‘Crime da Berrini’: Condenada por mandar matar o marido, viúva conseguiu reduzir quase 300 dias de pena por trabalho e leitura de livros


Eliana Freitas Areco Barreto foi condenada a 21 anos de prisão por mandar matar o marido em 2015, mas conseguiu eliminar 296 dias da pena. Luiz Eduardo de Almeida Barreto e a mulher Eliana Freitas Areco Barreto, condenada pela morte do marido
Reprodução/Arquivo pessoal
Condenada a 21 anos de prisão por mandar matar o marido no caso que ficou conhecido como ‘Crime da Berrini’, a professora Eliana Freitas Areco Barreto conseguiu reduzir quase 300 dias da pena por trabalhos realizados dentro da prisão, estudos, além da leitura de pelo menos cinco livros.
De acordo com o cálculo de pena do Tribunal de Justiça, foram 296 dias remidos por Eliana devido atividades realizadas na prisão desde 2019. No dia 8 de novembro de 2021, Eliana conseguiu remir 122 dias da pena inicial devido a um período estudado entre agosto de 2019 e setembro de 2021.
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Ela também conseguiu remir outros 108 dias por um período trabalhado na prisão entre outubro de 2021 a maio de 2023. Em fevereiro deste ano, ela conseguiu reduzir ainda outros 46 dias por tempo de trabalho entre junho e dezembro do ano passado.
Nesse intervalo, a Justiça ainda considerou a remição de outros 20 dias pela leitura de cinco livros dentro do Programa de Incentivo à Leitura – Lendo a Liberdade, da Funap. As obras lidas por Eliana foram:
“A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector;
“Inocêncio e a Criança Divina”, de Valdi Ercolani;
“Lua de Mel em Kobane”, de Patrícia Campos Mello;
“O Diário de Anne Frank”, de Anne Frank; e
“O Rei Demônio”, de Cinda Williams Chima.
Na última sexta-feira (19), a defesa de Eliana pediu autorização na Justiça para que ela possa cursar Enfermagem em uma faculdade de Taubaté. O pedido aconteceu uma semana após a Justiça determinar que Eliana cumpra a pena no regime semiaberto (leia mais abaixo).
A reportagem acionou a defesa de Eliana Areco Barreto, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno.
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Progressão ao regime semiaberto
Eliana Freitas Areco Barreto conseguiu progredir para o regime semiaberto após decisão assinada pelo juiz José Loureiro Sobrinho no dia 12 de julho. No documento, o magistrado citou a comprovação de lapso temporal necessário e a boa conduta carcerária de Eliana. O juiz também apontou parecer favorável do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
A Secretaria da Administração Penitenciária informou que Eliana foi transferida para ala de progressão ainda no dia 12 de julho.
No início deste mês, o exame criminológico feito por Eliana foi anexado ao processo em que ela pedia a progressão ao regime semiaberto. O relatório apontava que Eliana apresenta comportamento condizente com as regras da instituição e não tem envolvimento em faltas disciplinares ou atitudes agressivas.
O exame apontou que a detenta tem inteligência acima da média, demonstrou amadurecimento e que assume sua responsabilidade pelo ocorrido. O documento ainda cita que ela atua como monitora de educação e que ela afirmou “que seu testemunho de vida pode auxiliar muitas reeducandas”.
O relatório da assistente social Daniele Couto de Oliveira apontou algumas características de Eliana, como:
calma;
demonstra possuir futuros sólidos e condizentes à sua realidade;
apresenta discurso lógico, coerente e sequencial;
autocrítica delitiva expressiva, reconhecendo os danos causados a terceiros e principalmente de não permitir o convívio dos filhos com o pai.
Já o relatório psicológico, assinado por Monique Zacharia Chagas, cita que a condenada se arrepende de “ter se envolvido com a pessoa errada”.
“No que se refere ao delito, refere arrependimento por ter se envolvido com a pessoa errada, assume sua responsabilidade frente ao ocorrido. Diz que embora não tenha cometido o ato, não fez nada para impedir que ocorresse”, diz o relatório.
O documento ainda cita que Eliana afirmou que, caso seja concedida a progressão ao regime semiaberto, “pretende iniciar uma faculdade de enfermagem, vislumbrando trabalhar com seus irmãos médicos no hospital que eles administram”.
A diretora técnica I do Núcleo de Trabalho e Educação do presídio destacou as atividades realizadas por Eliana na prisão, como serviços gerais de limpeza, artesanato, monitoria e o trabalho na unidade de confecção da Funap. Na avaliação da profissional, a detenta tem classificação “muito boa”.
