Demanda global por data centers triplicará até 2035, exigindo energia renovável e eficiência

De acordo com relatório recente do McKinsey, estima-se que, para atender o avanço acelerado da inteligência artificial e a massificação de serviços baseados em nuvem, a demanda global por data centers triplicará me menos de uma década. Não obstante, o relatório também aponta a sustentabilidade como uma preocupação crítica, destacando que a expansão só será viável se associada ao uso estratégico de energia renovável e à otimização da eficiência operacional desses centros.

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No Brasil, essa tendência é corroborada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), que já identificou um crescimento acelerado na demanda de energia elétrica para projetos de data centers, cujos pedidos de conexão para este segmento indicam uma demanda máxima que pode chegar 9 GW até 2035. Como bem observado pelo MME, o avanço desse setor exige planejamento estratégico para atender a necessidades específicas, incluindo a expansão da infraestrutura de transmissão e geração de energia renovável.

A expansão dos data centers, contudo, traz um desafio central: o elevado consumo de energia. Estudos da International Energy Agency (IEA) estimam que esses centros representem cerca de 1% a 2% do consumo global de eletricidade, cifra que deve crescer consideravelmente nos próximos anos. No Brasil, esse consumo tem impacto direto sobre o setor elétrico, exigindo não apenas maior capacidade instalada, mas também soluções sustentáveis para atender às expectativas ambientais e às políticas de descarbonização.

De fato, em um mundo cada vez mais atento à necessidade de práticas sustentáveis, os data centers enfrentam uma pressão para operar com base em fontes renováveis de energia. Empresas como Google, Microsoft e Amazon, por exemplo, já estabeleceram metas de neutralidade de carbono e implementam iniciativas de energia verde em suas operações globais.

Em dezembro desse ano, o Google, por exemplo, anunciou uma parceria que visa a construção de parques industriais com gigawatts de capacidade de data center nos Estados Unidos, co-localizados com novas usinas de energia limpa para alimentá-los.

A Microsoft, por sua vez, anunciou um investimento de R$ 14,7 bilhões no Brasil ao longo de três anos, com foco em infraestrutura de nuvem e inteligência artificial. Parte desse investimento será direcionada para iniciativas de sustentabilidade, incluindo o uso de energia renovável para data centers. Ambos os projetos demonstram como a integração de tecnologia, sustentabilidade e planejamento estratégico pode otimizar a operação de data centers.

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Nessa tendência de crescimento e adoção de práticas sustentáveis nos modelos de operação dos data centers, o Brasil desponta como um dos países mais bem posicionados para atender a essa demanda. Isso porque a participação de fontes renováveis na nossa matriz elétrica ficou em quase 90% no ano de 2023, ou seja, dispomos de fontes abundantes e limpas para geração da energia necessária para operação dos data centers.

Além disso, o país possui um arcabouço jurídico-regulatório avançado e consolidado, que incentiva e traz segurança para a celebração de contratos de compra de energia com escolha do supridor e tipo de energia, bem como para a implantação de projetos de geração a partir de fonte renovável. Nos projetos de geração destaca-se o modelo de autoprodução que, além de trazer os benefícios de isenção de uma série de encargos setoriais, permite a participação de investidores em diversas formas para garantir a viabilidade econômica e associação desses empreendimentos para atender à demanda dos data centers.

No entanto, mesmo com suas vantagens comparativas, o Brasil enfrenta desafios relevantes para consolidar essa liderança. Entre eles está a conexão desses projetos à rede elétrica, que exige aprimoramento no planejamento e na expansão da infraestrutura de transmissão e distribuição. Além disso, questões imobiliárias, como a aquisição de terrenos e a regularização fundiária, precisam ser superadas com estratégias colaborativas para possibilitar a implantação e otimização da localização das usinas e dos data centers.

De olho nesse mercado e potencial de atração de investimentos para o Brasil, o MME e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já começaram a se debruçar sobre esses pontos que precisam ser solucionados. A agência, por exemplo, abriu recentemente uma consulta pública que busca discutir medidas para aumentar a eficiência na alocação de custos de conexão e incentivar investimentos em infraestrutura, mediante a edição de um regulamento para inibir ocupações indevidas da rede, proteger os demais usuários de eventuais aumentos de tarifas e assegurar que o planejamento da expansão do sistema elétrico seja eficiente.

Nesse sentido, há propostas para estabelecer prazos de reserva e a inclusão de garantias financeiras por parte dos consumidores na solicitação de acesso, como forma de assegurar que apenas projetos viáveis ocupem a capacidade da rede.

Importante frisar que o regulamento resultado dessa consulta pública precisa se preocupar não apenas com a confiabilidade e segurança do sistema – tendo em vista que os data centers demandam acesso à energia ininterrupta e sistemas de resfriamento constantemente ativos; mas também com a celeridade e transformações características desses projetos, cuja previsão de demanda é um desafio num cenário de rápido crescimento das tecnologias de informação, processamento e armazenamento de dados.

Nesse cenário, o crescimento dos data centers no Brasil apresenta uma oportunidade única para alavancar soluções sustentáveis, fortalecendo nossa posição como protagonista global em energia limpa e liderando os esforços globais de descarbonização e de inovação no setor elétrico.

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