Planos de saúde tiveram alta de 271% no lucro em 2024, mostra ANS

As operadoras de saúde obtiveram um lucro líquido 271% maior em 2024 em comparação a 2023. Os dados foram apresentados na tarde desta terça-feira (18/3), em uma apresentação realizada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

De acordo com a agência, o setor registrou lucro líquido de R$ 11,1 bilhões em 2024, aumento de 271% em comparação com o ano anterior, quando registrou lucro líquido de R$ 3 bilhões. De acordo com a agência, o dado equivale a cerca de 3,16% da receita total acumulada no período, que foi de aproximadamente R$ 350 bilhões.

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“Nos números agregados, o desempenho econômico-financeiro é o mais positivo para o período desde 2020, o primeiro ano da pandemia de Covid-19”, destacou, durante a apresentação, Washington Oliveira Alves, gerente da Gerência de Habilitação e Estudos de Mercado (GEHAE) da ANS.

Os dados da agência também revelaram que as operadoras médico-hospitalares foram as principais responsáveis pelos resultados atingidos, somando lucro líquido de R$10,2 bilhões. Por outro lado, as empresas de autogestão tiveram prejuízo operacional de cerca de R$2,1 bilhões, ainda maior do que o registrado um ano antes. Mais dados podem ser obtidos no Painel Econômico-Financeiro da Saúde Suplementar.

“Os dados de 2024 refletem um setor que se reequilibra financeiramente após os desafios dos últimos anos. A recuperação do resultado operacional das operadoras médico-hospitalares e a estabilidade dos rendimentos financeiros indicam um ambiente mais sustentável. A ANS segue monitorando de perto os indicadores econômico-financeiros para garantir que essa trajetória de recuperação se traduza em maior previsibilidade e solidez para o setor, sem comprometer o equilíbrio entre receitas e despesas assistenciais e o atendimento dos beneficiários”, analisa o diretor de Normas e Habilitação das Operadoras da ANS, Jorge Aquino. 

Reações

A melhora econômica das operadoras de saúde do país em 2024 reflete o esforço das empresas do setor, defende a Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde). “A saúde suplementar foi intensamente desafiada depois da pandemia da Covid-19 (…), mas as operadoras foram bem-sucedidas no esforço de buscar mais racionalidade nos custos e maior sustentabilidade”, destacou em nota a diretora-executiva da entidade, Vera Valente.

Para a entidade, o resultado positivo pode ajudar a criar um ambiente mais estável e benéfico aos usuários, gerando maior previsibilidade e melhores condições para a oferta de planos. “Também favorece toda a cadeia dos prestadores de serviços privados de saúde, alimentada majoritariamente pelos recursos vindos das operadoras”, ressaltou a entidade em nota.

A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) também acredita que os dados confirmam uma importante recuperação econômico-financeira das operadoras de planos de saúde, em especial as maiores, mas ressalta que ainda é necessária uma profunda reforma no sistema. “Seguimos com padrões ultrapassados de modelos de pagamentos: não se valoriza nem se remunera qualidade, e não são utilizados indicadores que permitam avaliar o que está sendo entregue a 52 milhões de brasileiros”, afirmou em nota o grupo.

A entidade também reforça que a saúde suplementar é um sistema mais complexo do que parece, que envolve outros atores importantes, além dos planos de saúde. “Os prestadores de serviço, porta por onde circulam as demandas e as dores dos pacientes, não podem ser prejudicados. Já que os números melhoraram, espera-se que agora as boas notícias possam chegar também aos hospitais”, reforçou a Anahp.

Já a deputada estadual Andrea Werner (PSB-SP), presidente da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Alesp, defende que os dados da ANS colocam em contraste duas situações.

“Por um lado, a arbitrariedade das milhares de denúncias de cancelamento unilateral de apólices de pessoas em tratamento por parte das operadoras, situação que a própria agência reguladora, e também o meu mandato na Alesp, temos recebido desde 2023”, afirma. “Por outro lado, esse lucro hipermaximizado das operadoras torna ainda mais explícita a omissão da gestão passada da agência que deveria regular esse setor, mas, lamentavelmente, deixou o usuário ser prejudicado, ao ponto de um lucro quintuplicado de um ano para o outro ser a prova cabal disso em um contexto de crescente negativa de tratamentos e descumprimento de liminares judiciais”, acrescenta.

Ativista pelo direito das pessoas com deficiência há mais de uma década, ela   conta que pelo seu gabinete passaram, nos últimos dois anos, 1,5 mil denúncias de cancelamento unilateral de planos, “sem contar as centenas de casos de descumprimento de liminares, reajustes abusivos – alguns, chegando a ultrapassar 400% — e descredenciamento massivo de clínicas e profissionais sem equivalência de qualidade do tratamento”.

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