Na Dinamarca, o conceito de felicidade vai além de um simples estado de espírito. O país, frequentemente citado em rankings internacionais como um dos mais felizes do mundo, destaca-se por práticas culturais que promovem o bem-estar coletivo e individual. Entre os principais nomes ligados a esse tema está o dinamarquês Meik Wiking, que atua como CEO do Instituto de Pesquisa da Felicidade, e foi descrito pelo jornal The Times como “o homem mais feliz do mundo“.
Wiking é também o fundador do Museu da Felicidade em Copenhague e tornou-se referência ao abordar hábitos que favorecem o equilíbrio emocional. Entre os elementos centrais de sua abordagem estão duas palavras do vocabulário dinamarquês: “hygge” e “pyt med det”. Ambas expressam maneiras singulares de lidar com o cotidiano e influenciam diretamente a forma como os dinamarqueses encaram desafios e buscam satisfação nas pequenas coisas.
O que significa “hygge” e como ele influencia o bem-estar?

O termo hygge é uma das palavras mais emblemáticas da cultura dinamarquesa. Embora não tenha tradução exata para o português, pode ser entendido como um sentimento de aconchego, conforto e prazer proporcionado por situações simples do dia a dia. Momentos como compartilhar uma refeição com amigos, acender velas em casa durante o inverno ou desfrutar de uma tarde tranquila são exemplos clássicos de experiências consideradas “hyggelig”.
Segundo especialistas no mundo, o hygge está profundamente ligado à valorização das pequenas alegrias e à criação de ambientes acolhedores. Esse conceito estimula as pessoas a desacelerarem, apreciarem o presente e cultivarem relações mais próximas. A prática regular de hygge é apontada como um dos fatores que contribuem para os altos índices de satisfação relatados pela população dinamarquesa.
Como “pyt med det” ajuda a lidar com adversidades?
Outra expressão fundamental no vocabulário dinamarquês é pyt med det, que pode ser traduzida como “não faz mal” ou “deixa pra lá”. Essa filosofia incentiva a aceitação de situações que fogem ao controle, evitando o acúmulo de estresse e frustrações desnecessárias. Em vez de insistir em buscar a perfeição ou remoer problemas, os dinamarqueses tendem a adotar uma postura mais leve diante dos obstáculos cotidianos.
O uso frequente de pyt med det contribui para um ambiente emocionalmente mais saudável, pois permite que as pessoas sigam em frente sem carregar o peso de pequenas contrariedades. Essa mentalidade é considerada um dos pilares para a manutenção do equilíbrio emocional e da saúde mental no país.
Quais desafios ainda existem na busca pela felicidade no mundo?
Apesar da reputação de país feliz, a Dinamarca enfrenta desafios relacionados à saúde mental, especialmente entre os jovens. Dados recentes do Instituto de Pesquisa da Felicidade indicam que uma parcela significativa da população relata sintomas de sofrimento emocional. Entre jovens de 16 a 24 anos, os índices de transtornos mentais têm chamado a atenção de especialistas e autoridades.
Mesmo assim, quando comparados a outros países, os números dinamarqueses ainda são considerados baixos. Em lugares como Rússia e França, a proporção de pessoas em sofrimento é superior. Isso sugere que, embora o país enfrente dificuldades, as práticas culturais e sociais contribuem para um cenário mais favorável em termos de bem-estar.
- Definição e Medição da Felicidade: Um dos desafios fundamentais é a dificuldade em definir e medir a felicidade de forma universal. A felicidade é um termo amplo e subjetivo, e o que significa ser feliz para uma pessoa pode ser diferente para outra. Wiking sugere que precisamos desmembrar o conceito em componentes, como a satisfação geral com a vida e as emoções diárias, além de considerar a ideia aristotélica de uma vida com propósito.
- O “Paradoxo da Felicidade” e a Desigualdade: Embora alguns países sejam consistentemente classificados como os mais felizes, ainda existem desigualdades significativas na felicidade dentro dessas nações e em todo o mundo. Meik Wiking aponta que, em muitos países, a desigualdade na felicidade aumentou. Isso sugere que, mesmo em lugares com altos níveis de bem-estar geral, nem todos experimentam a mesma qualidade de vida. Ele também aborda o “paradoxo da felicidade-suicídio”, que observa uma correlação entre países felizes e altas taxas de suicídio, indicando que a felicidade não é uma experiência uniforme.
- A Ilusão da Felicidade Constante: Wiking enfatiza que é uma “ilusão infeliz” esperar estar extremamente feliz o tempo todo. Ele argumenta que sentimentos negativos como tristeza, raiva e desconforto fazem parte da experiência humana e que até mesmo especialistas em felicidade os experimentam. O desafio é reconhecer que a felicidade não é um estado de êxtase contínuo, mas sim uma satisfação geral e contentamento com a qualidade de vida.
- O Impacto do Dinheiro vs. Outros Fatores: Embora a riqueza possa desempenhar um pequeno papel na felicidade, Wiking destaca que, a partir de certo ponto de renda, outros fatores se tornam muito mais importantes. Ele critica a busca singular por mais riqueza como um caminho para a felicidade, enfatizando a necessidade de focar em amizades, saúde mental e física, boa governança e caridade.
- Condições Externas vs. Escolhas Individuais: Wiking ressalta que a felicidade não é apenas uma escolha individual. Fatores como o país em que vivemos, as políticas governamentais e até mesmo nossa predisposição genética desempenham um papel significativo. Ele usa o exemplo da Síria para ilustrar como as condições externas podem tornar a busca pela felicidade extremamente difícil, mesmo com as melhores intenções individuais.
- A Natureza do Trabalho: Para Wiking, a relação entre trabalho e felicidade é “complicada”. Ele destaca que o desemprego está consistentemente ligado a níveis mais baixos de felicidade e que encontrar propósito e autonomia no trabalho é crucial. O desafio é criar ambientes de trabalho que promovam o bem-estar e o senso de propósito, tanto para os indivíduos quanto para as organizações.
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Quais hábitos e ambientes que promovem o bem-estar?
De acordo com Meik Wiking, a busca pela felicidade no mundo não está em eliminar todos os problemas, mas em adotar hábitos que proporcionem segurança e acolhimento. O incentivo à convivência, a valorização de momentos simples e a aceitação das imperfeições são estratégias recorrentes na sociedade dinamarquesa.
- Criação de ambientes aconchegantes: O uso de iluminação suave, decoração acolhedora e espaços confortáveis são práticas comuns.
- Valorização das relações interpessoais: Reuniões com amigos e familiares são frequentes e consideradas essenciais para o bem-estar.
- Prática do desapego a pequenas frustrações: Expressões como “pyt med det” ajudam a manter o equilíbrio emocional.
Esses elementos, aliados a políticas públicas de bem-estar social, formam a base do modelo dinamarquês de felicidade. A experiência do país mostra que a busca por satisfação pode estar mais próxima do cotidiano do que se imagina, sendo possível encontrar bem-estar em atitudes simples e acessíveis.
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