Se a imagem do general Freire Gomes, criada a partir do relatório da Polícia Federal (PF) e da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), era de um comandante incisivo e com papel central para impedir a tentativa de golpe de estado de 2022, capitaneada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, não foi a mesma ideia que ele passou no depoimento prestado nesta segunda-feira (19/5) no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em frente ao relator, ministro Alexandre de Moraes, Freire Gomes foi mais evasivo nas respostas dadas aos questionamentos do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e dos advogados dos réus. Contudo, mesmo tentando se esquivar sobre os momentos mais importantes para a construção da trama golpista, ele confirmou os principais tópicos: as reuniões de Bolsonaro com os chefes das Forças Armadas e com o ministro da defesa, a existência de uma minuta de golpe, que ele se negou à ruptura institucional e que o então comandante da Marinha Almir Garnier Santos se colocou à disposição do golpe.
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Já no início do depoimento, o advogado de Freire Gomes alertou que o depoimento dado à Polícia Federal se alongou por mais de 10 horas e que se o mesmo ocorresse no STF, ele gostaria de alguma pausa. No STF, a oitiva durou cerca de duas horas.
No fim da sessão, o ministro Luiz Fux questionou se o tempo do depoimento dado à PF prejudicou às declarações e o general disse que “estava preparado psicologicamente” e que “uma ou outra coisa pode não ter ficada esclarecida, mas não houve má intenção nem do delegado, nem minha”. Além de Fux, a ministra Cármen Lúcia e o ministro Cristiano Zanin acompanharam os depoimentos.
Um dos tópicos que Freire Gomes mais se esquivou foi sobre a prontidão do almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, de se colocar à disposição de uma tentativa de golpe proposta pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Freire Gomes disse que não sabia o que o almirante Garnier Santos quis dizer quando afirmou a Bolsonaro que se “colocaria à disposição” após a apresentação do plano golpista. Na sequência, Moraes o interpelou dizendo que a testemunha não poderia mentir. “Ou o senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando aqui”, afirmou. Moraes lembrou que Freire Gomes é militar e “preparado para lidar com pressão”. Após a advertência de Moraes, Freire Gomes disse: “com 50 anos de exército, eu jamais mentiria”.
Diante das declarações pouco assertivas, Moraes fez uma espécie de checagem final da declaração do general, tentando objetivar as respostas do militar. Perguntou se ele confirmava a reunião de Bolsonaro com os chefes das Forças Armadas e com o então ministro da defesa, Paulo Sérgio Nogueira e se houve a leitura dos considerandos do decreto golpista. Recebeu um “confirma” como resposta. Apenas sobre Almir Garnier Santos que Freire Gomes voltou a titubear: disse que o almirante havia se colocado à disposição, mas que houve uma interrupção abrupta da reunião.
O depoimento de Freire Gomes era um dos mais esperados no primeiro dia de depoimentos na ação penal sobre a tentativa de golpe. As testemunhas começaram a depor na segunda-feira (19/5) e há oitivas marcadas até 2 de junho.