CPI das bets: padre influencer diz que vício em bets é ‘caso de saúde pública’

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as plataformas de apostas onlines (bets) no Senado, nesta terça-feira (21/5), o padre e influenciador digital Patrick Fernandes alertou para os danos sociais e psicológicos decorrentes da ludomania – também conhecida como jogo patológico ou vício em jogos de azar – pode causar em jovens e famílias.

Para Fernandes, o crescimento da prática no Brasil se tornou um “caso de saúde pública”. Ele destacou que houve um aumento significativo nos últimos anos na procura por tratamentos de transtorno de jogo, com destaque para casos que envolvem depressão, abstinência e ansiedade.

“Hoje a ludomania é classificada como uma doença, um transtorno mental, que é justamente o vício nos jogos e os estragos que isso pode causar na vida de uma pessoa. E é isso que está acontecendo de forma muito não velada, mas de forma rasgada mesmo, e assim a gente está testemunhando isso”, disse o padre.

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Segundo o senador Izalci Lucas (PL-DF), mais de 1,4 milhão de brasileiros têm transtorno de jogo, sendo que, desses, 66,8% representam um “uso problemático ou de risco”.

O padre Patrick, como é conhecido nas redes sociais, pediu para depor para trazer um contraponto a outros influenciadores que estiveram na CPI, como Virginia Fonseca e Rico Melquíades. Fernandes avaliou que influenciadores que aceitam fazer publicidade para bets exploram a vulnerabilidade dos mais pobres. “Quem está ficando rico, com certeza, é quem está divulgando […] quem está tomado pelo vício do jogo são pessoas humildes”, afirmou.

O influenciador afirmou ter recebido uma proposta para fazer divulgar um site de apostas, mas a recusou por princípios éticos e religiosos. Ele afirmou que lhe foi oferecido R$ 460 mil para divulgar a plataforma para os seus 6,6 milhões de seguidores no Instagram.

Ele refutou o conceito de jogo responsável, amplamente usado pelas empresas, e comparou os danos causados pelo transtorno de jogo aos do vício em drogas. “Uma pessoa viciada em uma droga acaba trazendo um prejuízo para o pai, para a mãe, para os irmãos, para a família inteira. E esses jogos também estão fazendo isso na vida de muitas pessoas e a gente tem visto isso se alastrar de uma forma, assim, como nunca antes foi vista”, afirmou.

Acrescentou ainda que a publicidade massiva, aliada com possível “desespero” ou “falta de lucidez”, reforça a percepção das apostas online como uma forma de investimento.

“Você vê ali uma possibilidade de você recuperar algo que você perdeu ou de pagamento de uma dívida grande que você tem”, afirmou. “Já escutei relatos sobre você pedir dinheiro para agiota para poder investir, e aí ganhar alguma coisa com que você vai pagar o que você está devendo”, completou.

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Além disso, ressaltou que homens e jovens de baixa renda são os mais atingidos, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, e que, geralmente, as esposas que buscam ajuda para os familiares com transtorno de jogo.

A relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) chamou a atenção para a urgência em combater o transtorno de jogo como uma epidemia moderna, assim como aconteceu como o tabagismo nos anos 1980. “Nós estamos num trabalho para desestimular a jogatina no nosso país, tal qual aconteceu com o cigarro. Uma campanha muito forte diminuiu o tabagismo”, afirmou a relatora.

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