O governo está mobilizando seu arsenal de comunicação para correr atrás das vítimas das fraudes no INSS e, assim, tentar estancar a crise provocada pelos descontos indevidos. O movimento ocorre enquanto pesquisas mostram que o impacto desse mais recente escândalo tem sido maior nos grupos de mensagens do que o da fake news do Pix, que contribuiu para derrubar a popularidade do presidente Lula na virada do ano.
O tema monopoliza as atenções da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) do Palácio do Planalto, comandada pelo publicitário Sidônio Palmeira, enquanto Lula cumpre agenda na China. O presidente retorna na próxima quarta-feira (14/5) ao país e demandou de sua equipe uma solução rápida para devolver o dinheiro desviado dos aposentados.
Ainda não está fechada a solução jurídica para que os ressarcimentos sejam feitos. Uma fonte graduada do governo disse ao JOTA na semana passada que o governo estuda assumir a “responsabilidade objetiva” pelas fraudes — uma interpretação da Constituição que permitiria ao Executivo ressarcir o dinheiro e depois correr atrás dos responsáveis pelos desvios.
Este conteúdo foi antecipado para os assinantes corporativos do JOTA PRO Poder, uma plataforma de monitoramento político com informações de bastidores que oferece mais transparência e previsibilidade para empresas. Conheça!
Mas o foco, agora, é a comunicação: primeiro, mobilizar os beneficiários a identificar se houve ou não descontos não autorizados em seus pagamentos; depois, continuar insistindo no discurso de que esse é um problema que teve origem no governo Jair Bolsonaro e que foi identificado pela atual gestão.
A partir desta terça-feira (13/5) o aplicativo do INSS começará a enviar notificações para os celulares de milhões de usuários pedindo que eles verifiquem se houve deduções indevidas em seus benefícios. Entretanto, há o entendimento de parte do governo de que uma grande parcela não usa o app. Assim, avalia-se enviar cartas aos aposentados e pensionistas com avisos semelhantes.
Também nesta terça-feira, o número de telefone 153 começa a funcionar para atender os beneficiários. Além disso, as agências dos Correios farão atendimento presencial não somente para registrar queixas, mas também para instruir as pessoas a identificar se houve ou não descontos não autorizados.
Presidente do INSS vai à Ana Maria Braga
Em outra frente, o governo tenta afinar o discurso sobre a crise e eleger porta-vozes para falar sobre a questão. O presidente do INSS, Gilberto Waller Junior, fará um giro por programas populares de TV e com alta audiência entre aposentados, também visando ensinar os beneficiários sobre como identificar se eles foram ou não vítimas das fraudes.
Inscreva-se no canal de notícias do JOTA no WhatsApp e fique por dentro das principais discussões do país!
A primeira aparição foi nesta terça-feira, no Mais Você, matinal da TV Globo apresentado por Ana Maria Braga. Mas não deve parar por aí. Está sob avaliação a participação de Walter Junior no Programa do Ratinho, do SBT. Porém, o Planalto está ressabiado com a postura crítica do apresentador, que além de tudo é pai do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), potencial candidato à Presidência em 2026.
A participação do presidente do INSS em outros programas ainda está sendo definida, além de inserções em rádios e do uso da Voz do Brasil para essa finalidade.
A crise continua
O escândalo que revelou o esquema de descontos ilegais em aposentadorias continua entre os temas políticos mais discutidos em grupos de WhatsApp, Telegram e Discord, segundo levantamento feito pela consultoria Quaest.
Três ondas de atenção se destacaram no estudo da Quaest: a primeira em 23 de abril, com o anúncio da operação pela PF; a segunda em 29 de abril, com a divulgação do relatório da operação; e a terceira em 6 e 7 de maio, impulsionada por um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que viralizou entre usuários, alimentando um tom fortemente crítico ao governo.
Assine gratuitamente a newsletter Últimas Notícias do JOTA e receba as principais notícias jurídicas e políticas do dia no seu email
Até 7 de maio, data final do levantamento, o tom das mensagens sobre a crise no INSS seguia majoritariamente negativo. As críticas ao governo representavam metade das postagens (50%), com 47% dos links compartilhados sendo notícias que reforçam a percepção de falhas na gestão realizada por Lula.
Na comparação com a repercussão da suposta taxação do Pix, nos primeiros 15 dias, os números aferidos mostram que as fraudes no INSS geraram um volume de mensagens 2,6 vezes maior nos grupos monitorados. Esse aumento significativo reflete o alto nível de engajamento e a intensidade dessa crise, evidenciando o potencial desgaste político que o escândalo pode gerar.
A defesa do governo é praticamente inexistente nesse ambiente: apenas 3% das mensagens analisadas são positivas ou alinhadas com as ações do Planalto. Esse desequilíbrio entre críticas e respostas explica a mobilização do governo nesta segunda-feira para reforçar sua estratégia de comunicação e minimizar os impactos da crise na imagem do presidente Lula, que já começa a receber números preocupantes de popularidade, podendo comprometer a recuperação de sua aprovação ainda neste semestre.