“Trata-se, ainda, de uma reeducanda muito educada, que desempenha suas tarefas de forma satisfatória e mantém um bom relacionamento no ambiente ocupacional […]. Desta feita, o rendimento da reeducanda fica classificado como muito bom”, diz o documento, datado do último dia 20 de junho.
A diretora técnica II, Ludimila Martins Pombo Albanese conclui que Eliana “apresenta bom processo de amadurecimento, estando apta para o regime mais brando”.
Após o relatório, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), em documento assinado pelo promotor Silvio Brandini Barbagalo, emitiu parecer favorável à progressão de Eliana ao regime semiaberto.
“Trata-se de pedido de progressão de regime. Assim, tem-se: O lapso temporal foi cumprido. Consta dos autos exame criminológico favorável. É o breve relatório. Pelo exposto, tem-se que a sentenciada preencheu todos os requisitos legais, razão pela qual opina o Parquet pelo deferimento do pedido formulado”, diz o parecer.
Imagem de arquivo – Corpo de homem assassinado ao voltar do almoço na região da Avenida Luís Carlos Berrini
Glauco Araújo/g1
Pedido pelo semiaberto
O pedido da defesa da professora, que vivia em Aparecida (SP) na época do crime, foi feito no fim de março. Na solicitação, os advogados da mulher se apoiam no artigo 112 da Lei de Execuções Penais.
Esse artigo prevê que, em casos como o de Eliana – um crime hediondo cometido por réu primário – é preciso cumprir 40% da pena em regime fechado. Segundo a defesa da acusada, esse período se encerrou em 24 de março.
“O lapso temporal de 2/5 da pena da apenada será satisfeito (…) em 24 de março de 2024, motivo pelo qual vem requerer a determinação de transferência de Eliana Freitas para unidade de regime semiaberto”, diz um trecho do documento ao qual o g1 teve acesso.
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Além disso, os advogados citam que a professora tem boa conduta carcerária, o que ‘demonstra a efetividade do processo de ressocialização’.
“A apenada ostenta comportamento excepcional, tendo realizado uma série de atividades em busca de sua reintegração social, nada tendo registrado acerca de faltas disciplinares ou qualquer envolvimento faccional.”
Entre as atividades realizadas por Eliana Freitas na prisão estão oficinas de trabalho, como monitoria de cultura, serviços gerais e artesanato, além de participação também em oficinas de estudo, como clube de literatura.
Condenação
Inicialmente, a professora Eliana foi condenada a 24 anos de prisão, por homicídio doloso triplamente qualificado: pagar pelo crime, motivo torpe e dissimulação. Além disso, foi considerado o agravante do crime ter sido cometido contra o marido. O julgamento aconteceu em dezembro de 2020.
Em 2022, porém, a Justiça acatou um pedido da defesa da professora e reduziu a pena para 21 anos, 4 meses e 15 dias de prisão.
O crime
O Ministério Público (MP) acusou Eliana e o amante dela, o inspetor de segurança Marcos Fábio Zeitunsian, de contratarem o pistoleiro Eliezer Aragão da Silva por R$ 5 mil para simular um assalto e matar Luiz Eduardo.
A vítima foi morta a tiros na tarde do dia 1º de junho de 2015, quando voltava do almoço com um colega de trabalho, na rua James Watt, uma travessa da Avenida Luis Carlos Berrini, no Brooklin, área nobre da Zona Sul. O caso ficou conhecido como “crime da Berrini” numa referência à avenida.
Câmera gravou momento em que Eliezer Silva (à direita) atira em Luiz Eduardo (à esquerda).
Reprodução/Arquivo/TV Globo
De acordo com a Promotoria, o casal de amantes Eliana e Marcos decidiu mandar matar Luiz Eduardo porque a mulher queria se separar do empresário. Os dois planejavam se casar, morar juntos e ficar com o dinheiro da herança da vítima para abrir um negócio para o inspetor, segundo a acusação.
A professora e o empresário moravam em Aparecida, no Vale do Paraíba, mas ele trabalhava na capital. O casal teve dois filhos. Após o crime, a vítima foi enterrada em Guaratinguetá.
Confira aqui a condenação do amante de Eliana e do homem contratado para executar o crime
Imagem de arquivo – Eliana é levada em delegacia do Brooklin suspeita de participar da morte do marido Luis Eduardo Barreto (à direita)
Isabela Leite/G1 e Reprodução/Facebook
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