
A quarta queda consecutiva nas projeções do IPCA para 2025, agora em 5,51%, trouxe certo alívio ao mercado e foi interpretada por analistas como um sinal de que o aperto monetário conduzido pelo Banco Central começa a surtir efeito. No entanto, especialistas ouvidos pela reportagem alertam: a inflação segue acima da meta, a taxa Selic continua elevada, e o cenário fiscal ainda representa um entrave relevante para uma reversão clara no ciclo de juros.
O que os economistas pensam sobre a inflação de 2025?
Para Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, os ajustes finos do Boletim Focus, que nas últimas semanas têm oscilado em margens de apenas 0,01%, indicam uma mudança na direção das expectativas inflacionárias. “Essa estabilidade sugere que a Selic não deve subir mais e que atingimos um ponto de equilíbrio. A partir de agora, o Banco Central deve manter uma postura conservadora até que tenha segurança de que a inflação está ancorada na meta, abrindo espaço para uma queda dos juros em 2026”, avaliou.
O CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, destaca que, embora o IPCA projetado para 2025 ainda esteja acima do teto da meta de 4,5%, a trajetória de desaceleração inflacionária é evidente. “A correção das expectativas mostra uma reancoragem parcial. O BC tem conseguido manter o controle da inflação, o que pode viabilizar cortes graduais na Selic, caso não haja choques externos.”
No entanto, há vozes mais cautelosas. André Matos, CEO da MA7 Negócios, relativiza o otimismo. “Ainda estamos acima da meta, e esse alívio pode ser apenas momentâneo. O risco fiscal segue elevado e o ambiente externo — com juros altos nos EUA e desaceleração global — continua desfavorável. O Banco Central está numa encruzilhada: precisa preservar a credibilidade sem sufocar a atividade econômica.”
Na mesma linha, Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, alerta que o Brasil está preso num dilema clássico. “Temos uma taxa de juros real altíssima, que desestimula consumo e investimento produtivo, mas ainda sem uma convergência clara da inflação. E os itens que mais pressionam o IPCA — como alimentos e medicamentos — são menos sensíveis à política monetária.”
A visão do empresariado também reflete esse cenário ambíguo. Para Jorge Kotz, CEO do Grupo X, mesmo com sinais de estabilidade no médio prazo, o ambiente de negócios permanece difícil. “Juros altos e crédito caro continuam afetando as operações das empresas. A solução passa por educação empresarial e gestão estratégica”, afirma.
Theo Braga, da SME The New Economy, acrescenta que, apesar do otimismo nas projeções, o custo do capital segue alto e o mercado permanece retraído. “O empresário que esperar estabilidade para agir pode ficar para trás. É hora de adotar modelos sustentáveis, com base em tecnologia e dados.”
A preocupação com a adaptação dos negócios ao cenário macroeconômico também foi destacada por João Kepler, da Equity Group. “Modelos sustentáveis e eficiência operacional são diferenciais cruciais neste momento de Selic elevada.”
Pedro Ros, da Referência Capital, reforça que, diante da dificuldade de acesso ao crédito tradicional, o caminho passa por alternativas mais estruturadas. “Soluções com garantias reais e menos burocracia são fundamentais para manter o crescimento.”
Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, conclui que o atual ambiente exige foco em ativos resilientes. “Estamos priorizando empresas com forte geração de caixa, soluções em IA e iniciativas ligadas à transição energética. É nesses setores que vemos valor diante da alta seletividade do mercado.”
Apesar de uma leve melhora nas expectativas, o consenso entre os analistas é claro: ainda não é hora de comemorar. A inflação caminha lentamente, os juros seguem em patamar restritivo e a situação fiscal continua como pedra no sapato da política monetária. O Banco Central, mais uma vez, se vê diante do desafio de calibrar os juros sem colocar em risco a já combalida recuperação econômica.
A taxa Selic pode subir ainda mais?
A maioria dos economistas ouvidos acredita que a Selic já atingiu seu ponto de equilíbrio. O cenário indica uma interrupção no ciclo de alta e manutenção da taxa elevada enquanto não houver segurança sobre a convergência da inflação à meta.
Quando os juros devem começar a cair?
De forma geral, os analistas apontam que uma queda mais consistente da Selic só deve ocorrer em 2026, caso o Banco Central tenha confiança nos dados e na estabilidade fiscal. A atual política monetária segue conservadora.
A inflação está sob controle?
Apesar das revisões para baixo no IPCA, a inflação segue acima do teto da meta, o que exige cautela. Especialistas veem o movimento como positivo, mas ainda insuficiente para indicar um ciclo sustentado de queda.