Dengue no Brasil: o que esperar para 2025 e como o Ministério da Saúde se prepara

Como medida para se antecipar ao período de incidência da dengue no país, o Ministério da Saúde começou a lançar planos de ações para mitigar os riscos e evitar o aumento de casos e óbitos em decorrência da doença. Em 2025, o cenário apontado pela pasta é de que seis estados brasileiros – São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Paraná – ainda podem ter incidência de dengue maior que o ano passado. Em 2024, o país registrou mais de 6,6 milhões de casos, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses da Saúde.

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De acordo com a pasta, por conta do aumento de casos no Brasil durante os próximos meses, muitas vezes ocasionados por conta das questões climáticas, deverá haver um investimento de R$ 256 milhões no fortalecimento da vigilância das arboviroses.

Neste ano, o Ministério da Saúde aponta para 52.938 casos diagnosticados de dengue no Brasil e quatro mortes confirmadas até a tarde de quinta-feira (16/1). No mesmo período em 2024, porém, o número de casos confirmados chegou a 112.956, com 102 mortes provocadas pela doença.

A maior incidência de casos, neste momento, está concentrada na região Sudeste, conforme vem monitorando a pasta. O estado de São Paulo, por exemplo, até o momento registrou 28,4 mil casos prováveis de dengue. No ano passado, a região concentrou 59% dos casos registrados no Brasil.

Um estudo mediado pelo Observatório de Clima e Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também aponta que a dengue vem se alastrando para o Sul e o Centro-Oeste do Brasil. Os dados da pesquisa mostram que os mapas de ondas de calor e de anomalias de temperatura coincidem com as áreas de maior incidência da enfermidade nas regiões nos dois últimos anos.

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No país, são endêmicos os sorotipos 1 e 2 da dengue, mas em 2024 os quatro tipos do vírus foram identificados no país. Segundo o Instituto Butantan, um outro fator alarmante é que a volta de sorotipos da doença que já não circulavam há anos no Brasil – como os 3 e 4, que não apareciam desde 2003 e 2013, respectivamente – pode se tornar um risco latente, com potencial para provocar novos picos de casos em todo o país.

Planos para combater e mitigar os riscos da dengue

Na última quinta-feira (9/1), como uma das medidas para mitigar os riscos da doença, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para Dengue e Outras Arboviroses. Segundo a pasta, o COE será responsável pelo planejamento de ações para antecipar o período sazonal da dengue, adequar as redes de saúde, prevenir casos e mortes e reforçar as medidas preventivas.

Além disso, o COE também coordenará as respostas a situações críticas em constante diálogo com estados, municípios, pesquisadores, instituições científicas e outros ministérios. Outra alternativa para ampliar as medidas de combate à dengue foi o lançamento do Plano de Contingência Nacional para Dengue, Chikungunya e Zika.

De acordo com a Saúde, o objetivo do Plano é garantir uma preparação adequada para conter o avanço das doenças. Por sua vez, o documento traz orientações para a elaboração de planos regionais, estaduais e municipais, levando em conta as especificidades do contexto epidemiológico e dos arranjos socioambientais, além de incorporar experiências e iniciativas locais e regionais.

O Ministério da Saúde também tem coordenado diversas ações em todo o território nacional para o controle das arboviroses. Entre as principais iniciativas destacam-se:

  • A ampliação do uso de tecnologias de controle do vetor;
  • Expansão do método Wolbachia, de 3 para 40 cidades até 2025;
  • Implantação de insetos estéreis em aldeias indígenas;
  • Borrifação residual intradomiciliar (BRI-Aedes) em áreas de grande circulação, como creches, escolas e asilos;
  • Instalação de 150 mil Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs) na primeira fase do projeto;
  • Uso de Bacillus Thuringiensis Israelensis (BTI) para monitoramento e controle da disseminação do mosquito;
  • No Distrito Federal, estão sendo instaladas cerca de 3 mil EDLs na região do Sol Nascente, com expansão prevista para outras áreas periféricas.

Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o objetivo é coordenar o planejamento e a resposta por meio do diálogo constante com estados, municípios, pesquisadores e instituições científicas, além de outras pastas. Além do implemento dessas tecnologias, a pasta espera intensificar as campanhas educativas sobre a dengue.

