Proibidos de manter contato por determinações do Supremo Tribunal Federal (STF), os oito réus da ação penal sobre a tentativa de golpe em 2022 se encontrarão presencialmente a partir de segunda-feira (9/6) para os interrogatórios. Personagens centrais na trama golpista, segundo a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sentarão lado a lado, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente Mauro Cid e o general Braga Netto.
Contudo, o momento mais esperado será o encontro do ex-presidente Jair Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes. Os dois ficarão frente a frente além do sentido figurado. A disposição da sala da 1ª Turma foi modificada para os interrogatórios. Moraes sentará na cadeira da presidência e a tribuna onde os advogados fazem sustentações orais será substituída por uma mesa com duas cadeiras que serão ocupadas pelo réu interrogado e seu advogado.
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A previsão é a de que o ex-presidente seja o sexto a falar e ele tem dito aos apoiadores e à imprensa que não vai usar o direito ao silêncio e que deve responder às questões de Moraes. Durante o Encontro Nacional de Mandatárias do PL Mulher, na sexta-feira (6/6), o ex-presidente afirmou que vai contar o que aconteceu em 2022 e não vai lacrar, mas convocou apoiadores para assisti-lo, uma vez que haverá transmissão ao vivo.
“O que aconteceu em 2022, com toda certeza, será falado por mim quando ao vivo estiver no Supremo com cinco ministros na minha frente me cobrando. Vale a pena assistir, obrigado meu Deus por essa oportunidade. Conto com a audiência de vocês, deve ser na terça-feira a minha inquisição”, declarou.
A opção pela fala é uma escolha politicamente estratégica para o ex-presidente, que reacende não só o embate dele com Moraes como pode reforçar o discurso a apoiadores de que o ministro o persegue. Além disso, pode render bons cortes para as redes sociais. A narrativa seria similar ao vídeo do depoimento de Lula a Sérgio Moro, durante a Lava-Jato.
Os encontros de Bolsonaro vão além de Moraes. A princípio, o ex-presidente ficaria ao lado do delator Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. No entanto, na sexta-feira (6/6) a ordem das mesas foi alterada e eles não ficarão lado a lado. As mesas para réus e advogados que não estão sendo interrogados ficarão posicionadas atrás da tribuna. Assim, Cid ficará na primeira mesa e, ao seu lado, Alexandre Ramagem, seguido dos outros réus posicionados em ordem alfabética da direita para a esquerda.
Moraes ficará sentado na cadeira do presidente da 1ª Turma e ao seu lado ficarão Gonet e uma assessora. As demais cadeiras da bancada ficarão disponíveis para os ministros da 1ª Turma – Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux – que quiserem acompanhar as declarações dos réus.
Serão ouvidos nesta ordem:
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
- General Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.
No dia 18 de fevereiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas foram denunciadas por tentativa de golpe de Estado pela PGR. A denúncia foi dividida em cinco núcleos – o de Bolsonaro é o núcleo 1. O ex-presidente e os outros sete tornaram-se réus no dia 26 de março.
O grupo é acusado dos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.