nós. Porque [dizem]: ‘blá, blá, blá, o Bolsonaro, não sei o que lá’, pelo amor de Deus, pô! É a realidade! Vamos entrar numa guerra? Temos que saber qual a arma do inimigo e quais são as nossas. Boa sorte a você [Marcos Pontes]. Mas não é um trabalho em equipe”.

A irritação do ex-presidente é maior sempre que a secessão vem acompanhada, como no caso do senador, do apelo a um discurso ideológico, livre de “acordos” e “conchavos” da cúpula do PL. Ocorre que é Bolsonaro o fiador dos acordos, no compartilhamento de poder com Valdemar Costa Neto, presidente do partido.

O episódio seminal de choque entre as direitas foi a resistência de figuras como Ricardo Salles ao apoio do PL a Ricardo Nunes, em 2024.

Bolsonaro, que preferia um direitista-raiz, acabou aceitando indicar o vice para a reeleição do prefeito. A insatisfação latente na base estourou com o crescimento de Pablo Marçal, que se apresentou como legítimo candidato antissistema. A rápida adesão de grupos bolsonaristas ao ex-coach, mesmo contra apelos do ex-presidente, foi um baque para quem se via como a referência inconteste da direita digital.

Depois de acenos dúbios a Guilherme Boulos no segundo turno, o apelo de Marçal caiu nos grupos. Mas o exemplo ficou. E os radares bolsonaristas tentam captar qualquer sinal de dissenso. Em especial de qualquer possível pré-candidato em 2026.

O dogma é claro: Jair Bolsonaro será o candidato. Inelegível ou não. Vagas esperanças de uma anistia no Congresso ou de uma reversão judicial por pressão externa mal-disfarçam o plano de controlar até o último momento o processo de escolha do nome da direita contra o PT. Seja um filho, seja a mulher. Ou até um governador, desde que ungido diretamente pelo ex-presidente. E dependente dele para se conectar com o eleitor de direita.

Por isso, as hostes digitais mais próximas a Carlos Bolsonaro monitoram as publicações de Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado e, desde domingo, partiram para cima de Romeu Zema. O governador de Minas cometeu o pecado de dizer em entrevista que deseja concorrer à Presidência em 2026 e reclamou da “indefinição” da direita.

Potência digital, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) é blindado da desconfiança de que possa ser candidato a presidente na próxima eleição por não ter idade para disputar o pleito. Mas o destaque de seu vídeo sobre o Pix causou ciúmes em grupos mais bolsonaristas nas redes. O que tornou mais negativa a recepção a um vídeo de segunda-feira em que apareceu ao lado de Marçal, nos EUA.

Apoiador do ex-coach em 2024, mesmo contra a posição do próprio partido, Nikolas foi apresentado pelo aliado como futuro presidente. Em 2034. Mas também falou de uma PEC para reduzir para 30 anos o requisito para concorrer ao Senado. O mesmo projeto, que tem pouca chance de passar por um Senado que não tem incentivo para dar chance a novos desafiantes de seus integrantes, também prevê baixar em cinco anos a idade para a Presidência da República.

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Dez minutos depois de deplorar a “covardia” de “porcarias” que, segundo ele, ignoram “perseguições” e tentam escantear o ex-presidente, Carlos Bolsonaro fez novo tuíte nesta terça para deixar claro que não se referia a Nikolas.

Mas advertiu: “É um dos poucos que está nessa batalha e por ser jovem o utilizam de forma sorrateira. Que aprenda cada vez mais rápido, pois o Brasil precisa de seu constante amadurecimento e que pare de cair na sujeira diária desses oportunistas que estão todos de mãos dadas sempre de forma linear e temporal.”

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