Nos EUA, reação e caos após o e-mail intimidador de Elon Musk

Órgãos emblemáticos, como o FBI, o Departamento de Estado e o Pentágono, impuseram, logo no começo da semana, obstáculos à ultima investida de Elon Musk, designado chefe do Departamento de Eficiência Governamental (Doge), na direção dos servidores públicos nos Estados Unidos.

Musk, estimulado por Donald Trump a ser cada vez mais agressivo, encaminhou e-mail a centenas de milhares de trabalhadores, no final da última semana, exigindo que, em 48 horas, eles enviassem explicações sobre as atividades feitas na semana anterior. No X, Musk disse que não responder seria compreendido como pedido de demissão.

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Porém, essas agências estratégicas, segundo a Associated Press, instruíram os empregados a não responder ao e-mail. Em outra frente, os sindicatos foram à Justiça, como ocorreu na Califórnia, para questionar a legalidade da ordem.

Segundo os representantes dos servidores, o e-mail não foi anunciado no Registro Federal como uma política ou um programa do governo. Assim, não estaria de acordo com as regras locais.

Na segunda-feira (24/2) à noite, a rede CNN informou que o Office of Personnel Management (OPM) notificou diferentes agências sobre o tema. Segundo a reportagem, a resposta ao e-mail de Musk é voluntária e a negativa em responder não é pedido de demissão. Mais cedo, Trump chegou a afirmar, no Salão Oval, da Casa Branca, que os servidores que não responderam ao e-mail estariam “semi-demitidos” ou “demitidos”.

Em paralelo à nova disputa, que só aumenta o caos no serviço público, emergem vozes de peso que consideram preocupante a forma como Musk e Trump têm direcionado a atuação do DOGE. O comentarista-chefe de Economia do Financial Times, Martin Wolf, escreveu artigo com o título “O que está acontecendo nos EUA é destruição institucional, não reforma”.

Para Wolf, com o que se pretende, “é inevitável o surgimento de uma mistura venenosa de incompetência, predação e corrupção”.

“Entre as características prejudiciais estará o que Daniel Kaufmann, pesquisador sênior da organização sem fins lucrativos Results for Development, chama de ‘captura do Estado’ –  a exploração do poder por aqueles que são capazes não apenas de dobrar as regras, mas de criá-las, para seu próprio benefício”, afirmou, em artigo reproduzido pelo jornal Valor Econômico, no último dia 19.

Em artigo no JOTA, antes mesmo da posse de Trump, o secretário de Transformação do Estado do Ministério da Gestão, Francisco Gaetani, um dos nomes mais respeitados nos estudos sobre o serviço público no Brasil, já antecipava uma avaliação no mesmo sentido.

“O momento exige atenção porque o início da segunda presidência Trump vai cegar a todos com suas terapias de choque. A possibilidade de se confundir interesses públicos e privados é muito grande. O discernimento é chave para que se compreenda o sentido das transformações desejadas e a disputa de agendas transformadoras burocráticas”, afirmou Gaetani, no final de 2024

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