Brasil adota cautela e se alinha a outros países para esfriar guerra comercial de Trump

O governo brasileiro optou pela cautela diante da ameaça dos Estados Unidos de taxar em 25% o aço e o alumínio que importam do mundo. A ordem, disparada pelo Palácio do Planalto ainda na noite de domingo (9/2) para toda a Esplanada dos Ministérios e tornada pública, nesta segunda-feira, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, é esperar a concretização de eventuais medidas antes de reagir.

O silêncio tem objetivos calculados, enquanto o Planalto mapeia as ações comerciais retaliatórias que podem ser anunciadas caso o cenário se confirme. No terreno interno, a postura se alinha à posição do setor produtivo, sobretudo dos exportadores brasileiros a serem afetados em um primeiro momento, que defendem que, agora, quanto menos se falar, melhor. O Brasil é o segundo maior fornecedor dos dois produtos para os Estados Unidos.

Este conteúdo foi antecipado para os assinantes corporativos do JOTA PRO Poder, uma plataforma de monitoramento político com informações de bastidores que oferece mais transparência e previsibilidade para empresas. Conheça!

O impacto sobre o Brasil, porém, iria além das exportações de aço em si. Se confirmada, a nova tarifa afeta vários países produtores, o maior deles inclusive, a China, que é também o maior importador de minério de ferro, um dos três principais itens da pauta de exportação brasileira. No ano passado, o preço da commodity caiu 25% justamente por conta da queda da demanda chinesa. A medida americana poderia precipitar ainda mais a queda da cotação e, no limite, tirar o minério do top 3 da balança brasileira, deixando em seu lugar o café, cujos preços dispararam. Tudo isso preocupa o governo e explica o silêncio. Curtos-circuitos têm o poder de agravar a situação.

A prudência do governo brasileiro também acompanha a estratégia traçada para a reeleição, que é a de tentar evitar disputas no cenário internacional que tenham impacto negativo sobre a avaliação de Lula. Qualquer reação precipitada, ou mal calibrada, poderia ser usada pela oposição como instrumento de desgaste em um momento já pouco favorável para Lula, cuja desaprovação supera a aprovação nas pesquisas mais recentes.

Isso explica o que levou a Fazenda a tomar medida pouco usual. Foi rapidamente a público desmentir nota publicada no jornal Folha de S.Paulo sobre a possibilidade de o Brasil retaliar os EUA taxando as big techs americanas. Dentro da equipe econômica, a informação foi interpretada como um capítulo da queda de braço entre áreas do governo para tentar avançar com uma proposta de regulação das empresas de tecnologia, sem consenso até aqui.

Por fim, a cautela do governo brasileiro ainda ecoa a reação de outros, como o Reino Unido e a União Europeia (UE), que vêm tentando fugir de uma guerra comercial sem estridência pública, mas com muita costura diplomática. “Ninguém sério no mundo está se antecipando aos fatos, vide UE”, afirmou uma fonte do governo brasileiro. Não se sabe até onde a estratégia vai funcionar.

Vale lembrar que, desde a posse de Donald Trump em 20 de janeiro, apesar das ameaças de tarifaço generalizado, somente a China foi penalizada com taxas de 10% sobre os produtos que vende aos americanos.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.