Compra de vacinas

Também no dia 9/1, o Ministério da Saúde anunciou a compra de 9,5 milhões de doses de vacina contra a dengue para o ano de 2025, desenvolvida pela farmacêutica Takeda, a Qdenga. Incorporada pela pasta no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2023, o imunizante, no entanto, não é utilizado em larga escala, uma vez que o fabricante afirmou que tem uma capacidade restrita de fornecimento de doses.

Atualmente, a vacina está sendo ofertada ao público de 10 a 14 anos, que detém a maior concentração do número de hospitalizações em decorrência da dengue após o grupo da população idosa. Entretanto, segundo informações do Ministério da Saúde, não há a previsão da ampliação da faixa etária do público-alvo no SUS.

O parecer final da Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias (Conitec) para incorporação da vacina foi dado em uma reunião em dezembro de 2023, levando em consideração o cenário epidemiológico e a necessidade, segundo o Ministério, de incluir mais uma alternativa ao enfrentamento da dengue. Ainda que houvesse limitação na capacidade de entrega do número de doses por parte da fabricante, a Comissão julgou relevante a oferta do imunizante no SUS.

O imunizante Qdenga tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com indicação para prevenção de dengue causada por qualquer sorotipo do vírus para pessoas de 4 a 60 anos de idade, independentemente se houve ou não exposição prévia à doença.

Estoque de vacinas contra a dengue em laboratórios privados

Caso haja interesse em se imunizar, as pessoas que estejam dentro da faixa de imunização indicadas pela Anvisa podem buscar alternativas, como os laboratórios e farmácias. No setor privado, as doses da vacina são ofertadas entre R$ 350 e R$ 500, mas o estoque é limitado.

Procurado pelo JOTA, o Grupo DPSP, responsável pelas marcas Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo, informou por meio de nota que possui em estoque “unidades de vacinas da dengue suficientes para aplicação da segunda dose aos clientes que tomaram a primeira aplicação na rede. Filiais que solicitam reforço de segunda dose para atender demandas locais são reabastecidas em até três dias”.

A reportagem também entrou em contato com o Hospital Albert Einstein e com o Grupo Fleury, mas não obteve retorno até o momento de publicação da matéria.

À espera da vacina do Butantan

Além da vacina da Takeda, há certa expectativa das autoridades sanitárias em relação ao imunizante do Instituto Butantan, que encaminhou no último 16/12 o pedido de registro da Butantan-DV à Anvisa. Se aprovada, esta será a primeira vacina contra dengue do mundo em dose única.

Ensaios clínicos demonstraram 79,6% de eficácia do imunizante no tratamento de casos de dengue sintomática, e uma proteção de 89% contra dengue grave ou com sinais de alarme. Os estudos indicam ainda eficácia e segurança prolongadas por até cinco anos.

Segundo o instituto, a expectativa é de entregar cerca de 100 milhões de doses ao Ministério da Saúde nos próximos três anos. A vacina será fabricada no Centro Bioindustrial do Butantan, que foi inspecionado e teve suas instalações aprovadas pela Anvisa.

“É um dos maiores avanços da saúde e da ciência na história do país e uma enorme conquista em nível internacional. Que o Instituto Butantan possa contribuir com a primeira vacina do mundo em dose única contra a dengue mostra que vale a pena investir na pesquisa feita no Brasil e no desenvolvimento interno de imunobiológicos”, disse na ocasião o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás.

Após a análise pela agência, o instituto deve encaminhar a vacina para aprovação de preço na Câmara de Regulação de Mercado de Medicamentos (CMED). Depois disso, a Conitec avaliará a sua incorporação ao SUS.

Cenário epidemiológico da dengue

O Ministério da Saúde alerta que a infecção por dengue gera uma doença que pode ser assintomática ou apresentar formas mais graves, podendo até mesmo evoluir ao óbito. Dentre os principais sintomas da forma viral, estão a fraqueza muscular, sonolência, recusa da alimentação e de líquidos, vômitos, diarreia ou fezes amolecidas.

Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), até junho de 2023 ocorreram 2.162.214 de casos e 974 mortes por dengue no mundo. No ano anterior, em 2022, foram notificados 2.803.096 casos de dengue na Região das Américas, sendo a maior parte deles no Brasil, com cerca de 2.383.001 casos. O país liderou a ocorrência de formas graves, assim como a Colômbia.

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