O papel estratégico do Brasil e das empresas nacionais na transição global para a economia circular foi pauta da sessão “Rumo à Circularidade: Políticas, Inovação e Experiências Empresariais”, dentro World Circular Economy Forum 2025. O objetivo do encontro – que contou com representantes do Sebrae, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), braço da Organização das Nações Unidas (ONU) – foi apresentar como práticas empresariais já em curso podem acelerar essa transformação por meio de inovação, sustentabilidade e articulação entre setores público e privado.
Esta sessão de aceleração é fundamental porque traz o empresariado brasileiro para o centro do debate global. O Sebrae contribui com a perspectiva dos pequenos negócios, enquanto CNI e Senai apresentam os desafios e as soluções da indústria. Este encontro mostra como podemos articular experiências complementares para acelerar a circularidade no Brasil.
Camila Andrade, técnica do Centro Sebrae de Sustentabilidade.
No segundo painel, os participantes debateram as barreiras e oportunidades para a implementação da economia circular no Brasil. A CNI apresentou os resultados de uma pesquisa inédita feita em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que revelou que 85% das indústrias brasileiras já adotam pelo menos uma prática circular, ainda que 83,49% dos participantes não conheçam formalmente o conceito.
Os principais benefícios apontados pelas empresas incluem redução de custos operacionais (35%), melhoria da imagem corporativa (32%) e estímulo à inovação de produtos e processos (30%). Entre as principais barreiras estão as econômicas, como o alto custo de financiamento, as tecnológicas e as culturais, com destaque para a baixa conscientização dos consumidores.

“Esses dados são muito importantes para nortear decisões. Há 15 anos, o Sebrae trabalha a sustentabilidade de forma institucional e estruturada, e há muito mais tempo atua com essa pauta. A economia circular é uma agenda urgente, especialmente para os pequenos negócios, que formam a espinha dorsal da economia brasileira”, destacou André Luiz Spinelli Schelini, diretor-técnico do Sebrae-MT. Ele ressaltou ainda que iniciativas como o programa estadual Carbono Zero, em parceria com a FAPEMAT, têm meta de alcançar 20 mil pequenas empresas com diagnóstico de descarbonização até o final do ano.
Fausto Ricardo Keske Cassemiro, gerente adjunto de Políticas Públicas do Sebrae Nacional, reforçou a importância da articulação entre diferentes setores. “Foi muito importante o Sebrae estar aqui, trazendo a perspectiva dos pequenos negócios dentro de um fórum global. Essa transformação da economia linear para uma economia circular precisa ter os pequenos negócios como protagonistas. O papel das instituições é formar um ecossistema capaz de impulsionar essa mudança com políticas públicas, incentivos e conhecimento acessível”, assegurou.

Experiências de empreendedorismo circular
O painel também contou com especialistas como Aldo Ometto, professor da USP e coordenador do Centro de Pesquisa em Economia Circular do InovaUSP; Sissi Alves, diretora do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.; Wanderley Baptista, da CNI; e Claudio Schefer, da Embrapii.
As discussões reforçaram a necessidade de cooperação entre academia, empresas e governo para que o Brasil assuma uma posição de liderança na bioeconomia regenerativa, aproveitando seu potencial em biomateriais e tecnologias tropicais.
Ao fim da sessão, três experiências práticas ilustraram o potencial do empreendedorismo circular no Brasil. A Poiato Recicla, representada por Marcos Poiato, apresentou sua solução de transformação de bitucas de cigarro em papel biodegradável.
EcoDescarte, de Thiago Pegorini, demonstrou como a reutilização e a reciclagem de resíduos eletrônicos podem gerar renda e impacto ambiental positivo, inclusive com parcerias sociais como o apoio ao Hospital de Câncer de Cuiabá. Já The Human Project, de Giulia Santana, mostrou como cooperativas femininas em Sergipe vêm transformando resíduos plásticos em mobiliário escolar, fomentando inclusão, renda e design sustentável em comunidades locais.